"A cantoria dos muitos galos espalhados por toda a cidade se intensifica na madrugadinha, ante-véspera do clarear do dia, tal qual apoteose de um “Bolero de Ravel” natural. Isto quer dizer que Pirenópolis tem quintais, alguns dos quais ainda amplos e plenos de frutos, flores e sombra e que resistem à gula capitaleira, sempre avassaladora, da pressão imobiliária!
Luziânia, por exemplo, cidade histórica de Goiás e Entorno de Brasília, já não tem mais isso. Paracatu, idem, idem e oxalá se Ouro Preto em Minas e também Diamantina – onde nasceu JK – ou Parati, joia barroca do litoral fluminense (onde o Príncipe-fotógrafo tem sua pousada), conseguiram, a duras penas, deixar espaços internos “in natura”, preservados.
Respiradouros de bons ares para as gentes e o ciscar de galinhas e galos quintaleiros, caipiras. E cantantes. Em tempo – ajunte-se aos galos a estridência de Sinos, que em menos incomodância e muito mais dolência, completam a nostalgia sonora de “civitas” especiais, como Brasília – onde foram estes, por último, proibidos!
Ainda ficam no entremeio, velhas cidades (históricas) por estes Brasis, a começar de Goiás Velho - aqui mesmo na amplidão (colonista) do Anhanguera. Cuiabá no Mato Grosso e Vila Bela da Santíssima Trindade, idem – sob a pressão arrasadora da contabilidade produtivo-argentária. E muitas mais, como S.J. Del Rey, Tiradentes, Sabará, Serro e Mariana, em Minas Gerais. Fica ainda em Minas a também minha Conceição do Mato Dentro. Resta-nos mencionar Salvador, Recife e Olinda e São Luiz do Maranhão ou a velha, multi-centenária Belém do Pará.
Paradoxalmente, Brasília os mantém – os quintais – ainda, no seu setor de Mansões do Lago e Park Way. Mas não durará muito: uma, duas... cinco gerações de proprietários e o “fracionamento”, igualmente capitaleiro e avassalador, não deixará “pedra sobre pedra”. Isto no que tange a áreas livres internas, representando respiradouros da “civitas” ou “urbs” – se preferir. Como no caso de Brasília, esta última concebida e projetada, romanticamente, por Lucio Costa, arquiteto-urbanista e Oscar Niemeyer, arquiteto!
Pois bem – em Pirenópolis se pode ouvir galos alta e breve madrugada, cantando... Cantando! E no fechar e no abrir do dia, a passarada, como uma “Ave-Maria-no-Morro” (do cancioneiro inspirado), saudar a vida e o mundo com seu canto-algazarra! E também as Saracuras – que o escritor Sergio Capparelli gostou e gostou de voltar a ouvir, aqui – desde os tempos idos da sua infância.
É isso! As coisas simples deixadas esquecidas, para trás, são valorizadas em relicários como este nicho colonial barroco, que é Pirenópolis, em Goiás (aliás, Goyaz); e que passa a render dividendos culturais, emocionais, relacionais, sócio-econômicos e de quebra, ecológicos – numa palavra – CIVILIZACIONAIS! Via turismo...
Ainda bem que está cuidado, como de direito, pelas forças civis espontâneas e oficias de todas as instâncias – com destaque, naturalmente, para as locais, sem o que nada emplaca de construtivo e/ou consequente, duradouro! Salve PIRENÓPOLIS, por ti, em ti e teus inúmeros eventos, do ano inteiro, especialmente o do transe passante – o II Encontro Nacional das Cidades Históricas e Turísticas / Julho de 2010. Parabéns."
Este texto é de autoria de João Vieira, professor-fundador da Universidade Federal de Mato Grosso, onde lecionou Sociologia e dirigiu o Museu Rondon.
Excelente crônica! Digna de ser apreciada, realmente! E nossa cidade agradece...
ResponderExcluirQue texto lindo, esse, bem descreve a alma de Pirenópolis nas madrugadas opalinas!
ResponderExcluirDe fato, em BSB não se ouvem mais os sinos, quem dirá os galos! Muito boa postagem, meu parabéns.
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