sexta-feira, 21 de outubro de 2011

A casa pirenopolina ( III )


     
     “Uma ponte para o mundo goiano do século XIX: Um estudo da casa meia-pontense”(1), da escritora Adriana Mara Vaz de Oliveira, é um trabalho científico bem elaborado, que estudou a Pirenópolis do século XIX e XX, suas ruas, sua gente e, principalmente, suas casas. Cito aqui esse livro porque ele bem exemplifica a importância de se manter intacto o casarão pirenopolino, e não apenas preservar a fachada.

     “A uniformidade das ruas estendia-se aos programas arquitetônicos das casas. As moradias de Meia Ponte, do século XIX, expressavam, no seu programa de necessidades, a continuidade do período colonial, ou seja, estão manifestas, ainda, a segregação feminina e o resguardo da família, colocando em instâncias diferentes os universos público e privado dentro da habitação. A casa dividia-se em faixas: na primeira, voltada para a rua, com iluminação e ventilação naturais, encontrava-se a área social, destinada às visitas estranhas à intimidade da família. A segunda faixa compreendia o setor íntimo, as alcovas, com acesso restrito aos da casa. Esses ambientes não recebiam iluminação nem ventilação diretas e abriam-se para outros cômodos. 'Eram os quartos mudos, escuros de mistérios' (Élis, 1983, p. 268).

     “Na parte posterior da residência, encontrava-se a varanda, que se colocava como intermediária entre a parte íntima da casa e a de serviço. Nesse espaço concentravam-se os afazeres diários das mulheres, as refeições, o recebimento das visitas mais próximas, o estar da família e o repouso rápido na rede. Era o 'coração' da casa.” (…) (2)

     “A ligação dos ambientes se fazia por meio de um corredor localizado no centro ou em uma das laterais da casa, dependendo do tamanho da residência. Ele iniciava na frente da casa, ou no limite da rua, e desembocava na varanda posterior. Nesse corredor existiam duas portas: uma, permanentemente aberta, dava acesso aos setores sociais da casa; a outra permanecia fechada e isolava a parte íntima da residência. 'E a porta do meio, (porta pesada do corredor calçado a laje, tramelão enorme de madeira), que porta danada de chiar!' (Élis, 1983, p. 268). Era um meio eficiente de comunicação entre a rua e o quintal, sem precisar passar pelos ambientes. Como as moradias eram geminadas dos dois lados, esse era o único caminho possível para o trânsito de serviçais, animais, mercadorias e outros”. (3)

     A autora adentrou em diversas residências pirenopolinas e traçou uma planta baixa, sem escalas. Eis algumas delas:


Obra Citada p. 184
   


Obra Citada p. 177
     
     A continuar assim a devastação do patrimônio histórico pirenopolino, com a preservação apenas da fachada e derrubada do restante, num futuro próximo não será mais possível um estudo científico como o que fez a escritora acima citada, pois todas as casas serão iguais.

     Pense nisso!

Adriano César Curado

(1) OLIVEIRA, Adriana Mara Vaz de. Uma ponte para o mundo goiano do século XIX: Um estudo da casa meia-pontense. Goiânia: Agepel, 2001.

(2) OLIVEIRA, Obra citada, p. 165.

(3) OLIVEIRA, Obra citada, p. 166.





3 comentários:

  1. Conseguirá essa séria mudar os rumos do direcionamento da cidade? Não sei. Mas eu admiro você e a vontade com que se agarra ao seu ponto de vista. Meus parabéns.

    ResponderExcluir
  2. Estive outro dia Lá em Minas, estão destruído com fúria os casarões históricos. Madeira de demolição é o que mais tem por lá. Realmente, em breve a histórica brasileira será lembrada apenas por fotografia. E não demora a chegar esse dia.

    ResponderExcluir
  3. Talvez já seja o fim de uma grande era para o Brasil! O país de hoje é todo de faz-de-conta, mesmo. Então uma cidade-cenário, como vc chamou, ficará mais de acordo com os dias atuais.

    ResponderExcluir

Minhas leitoras e meus leitores, ao comentarem as postagens, por favor assinem. Isso é importante para mim. Se não tiver conta no Google, selecione Nome/URL (que está acima de Anônimo), escreva seu nome e clique em "continuar".

Todas as postagens passarão por minha avaliação, antes de serem publicadas.

Obrigado pela visita a este blog e volte sempre.

Adriano Curado