Adeus ao velho prédio colonial que por muitas décadas foi o Mercado São José. Lembro-me de quando eu era criança e ia ali comprar óleo vegetal medido numa bomba manual e colocado num vasilhame que trazia lá de casa. O atendente era o senhor Inácio Gomes da Silva, o saudoso Inacinho, que enquanto vivo cuidou bem do velho casarão.
De uns tempos para cá, no entanto, o prédio começou a virar ruína. Perdeu o telhado e as paredes ficaram com a parte superior cobertas com plástico, para evitar que a umidade infiltrasse nos adobes. Sim, o prédio era todo de adobe e aroeira, numa característica típica das construções do século 19.
Cheguei a pensar que o imóvel, pela importância histórica para a cidade de Pirenópolis, seria totalmente restaurado, com aproveitamento do madeirame velho e das paredes originais. Já pensou que maravilha os novos proprietários descascarem as paredes e envernizá-las para exposição pública?! Pouca gente tem a sorte de possuir um prédio histórico, e seja lá qual for a finalidade que lhe atribuem, a exploração da imagem do antigo sempre causa bom impacto.
Mas nada disso adiantou. Passei pelo local no feriado de 7 de setembro e levei um grande susto ao ver que o casarão centenário fora destruído. No lugar das antigas aroeiras estão vergalhões de concreto, e em vez dos adobes originais, agora se veem tijolos furados. Apagaram da noite para o dia um bom naco da história goiana.
Em pleno século 21, como é possível que um imóvel do patrimônio histórico seja assim destruído? Numa cidade turística da envergadura de Pirenópolis, não apareceu ninguém para gritar pela preservação do prédio?
Num artigo que publiquei aqui mesmo neste blog (dia 18.7.2010), já alertava para a minha preocupação quanto ao destino do antigo Mercado São José. Mas confesso que não estava preparado para vê-lo demolido.
Que fazer agora? Nada. Apenas lamentar o ocorrido. É triste constatar que as futuras gerações não conhecerão esse capítulo da história pirenopolina, exceto por fotografias e recordações dos mais antigos.
Quero que o meu protesto fique registrado nesta página!
Adriano César Curado
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ResponderExcluirFiquei triste ao ler o artigo. Imaginei que Pirenópolis cuidasse bem do seu patrimônio histórico, que preservasse ao extremo suas origens e cultura.
ResponderExcluirPatrício Melo
Cadê as autoridades que não viram uma barbaridade dessas? Esses políticos só pensam no Brasil na época de eleição. Cambada de inútil.
ResponderExcluirFernando Assuério Lima
Aonde vai parar Pirenópolis se continuar a perder seu acervo arquitetônico?!
ResponderExcluirCínthia Silva
Também passei lá na porta e vi as vigas de concreto. São horrorosas e de extremo mau gosto. Como não tem lei que faça renascer o que está destruído, ficou apenas a lembrança do belo prédio colonial que estava ali.
ResponderExcluirComo pode, né?! Em minutos metem no chão o que se conservou por um século!
Francisca dos Santos Amaral
Estou revoltada com a destruíção do casarão histórico.
ResponderExcluirPâmela Assis
Caríssimo escritor Adriano Curado, aprecio basta seus escritos, que vão desde os livros que publicou, até os artigos no Diário da Manhã, e agora as peças que compõe este espaço. Sua pena é leve, sucinta, mas bem clara no tema que aborda. Concordo que o casarão denominado Casa S. José não precisava ser demolido, mas apenas restaurado. Passei por lá no dia da demolição e senti um frio na coluna ao ver aquelas paredes de adobe velho indo ao chão, sem que um representante do poder público estivesse presente. Olha, deu dó e aperto no peito. Mas essa mentalidade é o reflexo da política de preservação do próprio Iphan. Note quantas casas históricas de Pirenópolis alteraram a fachada com autorização, para instalação de casas comerciais, principalmente na rua do Laser. Outro exemplo é o prédio do teatro, que teve suas paredes comprometidas pela presença excessiva de cupins, mas em vez de restaurá-las com adobe, optaram por usar tijolo furado (comum). Isso é restauração? Para mim é demolição, tal qual a Casa S. José. Então, se o exemplo vem dos órgãos oficiais, por que não segui-lo?
ResponderExcluirInfelizmente, Adriano, alguns anos depois, outras construções de extrema importância para nossa história, tanto arquitetônica como também imaterial, posto que são testemunho da rotina, festas, procissões e outros acontecimentos de nossa cidade, também estão às vésperas de sua destruição completa. A que me preocupa mais é a casa de dona Sinhazinha. Ela é o último exemplar do séc. XVIII residencial que temos, lembrando ainda de sua importância artística e do papel que exerce na estética do entorno e na identidade e memória de Pirenópolis. Uma pena que sejam permitidas as intervenções desreguladas e a perda contínua de suas características originais.
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