quinta-feira, 27 de outubro de 2011

A casa pirenopolina V


     Além de retirada da viga baldrame de aroeira, outras técnicas equivocadas de “restauração” comprometem o conjunto do Patrimônio Histórico de Pirenópolis. Com a desculpa de que falta madeira no mercado, a sustentação dos casarões históricos passou a ser feita com barras de metal, que são parafusadas e depois cobertas com tábua para disfarçar.

      Um casarão centenário na rua Direita passou por esse triste disfarce em 2011. Suas pareces internas, originalmente de adobe e pau-a-pique foram derrubadas por estavam fora de prumo e no lugar levantadas outras com tijolo furado e alinhamento perfeito. O pé-direito (altura que vai do chão ao teto) foi aumentado significativamente e isso quebrou a olhos vistos a estética do imóvel. Eu pergunto: é o mesmo casarão do século XIX? Essa técnica de restauração, aprovada pelas autoridades competentes, está correta?

      É preciso sentar e discutir com técnicos especializados sobre essas intervenção nos imóveis que compõe o Centro Histórico de Pirenópolis. Se continuar assim e nesse ritmo, em pouco tempo os casarões serão todos demolidos e nos tornaremos, como já frisei diversas vezes, cidade-cenário para turista ver e fotografar.

Adriano César Curado



Casarão na rua Direita com vigas de metal

Casarão na rua Direita destoa do conjunto arquitetônico

Vigas de metal em vez de madeira

quarta-feira, 26 de outubro de 2011

A casa pirenopolina ( IV )


     “Estas casas antigas eram construídas da seguinte maneira: Primeiro fincava-se no chão os esteios de madeira; Depois ligava-se os esteios com vigas horizontais. O baldrame é uma destas vigas, é ela que apoia o assoalho, portas e janelas, e hoje a sua existência é um indicador de originalidade e de poucas alterações; Após isso estruturava-se a casa com as colunas verticais das portas e janelas, que vão de alto a baixo, de viga a baldrame, e é outro indicador de originalidade, que é percebida pelas irregularidades dos rebocos acima e abaixo dos batentes, como as trincas; Após, construía-se os telhados com telhas de barros, conhecidas como telhas-coxas, por ter a forma de uma coxa humana e muitas serem mesmo moldadas sobre estas. Daí vêm o ditado: “feito nas coxas”, pois não há um padrão e é uma de cada jeito. Por fim, após o telhado ter sido feito, faziam-se o assoalho e as paredes, preenchendo os vãos com adobe, nas paredes externas, e com pau-a-pique, a taipa-de-sopapo, nas paredes internas. Ferros só eram usados nos cravos para pregar as tábuas do assoalho e nas trancas e dobradiças. Não havia vidros, nem rótulas ou guilhotinas. Um dos poucos detalhes artísticos eram os lambrequins, madeira talhada que decora a borda fronteiriça do telhado. De resto, as casas coloniais de Pirenópolis eram construções simples e rústicas, de madeira e barro”(1).

      Nos dias atuais, ainda naquele processo de transformação de Pirenópolis numa cidade-cenário, começou uma opção por retirar os baldrames de aroeira e substituí-los por alicerces de pedra ou vigas de concreto. Isso torna o casarão histórico uma casa moderna, sem as características da arquitetura de sua época. Depois, não demora para sumirem as paredes de adobe ou pau-a-pique, substituídas pelos tijolos modernos. Aparentemente é a mesma casa, só que não passa duma réplica. E basta uma caminhada atenta por Pirenópolis para se notar que a descaracterização das casas é fato corriqueiro. Não há uma campanha de conscientização dos gestores públicos, com a valorização do imóvel que preserve suas características originais. O importante é manter a estética, não a originalidade – cidade-cenário.


Adriano César Curado

 

Casarão com baldrame
Casarão com baldrame
Casarão com baldrame
Casarão com baldrame


Casarão sem baldrame
Casarão sem baldrame

sexta-feira, 21 de outubro de 2011

A casa pirenopolina ( III )


     
     “Uma ponte para o mundo goiano do século XIX: Um estudo da casa meia-pontense”(1), da escritora Adriana Mara Vaz de Oliveira, é um trabalho científico bem elaborado, que estudou a Pirenópolis do século XIX e XX, suas ruas, sua gente e, principalmente, suas casas. Cito aqui esse livro porque ele bem exemplifica a importância de se manter intacto o casarão pirenopolino, e não apenas preservar a fachada.

     “A uniformidade das ruas estendia-se aos programas arquitetônicos das casas. As moradias de Meia Ponte, do século XIX, expressavam, no seu programa de necessidades, a continuidade do período colonial, ou seja, estão manifestas, ainda, a segregação feminina e o resguardo da família, colocando em instâncias diferentes os universos público e privado dentro da habitação. A casa dividia-se em faixas: na primeira, voltada para a rua, com iluminação e ventilação naturais, encontrava-se a área social, destinada às visitas estranhas à intimidade da família. A segunda faixa compreendia o setor íntimo, as alcovas, com acesso restrito aos da casa. Esses ambientes não recebiam iluminação nem ventilação diretas e abriam-se para outros cômodos. 'Eram os quartos mudos, escuros de mistérios' (Élis, 1983, p. 268).

     “Na parte posterior da residência, encontrava-se a varanda, que se colocava como intermediária entre a parte íntima da casa e a de serviço. Nesse espaço concentravam-se os afazeres diários das mulheres, as refeições, o recebimento das visitas mais próximas, o estar da família e o repouso rápido na rede. Era o 'coração' da casa.” (…) (2)

     “A ligação dos ambientes se fazia por meio de um corredor localizado no centro ou em uma das laterais da casa, dependendo do tamanho da residência. Ele iniciava na frente da casa, ou no limite da rua, e desembocava na varanda posterior. Nesse corredor existiam duas portas: uma, permanentemente aberta, dava acesso aos setores sociais da casa; a outra permanecia fechada e isolava a parte íntima da residência. 'E a porta do meio, (porta pesada do corredor calçado a laje, tramelão enorme de madeira), que porta danada de chiar!' (Élis, 1983, p. 268). Era um meio eficiente de comunicação entre a rua e o quintal, sem precisar passar pelos ambientes. Como as moradias eram geminadas dos dois lados, esse era o único caminho possível para o trânsito de serviçais, animais, mercadorias e outros”. (3)

     A autora adentrou em diversas residências pirenopolinas e traçou uma planta baixa, sem escalas. Eis algumas delas:


Obra Citada p. 184
   


Obra Citada p. 177
     
     A continuar assim a devastação do patrimônio histórico pirenopolino, com a preservação apenas da fachada e derrubada do restante, num futuro próximo não será mais possível um estudo científico como o que fez a escritora acima citada, pois todas as casas serão iguais.

     Pense nisso!

Adriano César Curado

(1) OLIVEIRA, Adriana Mara Vaz de. Uma ponte para o mundo goiano do século XIX: Um estudo da casa meia-pontense. Goiânia: Agepel, 2001.

(2) OLIVEIRA, Obra citada, p. 165.

(3) OLIVEIRA, Obra citada, p. 166.





quarta-feira, 19 de outubro de 2011

Savana Glacial

     No dia 22.10.2011, às 20h, no Teatro de Pirenópolis, será apresentado o espetáculo teatral Savana Glacial, da Cia. Físico de Teatro, do Rio de Janeiro.

     O espetáculo foi eleito um dos 10 melhores espetáculos de 2010 pelo jornal O GLOBO e vencedor de vários prêmios de teatro.

     A apresentação é única e a entrada franca.


Maiores informações, acesse o blog da Cia. Físico de Teatro.

terça-feira, 18 de outubro de 2011

A casa pirenopolina ( II )


     A casa é mais que o abrigo do indivíduo. É o lugar onde ele convive com seus parentes e amigos, é seu recesso para meditação, lazer, recanto para formação e manutenção de uma família. O jornalista Luiz de Aquino publicou uma verdade no jornal Diário da Manhã do dia 16/10/2011: “Bem, tempo houve em que a arquitetura, a engenharia das casas, obedecia a uma padrão imposto pelos materiais disponíveis: madeira, pedra, folhas. Hoje, a indústria da construção civil nivela o mundo a uma paisagem habitacional comum, igual. Tal como as roupas, que hoje fazem com que, respeitadas as circunstâncias do tempo, as pessoas se vistam igual em quase todos os lugares do planeta”.

     Em relação a Pirenópolis, a arquitetura das casas deve ser vista com cuidado e sem pressa, considerando o fator histórico em que estão inseridas. Nascida em um garimpo na primeira metade do século XVIII, batizada inicialmente Minas de Nossa Senhora do Rosário de Meia Ponte, Pirenópolis conserva, ao lado da Cidade de Goiás, o maior e mais formidável conjunto arquitetônico do Estado de Goiás. Seus casarões, templos e prédios públicos dos séculos XVIII, XIX e XX, pela originalidade e outros critérios, foram tombados pelo Governo Federal em 22.11.1989, reunidos sob o termo Conjunto Arquitetônico, Urbanístico, Paisagístico e Histórico da Cidade de Pirenópolis.

      Na portaria nº 02, de 1º de junho de 1995, que regulamentou o ato do tombamento, assim se expressou a 14ª Coordenação Regional do IPHAN:

“O Conjunto Arquitetônico, Urbanístico, Paisagístico e Histórico da Cidade de Pirenópolis por seu excepcional valor cultural, é monumento integrante do Patrimônio Cultural Brasileiro, na forma e para fins do Decreto-Lei nº 25/37.
“É dever concorrente do Poder Público nas instâncias: federal, estadual e municipal, zelar pela integridade do referido Conjunto, assim como de sua vizinhança”.

     Isso que dizer que, quando alguém deseja intervir num prédio histórico, primeiro tem de formalizar um pedido de autorização do órgão competente e este, dentro dos critérios técnicos devidos, orientar a reforma ou restauração. Recentemente, no entanto, muitas intervenções vêm sendo feitas nos casarões pirenopolinos com técnicas bastante duvidosas – troca desnecessária de adobe por tijolo comum (furado), retirada dos baldrames, troca do assoalho de tábuas por cerâmicas e da estrutura de madeira por vigas de metal.

      Ora, daqui a alguns anos, quem quiser estudar a casa pirenopolina levará um grande susto, pois vai encontrá-la tal qual os apartamentos das grandes cidades, sem nenhuma característica de sua construção, nem a presença dos materiais empregados naqueles tempos. Isso é restauração? É zelar pela integridade do conjunto arquitetônico? É justo legarmos aos nossos filhos uma cidade-cenário?

Adriano Curado

segunda-feira, 17 de outubro de 2011

A casa pirenopolina ( I )



     Embora nossa querida cidade de Pirenópolis tenha sofrido bastante com os vendavais da modernidade, seu Centro Histórico ainda é um conjunto respeitável e só perde em quantidade de imóveis para a Cidade de Goiás.

     Muitas outras cidades do Ciclo do Ouro em Goiás foram total ou parcialmente descaracterizadas, como se rasgassem páginas importantes do passado goiano. São exemplos as cidades de Corumbá de Goiás, Jaraguá, Luziânia, Pilar, Santa Cruz de Goiás etc.

     Embora eu saiba que a casa deve acompanhar o estilo de vida de cada época, discordo plenamente das intervenções arquitetônicas que ultimamente se faz em Pirenópolis, sob o olhar complacente das autoridades públicas. Uma coisa é construir banheiros, piscinas etc., outra é modificar toda a área interna dos casarões, deixando de original apenas a fachada. Não sou arquiteto e pouco entendo dessa ciência fabulosa, mas como historiador amador sei observar aquilo que acontece à minha volta.

     E o que vejo é triste.

     Se continuarem a intervir de forma tão irresponsável no nosso patrimônio histórico, não vai longe o dia em que seremos uma “cidade cenário”, como aquelas em que se passam as novelas da televisão. Na frente, à vista do turista, uma arquitetura impecável, como se nos séculos precedentes estivéssemos. Mas da soleira para dentro, apenas a modernidade.

     Quando não estamos satisfeitos com o andamento das situações da vida, temos que fazer algo para mudar essa realidade. E minha arma são as palavras. Por isso, em diversos artigos buscarei expor meu ponto de vista e, obviamente, estarei aberto a confetes e vaias, se for o caso.

     Espero com isso começar uma mudança de mentalidade e futuramente resguardar o que restou da nossa história.


Adriano César Curado

sexta-feira, 14 de outubro de 2011

Dia Internacional da Animação


      O Dia Internacional da Animação é o maior evento simultâneo de animação do mundo, que acontece dia 28.10.2011, inclusive na cidade de Pirenópolis.

      Com entrada gratuita, a mostra de curtas nacionais e internacionais ocorre em centenas de cidades do Brasil e em 30 países (França, Rússia, Estados Unidos, Índia, Portugal, Egito, Austrália etc.).

      Em Pirenópolis a mostra ocorre no Cine Pireneus, às 19h30, por intermédio da Secretaria Municipal de Cultura, com o apoio do Cine Clube Pireneus, Clube do Audiovisual e do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional – IPHAN. Dentre as atrações, destaque para a Mostra Nacional e Internacional no dia 28. Antes do dia 28 haverá programação paralela com exibições voltadas para pessoas com necessidades especiais, promovida em parceria com a APAE Pirenópolis.

terça-feira, 11 de outubro de 2011

12º Canto da Primavera (artistas selecionados)

     A Agência Goiana de Cultura Pedro Ludovico Teixera (Agepel), por meio de uma curadoria especializada, selecionou 20 artistas para apresentações no 12º Canto da Primavera (Mostra de Música de Pirenópolis), que será realizado de 22 a 27 de novembro de 2011.

Confira os selecionados:
Amauri Garcia e Luiz Augusto
Arawaks (Pirenópolis)
Banda Uó
Coró de Pau
Descendo a Madeira
Gilberto Correia
Girlie Hell
Grace Carvalho
Henrique de Oliveira
Johnny Suxxx and the Fucking Boys
Karine Serrano
Maíra
Marcelo Maia
Nayzis (Pirenópolis)
Quinteto Popular Brasil (Pirenópolis)
Sertão
Testa MC
Toni Ribeiro (Pirenópolis)
Ultravespa
Uplano

Suplentes por ordem de prioridade:
1 - Erick Flowman
2 - Black Drawing Chalks
3 - Nonato Mendes
4 - Cega Machado
5 - TNY
6 - Casa Bizantina
7 - Tonzêra
8 - Carlinhos Veiga
9 - Heróis de Butequim
10 - Amós e Júlio.


Fonte: Agepel

sexta-feira, 7 de outubro de 2011

Parabéns, Pirenópolis

    
     Parabéns a você, velha Meia Ponte, pelo seu aniversário. Espero que neste próximo ano, e nos outros que virão, respeitem mais seu patrimônio histórico, suas riquezas naturais e suas antigas tradições.