Sou contra a celebração da parte religiosa da festa do Divino de portas fechadas, pois essa ação só causará mais desconforto ao pirenopolino. É como se o relembrasse que ele está prisioneiro, mas a vida continua, a exemplo do que se deu com a chegada virtual da folia. Não vejo sentido em trancar-se um dúzia de "privilegiados" no templo, enquanto celebram os rituais, mas com transmissão pela internet para aqueles que são cativos da pandemia.
Soube eu de muita gente que se desesperou quando a encenação da folia passou pela sua porta, quase levando ao desespero. E por que razão isso ocorreu agora e não na Semana Santa? O motivo é bem simples de se explicar. A festa do Divino é o principal acontecimento para o pirenopolino, uma ocasião aguardada durante um ano, com fervor e ansiedade. E isso é uma espontaneidade que se vê em poucos lugares do mundo, tradição enraizada nas profundezas desta gente dos Pireneus.
De repente chega o vírus maldito e ninguém mais pode levar uma vida normal. Encontramos nossos amigos e não podemos estender-lhes as mãos ou mesmo conversar próximo, como sempre fizemos. Somos forçados a andar de máscaras pelas ruas e isso é algo que desconhecíamos. Nossa casa ficou pequena nestes meses de distanciamento social e a cada momento somos lembrados de que a ameaça nos ronda. Criou-se, dessa forma, uma atmosfera de medo, pavor mesmo, de morrer ou matar alguém que amamos. É uma fase complicada da humanidade.
Todos nós devemos aproveitar este instante incomum e refletir sobre nossa própria vida e a forma como a conduzimos. Também é o momento de repensar os festejos em honra ao Espírito Santo. Está correto o rumo que a grande festa está tomando? É mesmo por esse ou aquele caminho que devemos seguir? É tempo da celebração de Pentecostes, dentro do calendário católico, e todas as ações dos fieis devem ser voltadas para esse fim exclusivamente. Isso vai desde aquele que se dispõe a acompanhar uma folia, até o cavaleiro que corre as cavalhadas. Mas o que temos visto atualmente são os excessos.
Mas voltando ao assunto das celebrações a portas fechadas, isso vai provocar no povo mais sofrimento que o necessário. Tem gente que pode enlouquecer ao ouvir a transmissão da novena pelo rádio e não poder entrar na Matriz. Então o melhor a fazer é saltar este ano sem qualquer celebração e, ano que vem, com as festividades repensadas e renovadas, voltaremos em grande estilo.
Adriano Curado
Foto: Site da Irmandade do Santíssimo Sacramento de Pirenópolis
Estou plenamente de acordo com o senhor, dr. Adriano Curado. Esse negócio de saudosismo não leva a nada, a não ser o polimento da vaidade de alguns que tem a sua hora de estrela. E digo mais - esse vírus é um aviso de Deus Nosso Senhor para que o pirenopolino bota a mão na consciência e reflita sobre as mazelas que vem se transformando a Festa do Divino Espírito Santo. Meus parabéns pela excelente matéria.
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