Há um equívoco no título da matéria de O Popular publicada no dia 26.03.20: “Pela primeira vez em 200 anos, Cavalhadas de Pirenópolis não serão realizadas”. Há uma diferença marcante entre a Festa do Divino e as Cavalhadas e isso precisa ser esclarecido para não levar a erro o leitor.
Mas antes eu quero esclarecer que o primeiro festejo de Pentecostes em nossa terra não começou no ano de 1819, como alguns acreditam, mas remonta ao século XVIII no início do ciclo do ouro, quando aqui era um grande ajuntamento de garimpeiros. Essa é a conclusão a que chegou a historiadora Mônica Martins da Silva ao escrever sobre a Festa do Divino de Pirenópolis. Aquele selo criado para comemorar os 200 anos dessa festa está errado, pois se baseou em uma interpretação equivocada de Jarbas Jayme, que apenas disse que, apesar das pesquisas que fez, não conseguiu encontrar os festeiros anteriores a 1819. Mas ele mesmo deixou registrado: “Pirenópolis (…) celebra, com grande pompa, aquela festa cristã, que foi ali introduzida na segunda metade do século XVIII” [Esboço Histórico de Pirenópolis, p. 610].
Feita essa ressalva, voltemos ao artigo de O Popular. A Festa do Divino, dentro do calendário católico, é a celebração de Pentecostes, ou seja, o dia em que o Espírito Santo desceu nos seguidores de Jesus. E dentro dessa colorida e barulhenta festa há muitos eventos culturais, a exemplo das Cavalhadas, As Pastorinhas, congo, congada, contradança etc. Dessa forma, as Cavalhadas são apenas um folguedo dentro da Festa do Divino e confundir as duas é desconhecer a história de Goiás.
Outra coisa. As Cavalhadas não vêm sendo apresentadas ininterruptamente há 200 anos, como está na matéria. Antigamente sua apresentação dependia da vontade do Imperador (festeiro), e isso porque era ele quem arcava com os gastos da festa, com adjutório do povo obviamente, e vestia os cavaleiros pobres. Dessa forma, as apresentações dos cavaleiros mouros e cristãos ocorreram de forma espaçada no correr do tempo, até que se firmaram anualmente em 1966 (festa do Mauro de Pina) e, de lá para cá, houve apresentações sem interrupção, exceto em 1970.
Adriano Curado