A casa é mais que o abrigo do indivíduo. É o lugar onde ele convive com seus parentes e amigos, é seu recesso para meditação, lazer, recanto para formação e manutenção de uma família. O jornalista Luiz de Aquino publicou uma verdade no jornal Diário da Manhã do dia 16/10/2011: “Bem, tempo houve em que a arquitetura, a engenharia das casas, obedecia a uma padrão imposto pelos materiais disponíveis: madeira, pedra, folhas. Hoje, a indústria da construção civil nivela o mundo a uma paisagem habitacional comum, igual. Tal como as roupas, que hoje fazem com que, respeitadas as circunstâncias do tempo, as pessoas se vistam igual em quase todos os lugares do planeta”.
Em relação a Pirenópolis, a arquitetura das casas deve ser vista com cuidado e sem pressa, considerando o fator histórico em que estão inseridas. Nascida em um garimpo na primeira metade do século XVIII, batizada inicialmente Minas de Nossa Senhora do Rosário de Meia Ponte, Pirenópolis conserva, ao lado da Cidade de Goiás, o maior e mais formidável conjunto arquitetônico do Estado de Goiás. Seus casarões, templos e prédios públicos dos séculos XVIII, XIX e XX, pela originalidade e outros critérios, foram tombados pelo Governo Federal em 22.11.1989, reunidos sob o termo Conjunto Arquitetônico, Urbanístico, Paisagístico e Histórico da Cidade de Pirenópolis.
Na portaria nº 02, de 1º de junho de 1995, que regulamentou o ato do tombamento, assim se expressou a 14ª Coordenação Regional do IPHAN:
“O Conjunto Arquitetônico, Urbanístico, Paisagístico e Histórico da Cidade de Pirenópolis por seu excepcional valor cultural, é monumento integrante do Patrimônio Cultural Brasileiro, na forma e para fins do Decreto-Lei nº 25/37.
“É dever concorrente do Poder Público nas instâncias: federal, estadual e municipal, zelar pela integridade do referido Conjunto, assim como de sua vizinhança”.
Isso que dizer que, quando alguém deseja intervir num prédio histórico, primeiro tem de formalizar um pedido de autorização do órgão competente e este, dentro dos critérios técnicos devidos, orientar a reforma ou restauração. Recentemente, no entanto, muitas intervenções vêm sendo feitas nos casarões pirenopolinos com técnicas bastante duvidosas – troca desnecessária de adobe por tijolo comum (furado), retirada dos baldrames, troca do assoalho de tábuas por cerâmicas e da estrutura de madeira por vigas de metal.
Ora, daqui a alguns anos, quem quiser estudar a casa pirenopolina levará um grande susto, pois vai encontrá-la tal qual os apartamentos das grandes cidades, sem nenhuma característica de sua construção, nem a presença dos materiais empregados naqueles tempos. Isso é restauração? É zelar pela integridade do conjunto arquitetônico? É justo legarmos aos nossos filhos uma cidade-cenário?
Adriano Curado