quinta-feira, 14 de abril de 2011

Negra Merença


Antiga Casa da Negra Merença
      Pouca gente sabe que Pirenópolis já teve um cabaré sofisticado, lugar caro frequentado apenas por coronéis, políticos ou pessoas de bons cabedais. Eu mesmo descobri isso por acaso, quando conversava com a escritora Marieta de Souza Amaral e depois confirmei com alguns idosos, que inclusive relutaram um pouco em matar a minha curiosidade.

 

Casa de Amplilóphio de Alencar
     O lugar, obviamente, não era comentado nas casas de famílias tradicionais, embora estivesse localizada bem no miolo central de Pirenópolis. A Casa de Negra Merença, como era conhecido, ficava ali no antigo beco de Amplilóphio de Alencar, uma viela de chão, esburacada e pouco iluminada. Para esse beco se mudavam as moças que “caiam na vida” ou eram “desonradas”, nos dizeres daquele tempo.




Lojas na rua Rui Barbosa
     Falamos aqui do início da década de 1950, quando Pirenópolis ainda estava fechada entremeio aos paredões de seus morros e JK ainda não começara a construir Brasília. Por volta das 21 horas a cidade adormecia e raro algumas exceções, nenhuma casa lançava luz sobre as calçadas. 
Mas na Casa de Merença era diferente...!



     O velho casarão possuía um salão espaçoso, com assoalho de tabuões encerados, onde se apresentavam bons músicos e a dança corria solta. Moças criteriosamente selecionadas pela beleza dançavam com vestidos de seda multicolorida e arrancavam suspiro dos velhos coronéis, há 60 anos atrás.



     Fisicamente, contam que ela era de estatura alta, pele clara, cabelos negros, lisos, até na altura da cintura. Vestia-se com exímio bom gosto, possuía joias de singular brilho, que sabia combinar com os vestigos longos e as botas coloridas de cano curto. Acompanhavam-na alguns seguranças, que impunham respeito na casa e assim evitavam confusão capaz de atrair a atenção do Inspetor de Quarteirão. Ela não era da cidade, e assim como chegou, um certo dia, já com a bruaca cheia, partiu e nunca mais deu notícias.



     Hoje o beco é uma rua, a Rui Barbosa, toda calçada e muito bem iluminada, que liga as ruas do Bonfim e Aurora, e se transformou em movimentado ponto comercial de Pirenópolis. Em nada lembra a lugar mal afamado de meados do século passado, e pouca gente ainda traz a movimentada Casa da Negra Merença da mente. Esse é um segredo que os antigos fizeram de tudo para apagar, mas que este blog ressuscita para o conhecimento dos mais novos.





by Adriano César Curado

2 comentários:

  1. Que interessante! Quanta coisa Pirenópolis guarda nos baús e que aos poucos vai sendo descoberta e recontada. São nossas histórias.

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  2. Deu vontade de "cair na vida" nesse caberá sofisticado!! kkkk

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