A
esquadra e os tupiniquins
(reflexão)
Até que
o pessoal do DF descobrisse que logo ali, bem pertinho, detrás das
montanhas, havia um lugarzinho especial, cheio de cachoeiras
belíssimas, Pirenópolis era um lugar tranquilo.
Tranquilo
até demais!
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Início da rua Direita |
Não
havia ainda acontecido o boom imobiliário motivado pela
bolha turística que se formou rapidamente. Os casarões
pouco valiam. Era a época dos quintais imensos, cheios de mangueiras
encorpadas e de galos músicos que despertavam a gente de madrugada.
Mais tarde, com as especulações imobiliárias, esses mesmos
quintais foram fatiados para ali construírem pousadas, restaurantes
etc.
Naqueles
tempos, festas populares mesmo só as tradicionais – a do Divino, a
Semana Santa, Morro dos Pireneus, Capela do Rio do Peixe. A
pasmaceira dominava as ruas e os hábitos pirenopolinos permaneciam
intactos. Se fosse antes, não vingarias projetos como o Canto da
Primavera, por exemplo.
Vou
falar um pouco sobre gastronomia. A comida nunca foi sofisticada por
estas bandas. No dia a dia comia-se o trivial, arroz com feijão,
carne de frango ou de gado, e raramente peixe. Verduras e frutas se
colhia na horta do quintal, então não era um bom negócio os
sacolões.
Minha
avó, já na entrada da casa dos 90 anos, me conta que em casa de
seus pais, ali pela década de 1930, comia-se fartamente alface,
tomate e cenoura.
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Os tapuias na Festa do Divino de Pirenópolis |
O
empadão pirenopolino é uma delícia e diferenciado do da Cidade de
Goiás, mas esse prato por aqui era somente no final de ano,
preferencialmente na noite de Natal. Só agora, para satisfazer o
paladar dos turistas, é que serve-se empadão o ano todo.
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Antiga rua do Rosário, hoje rua do Lazer |
A atual
Rua do Lazer, tão movimentada com bares e restaurantes, antes da década de 1990 não passava de um lugar comum, com residências e
vendas (pequeno comércio familiar) de secos e molhados.
No
início da rua, na parte de baixo, morava o médico dr. Cinval de
Carvalho, depois vinham as casas de Soquinho e Belinha, do seu Otávio
e dona Rosa, da família Figueiredo, da família Siqueira, da família
Jayme, e a da família Lopes, onde hoje está a Pousada Walkeriana,
etc.
Acredito
que aquela era a verdadeira Pirenópolis, porque depois da “invasão”
turística, inventaram uma outra cidade. Somos agora qual os
tupiniquins que se entusiasmaram com a multicolorida esquadra de
Cabral. Muito do que se faz aqui é voltado para o agrado do turista.
Não que eu seja contra o turismo, longe de mim. Mas entendo que a
cidade pode mostrar sua verdadeira face e agradar, em vez de se
enfeitar com penas coloridas e cantos sedutores.
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Canto da Primavera na rua do Lazer |
Antes
que nos descobrissem por aqui, tínhamos uma vida pacata de
pasmaceira, dessa de cadeiras nas calçadas e serenatas, de bom papo
ao borralho do fogão a lenha e planos bem limitados para os padrões
de hoje.
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Altares originais da Igreja Matriz |
Agora
que nos descobriram, nossa vida começa sexta-feira, quando os carros
descem em filas intermináveis pela Avenida Joaquim Alves e termina
no domingo à tarde, quando ele vão embora.
Que
sorte a nossa que aquela esquadra aportou em terras tão desoladas.
Agora somos civilizados e globalizados.
Adriano
César Curado