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Braz
Wilson Pompêo de Pina Filho e Maria Augusta Calado.
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"Para muitos, a morte é uma cortina de sombras e de esquecimento
definitivo. Para outros, apenas uma passagem em que nos afastamos dos
entes queridos por um tempo determinado. Para esses, a essência do
que fizeram e as coisas que amaram, permanecem para sempre. Assim o
foi com o admirável e inesquecível músico goiano Braz Wilson
Pompêo de Pina Filho.
Sua vida correta, honesta, direita, proficiente e culta ao bem de
Goiás será a marca de sua presença entre nós. Presença tão
curta, mas significativa sob todos os pontos de vista.
Sua terra natal, a bela Pirenópolis, berço da música, jamais o
esqueceu, por certo; assim como todos nós, goianos, temos com o
maestro uma dívida perenal, no sentido de que o muito que fez e
pesquisou, abriu horizontes para a música goiana não só aqui, mas
também em outros rincões.
Braz de Pina era um homem que trazia no sangue o amor à arte de
Euterpe. Seus ascendentes, assim como ele, também se afeiçoaram aos
sons. Meia Ponte era uma seara de músicos admiráveis.
Seu nome, com brilho incomum, conseguiu divulgar a música
pirenopolina, com todo o encanto e com toda a graça, fazendo-o um
homem inesquecível.
Que Deus, por seus anjos benfeitores, o tenham acolhido depois de tão
pertinaz enfermidade, ceifando-o de nosso convívio tão cedo. Toda e
qualquer imagem de sofrimento ou tristeza seja dissipada porque ele
alcançou horizontes possíveis na paz imensurável de seu grandioso
coração.
Braz de Pina mora na ternura e na saudade de todos nós, que tivemos
a honra de conhecê-lo. Um homem admirável!
Éramos menino ainda, e ele nos dava atenção e respeito. Um
professor cuidadoso e aplicado. Ensinava com gosto a arte musical.
Pena que a enfermidade tenha encerrado a possibilidade de com ele
aprender a arte da música.
Desapareceu tão cedo que, hoje, não teria ainda 70 anos de idade!
Deus o chamou a si aos 48 anos. Há 25 anos passados fui seu aluno,
e, tinha apenas 18 anos. Como o tempo passou depressa, hoje aos 43
anos de idade, relembro meu admirável mestre por curto tempo.
Braz Wilson Pompêo de Pina Filho nasceu em Pirenópolis, Estado de
Goiás, em 03 de janeiro de 1946. Ali fez seus primeiros estudos.
Mais tarde, já em Goiânia, cursou Jornalismo pela Faculdade de
Comunicação da UFG. Graduou-se em Música, Canto e Piano ainda pela
UFG.
Também Braz de Pina especializou-se em Novas Técnicas de Ensino
Pianístico, em Contraponto, Composição e Regência. Tornou-se,
então, um artista completo e maravilhoso. Dirigiu a Orquestra de
Câmara Oitocentista. Pelo seu talento multiforme, tornou-se Diretor,
Criador, Regente Titular também da Orquestra Sinfônica de Goiás.
Atuou muitos anos no Jornalismo de Goiás, escrevendo matérias sobre
passagens interessantes de nossa vida cultural. Também, passou a
lecionar no Instituto de Artes da UFG onde deu vazão a seu espírito
de pesquisa e de ensinamento. Ali trabalhou com dinamismo e
eficiência, de 1974 a 1992.
Ingressou ainda como membro efetivo do Instituto Histórico e
Geográfico de Goiás e foi premiado com o Troféu Tiokô da União
Brasileira de Escritores pelo seu magistral trabalho como pesquisador
da área da música.
Publicou o livro Goiás, história da imprensa, no ano de
1971, ainda bem jovem, pela Editora Oriente. Participou da gravação
de vários discos de vinil, na época, como o Primeiro recital de
compositores goianos, do qual foi regente; Cantos de natal,
e, também, fez a trilha sonora do filme goiano Índia, a filha do
sol, nos anos de 1980. Publicou ainda O Barroco em Goiás;
Enciclopédia da Música Brasileira e O cancioneiro de Armênia.
Publicou importantes trabalhos na Revista do Instituto de
Artes da Universidade Federal de Goiás.
Era um homem sereno e dotado de rara energia para o bem e para o
conhecimento. Seu nome jamais será esquecido por aqueles que, como
ele, amam um ideal superior e entendem que a vida está acima do
imediatismo dos teres e haveres e do frio laconismo hoje, da
relações.
Vivemos num geração sem saudade. É uma pena a nova geração em
grande maioria não conhecer Braz de Pina e seu legado. Mas que de
tudo fique um pouco, que é, senão, a ternura e o afeto em poucos
corações.
Braz de Pina faleceu em Pirenópolis em 14 de março de 1994, há
exatos 20 anos. Que seu nome seja sempre lembrado como um dos
ilustres pirenopolinos que, pelo talento, entrou na seara da história
goiana.
Adeus meu mestre!"
Bento
Fleury (Bento Alves Araújo Jayme Fleury Curado). Graduado em Letras
e Linguística pela UFG. Especialista em Letras pela UFG. Mestre em
Letras pela UFG. Mestre em Geografia pela UFG. Doutorando em
Geografia pela UFG. Professor. Pesquisador. Poeta.
bentofleury@hotmail.com