Aquele casarão ali na esquina da Rua Nova é da minha família. Já presenciou muitos acontecimentos importantes de Pirenópolis. Segundo o livro Casas de Pirenópolis - Casa dos Homens, Volume II, do Jarbas e José Jayme, a notícia mais antiga da casa vem de 1810 e teria pertencido à filha de um rico minerador.
Ela passou à minha família em 1915, quando meu trisavô Joaquim Propício de Pina a comprou e ali instalou seu comércio. Manter uma construção assim é dispendioso, principalmente pela reposição das madeiras do telhado e assoalho.
E por conta disso é que uma lei municipal dá um desconto de metade do valor do IPTU para os casarões no Centro Histórico.
Ocorre que essa legislação condiciona o abatimento à prévia aprovação do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN). E este ano não seremos contemplados porque um técnico achou de implicar com a placa da farmácia. E o interessante é que é a mesma placa do ano passado, quando o desconto foi autorizado. Ou seja, não há critério técnico na análise pelo jeito.
E é por conta de falta de apoio governamental como esse que as famílias tradicionais de nossa terra estão perdendo o interesse em preservar seus casarões. Basta um rápido passeio pela rua Direita para ver quantas velhas casas estão à venda. E chegam pessoas do fora, pagam bem e apagam a história de séculos.
Quem vende se muda para um bairro mais afastado, constrói ou reforma a casa do jeito que quer, sem a interferência de qualquer órgão.
O Iphan nunca foi parceiro do pirenopolino, sempre impôs sua vontade sem perguntar a opinião popular. Por conta disso é uma entidade mal vista na cidade, quando faz eventos, não comparece quase ninguém.
Por outro lado, aprova projetos polêmicos, como o que demoliu todo o casarão que pertenceu ao Major Silvino Odorico de Siqueira, em plena Rua Direita, mantendo apenas a fachada, para que ali se instalasse uma pousada moderna. E esse é o destino do Centro Histórico de Pirenópolis: virar um cenário de fachadas para turista ver e fotografar.
Não é de hoje que este blogue alerta para a morte lenta da alma da cidade. Em vez do governo dar apoio e incentivo, atrair o povo para perto de si, orientar sobre como conservar o que se herdou dos antepassados, apenas multa, indefere incentivos e embargas obras.
Até quando isso perdurará?
Adriano Curado
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