“Estas casas antigas eram construídas da seguinte maneira: Primeiro fincava-se no chão os esteios de madeira; Depois ligava-se os esteios com vigas horizontais. O baldrame é uma destas vigas, é ela que apoia o assoalho, portas e janelas, e hoje a sua existência é um indicador de originalidade e de poucas alterações; Após isso estruturava-se a casa com as colunas verticais das portas e janelas, que vão de alto a baixo, de viga a baldrame, e é outro indicador de originalidade, que é percebida pelas irregularidades dos rebocos acima e abaixo dos batentes, como as trincas; Após, construía-se os telhados com telhas de barros, conhecidas como telhas-coxas, por ter a forma de uma coxa humana e muitas serem mesmo moldadas sobre estas. Daí vêm o ditado: “feito nas coxas”, pois não há um padrão e é uma de cada jeito. Por fim, após o telhado ter sido feito, faziam-se o assoalho e as paredes, preenchendo os vãos com adobe, nas paredes externas, e com pau-a-pique, a taipa-de-sopapo, nas paredes internas. Ferros só eram usados nos cravos para pregar as tábuas do assoalho e nas trancas e dobradiças. Não havia vidros, nem rótulas ou guilhotinas. Um dos poucos detalhes artísticos eram os lambrequins, madeira talhada que decora a borda fronteiriça do telhado. De resto, as casas coloniais de Pirenópolis eram construções simples e rústicas, de madeira e barro”(1).
Nos dias atuais, ainda naquele processo de transformação de Pirenópolis numa cidade-cenário, começou uma opção por retirar os baldrames de aroeira e substituí-los por alicerces de pedra ou vigas de concreto. Isso torna o casarão histórico uma casa moderna, sem as características da arquitetura de sua época. Depois, não demora para sumirem as paredes de adobe ou pau-a-pique, substituídas pelos tijolos modernos. Aparentemente é a mesma casa, só que não passa duma réplica. E basta uma caminhada atenta por Pirenópolis para se notar que a descaracterização das casas é fato corriqueiro. Não há uma campanha de conscientização dos gestores públicos, com a valorização do imóvel que preserve suas características originais. O importante é manter a estética, não a originalidade – cidade-cenário.
Adriano César Curado
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Casarão com baldrame |
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Casarão com baldrame |
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Casarão com baldrame |
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Casarão com baldrame |
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Casarão sem baldrame |
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Casarão sem baldrame |
Lá na rua Aurora tem muitas casas sem esse baldrame que o senhor falou, mas eu acho que todas tem a autorização do Iphan e da prefeitura para fazer modificação.
ResponderExcluirParticularmente, gosto da originalidade, por isso acho sem propósito destruir o que já está pronto (e muito bem feito), em prol da "modernidade" discutível. Parabéns pela série de postagens.
ResponderExcluirEssa falta da viga baldrame de aroeira faz o preço do casarão despensar lá para baixo. Será que os donos não veem isso?
ResponderExcluirTudo que não é mais original é depreciável.
ResponderExcluirÉ uma judiação o que estão fazendo com nosso patrimônio histórico. Cadê os responsáveis por fiscalizar? Em Pirenopolis tudo é largado.
ResponderExcluirFica mesmo muito estranho o casarão sem a viga de madeira. O que será que tem na cabeça o proprietário dum imóvel ao fazer isso?
ResponderExcluirOutra coisa. Por que o Iphan, o Estado e a prefeitura não investigam esses abusos?!
ResponderExcluirêta Brasil complicado...!
ResponderExcluirOnde estão os responsáveis por esses projetos?! Ou não os há?
ResponderExcluirVá até a Rua Direita 32A e veja a Casa de Marisa, uma das primeiras a ser restauradas em 1982.
ResponderExcluirVocê tem mais informações sobre José Sênaca Lôbo? Estou interessado no primeiro volume do livro dele sobre Bonfim. Tenho o 2º volume.
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