Sempre tive vontade de ter uma casa em Pirenópolis, terra de minha mãe, onde vou quase que mensalmente, para participar da reunião da Academia Pirenopolina de Letras, Artes e Música. A casa em que minha mãe nasceu, na Rua Direita, construída no século passado, está lá, do mesmo jeito, um casarão de troncos de aroeira, assoalhado, e aquele quintal de invejar diplomatas de Brasília que aparecem por lá, inflacionando o mercado imobiliário.
Em seu livro, História da Menina de Pirenópolis, publicado em 1991, minha mãe fala de sua casa com ternura e muita saudade. Foi lá que morreu minha avó, em 1919, vítima da gripe espanhola. Comprar essa casa? Nem sonhar. Primeiro, a família proprietária já me descartou a possibilidade; segundo, se por acaso for a venda, um dia, não terei recursos para concorrer com os diplomatas brasilienses.
Descendente das famílias Mendonça, Amorim, Pereira da Veiga e Nascimento, minha ligação com a cidade tem raízes fortes, históricas, daí a emoção com que recebi, em novembro de 1994, na Câmara Municipal, o título honorífico de cidadão pirenopolino. No longo poema-discurso que fiz, eu dizia: "Nos olhos de minha mãe Celuta/ vejo a saga pirenopolina / tantas lutas!! A casa da Rua Direita plantada à esquerda! de quem chega/ guarda a emoção de um tempo que ficou retido nas paredes de aroeiras/ - troncos seculares sustentando vigas e sentimentos emparedados./ Chego a Pirenópolis como quem chega/ à casa paterna,/ depois de armazenar tantos lustros de emoções e desejos de conhecer o templo/ sagrado de minha mãe".
Assim, ir a Pirenópolis passou a ser rotina em minha vida, ora hospedava no Pouso do Só Vigário, ora na Quinta Santa Bárbara, era a oportunidade que tinha de rever parentes e amigos, de participar de saraus, de serenatas, enfim, sentindo a sensação de estar pisando nas pedras onde pisaram os pés adolescentes de minha mãe. De tanto desejar um recanto em Pirenópolis, a oportunidade surgiu, agora, quando comprei, em 24 prestações, um pedacinho de terreno - 180 metros quadrados -, onde pretendo, um dia, construir minha casa de "campo", para levar meus livros, meus discos e meu silêncio.
E o silêncio, que era só meu e de minha família, foi quebrado, para que todo mundo soubesse, pois a notícia saiu no Giro, do dia 31 do mês passado e foi lacônica, dizendo que eu, querendo ser vizinho da família de Valéria Perillo, havia comprado um "terreno espaçoso" em Pirenópolis. Ora, nem sei onde é a propriedade da ilustre primeira-dama do Estado, descendente de tradicional família pirenopolina. A nota do Giro, maliciosa, por certo, foi passada ao Ivan Mendonça por alguém que não anda de bem com a vida, falando pelos cotovelos e botando o olho gordo em tudo. Vacinado contra quebrantos e mau-olhares, vou pedalando meu velocípede de paz até a curva extrema do caminho extremo. Sarava!
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Minhas leitoras e meus leitores, ao comentarem as postagens, por favor assinem. Isso é importante para mim. Se não tiver conta no Google, selecione Nome/URL (que está acima de Anônimo), escreva seu nome e clique em "continuar".
Todas as postagens passarão por minha avaliação, antes de serem publicadas.
Obrigado pela visita a este blog e volte sempre.
Adriano Curado