Sádado do Divino (2009)
Foto: Arquivo da Biblioteca Pyraí
A festa do Divino de Pirenópolis passou por muitas crises recentes, algumas imensas e perfeitamente evitáveis, outras fruto dos tempos modernos.
Entre as crises evitáveis está a ida para Pirenópolis de padres despreparados, sem prévio estudo das tradições locais e que por isso decidiram palpitar na parte profana da festa. Chegou-se ao absurdo de proibir o imperador de adentrar na Matriz com a coroa na cabeça e de chamar de idólatra o povo que cultuava o Divino na forma tradicional.
Depois veio a interferência direta nos sorteios, de forma que só poderiam se candidatar aqueles escolhidos diretamente pelo sacerdote. Com isso a população se afastou e a festa outra vez entrou em declínio. Seguiu uma série de imperadores de faz de conta que somente participavam da parte religiosa da festa. A parte profana ficava por conta do governo do Estado, da prefeitura e dos pirenopolinos.
O resultado disso tem reflexo até hoje, e basta constatar pela insignificante quantidade gente que acompanha o cortejo do imperador no domingo do Divino. E olha que esse momento da festa já foi disputadíssimo, com longa fileiras de mocinhas vestidas de branco e procissão de gente logo atrás. Agora quase ninguém mais vai, à exceção dos familiares do imperador.
Recentemente a Igreja se conscientizou da importância de deixar que o próprio pirenopolino tome conta de sua festa. O sacerdote que se mudou para a cidade ainda não enfrentou o desafio duma festa do Divino, mas parece pessoa sensata, que sabe ouvir e conta com um indiscutível carisma influenciador da juventude.
Entre as crises resultantes dos tempo modernos poderia destacar aqui a limitação cada vez maior da participação dos mascarados na festa. Antigamente eles adentravam no campo com carros (geralmente Jipe ou Rural), em cujos para-choques amarravam uma corda com pneus – e lá iam eles arrastados entremeio patas de cavalos. Naquela época também era comum portarem armas com tiros de festim, subir nas calçadas e até sair pela cidade em desabalada correria.
Agora nada disso é mais possível, e por qualquer coisa um mascarado é apeado e preso. Sua entrada no campo ficou restrita aos poucos intervalos das Cavalhadas e assim mesmo por breves instantes. Como consequência, o número de mascados diminuiu assustadoramente, e temo que acabe em breves tempos.
Aqui cabe uma indagação: qual o futuro da Festa do Divino de Pirenópolis? Será que ela voltará ao explendor de outrora ou sucumbirá de vez, quando as novas gerações tiverem de assumir o papel que herdaram dos antepassados? É uma pergunta que não sei responder. Somente o tempo saberá dizer.
Adriano César Curado
Gostei de saber um pouco mais da FEsta do Divino lá do Piri. Pena que os festejos acabaram logo! Só ano que vem, agora!
ResponderExcluirPedro Licurgo Amaral
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