segunda-feira, 13 de junho de 2011

O folclore


     Pirenópolis é uma cidade rica em atrativos turísticos porque sua longa história está fincada na origem do próprio Estado de Goiás e ela preserva relativamente bem seus patrimônios material e imaterial. Turistas do mundo todo vêm para cá conhecer a natureza exuberante, deliciar-se com nossa hospitalidade, provar da exótica culinária e, principalmente, por conta do folclore.

     Dentro da nossa cultura popular, o folclore é o gênero que agrega as tradições e os costumes que surgiram espontaneamente e seguem transmitidos de uma geração para outra. Digo que é espontâneo porque não há como “impor” uma manifestação cultural a um povo. Se inventássemos, por exemplo, as Cavalhadas de Goiânia, isso seria ridículo e alvo de chacotas. Por quê? Porque viria de cima para baixo, e não das bases populares.

     A cidade de Luziânia, antiga Santa Luzia, é um pouco mais jovem que Pirenópolis e também já teve festas populares grandiosas, como Cavalhadas suntuosas, mas hoje perdeu essa referência cultural. Há alguns anos, a prefeitura local buscou gente de Pirenópolis para recriar as Cavalhadas de lá, o que foi feito, e seguiu-se uma linda festa do Divino, que no entanto morreu pouco tempo depois. Sabe por quê? Por falta da espontaneidade. Não adianta impor uma manifestação cultural a um povo.

     O episódio lamentável da ausência dos Mascarados na Festa do Divino de Pirenópolis põe em risco nosso rico folclore, na medida em que os costumes são frontalmente afetados. É um impacto violento sobre a capacidade de mobilização do pirenopolino e sobre sua vontade de se dedicar aos festejos que espera o ano todo.

     Tudo que se refere à Festa do Divino é feito de livre vontade pelo pirenopolino, como igualmente fizeram seus pais e avós. Durante meses, por exemplo, doceiras se revezaram voluntariamente na casa do Imperador para confeccionar os alfenins verônica. Do mesmo jeito agiu o responsável por preparar as roqueiras, as cozinheiras que se levantaram de madrugada para servir café aos cavaleiros etc.

     Ninguém impôs a essas pessoas que saíssem de suas casas e fossem trabalhar de voluntárias ao Imperador. Foram por devoção, por amor à tradição, por amizade ao festeiro etc. Não importa o motivo, o que vale é a espontânea mobilização popular, repito uma vez mais.

     A ausência da figura dos Mascarados pode representar a agonia inicial da Festa do Divino de Pirenópolis. Se perdermos nosso referencial folclórico, então não mais compensará mobilizar toda uma cidade para festejar Pentecostes. Seremos um povo culturalmente extinto, que apenas recorda, não mais vive.

     Que essas palavras sirvam à reflexão!

by Adriano César Curado

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Minhas leitoras e meus leitores, ao comentarem as postagens, por favor assinem. Isso é importante para mim. Se não tiver conta no Google, selecione Nome/URL (que está acima de Anônimo), escreva seu nome e clique em "continuar".

Todas as postagens passarão por minha avaliação, antes de serem publicadas.

Obrigado pela visita a este blog e volte sempre.

Adriano Curado