quinta-feira, 13 de janeiro de 2011

A PRAÇA CENTRAL

Coreto quadrado e muro-painel de retalhos de pedras.


Apesar de toda a importância do largo da Matriz na vida cultural e social de Pirenópolis, ele foi destruído na década de 1960. Ocorre que o frei Primo Carrara, que era pároco de Pirenópolis à época, manifestou interesse em possuir melhores instalações paroquiais, e assim toda a população mobilizou-se para angariar fundos. A iniciativa foi boa, mas o local escolhido para as novas construções, péssimo. Sinceramente, até hoje não consigo compreender que ideia foi aquela de edificar no largo da Matriz. Tinha lugares melhores e mais amplos, como o largo do Asilo ou mesmo o largo do Mercado, mas alguém optou por cercar a igreja com prédios horrorosos, sem estética alguma, com vitrô e vergalhões.



Prédio dos Correios.


Segundo Adelmo de Carvalho, “As obras do Salão Paroquial, da Escola e da casa do Padre foram iniciadas em 1962, por iniciativa do Padre Primo Carrara. A Escola foi concluída em 1965, a Casa do Padre em 1966 e o Salão Paroquial em 1970” (Pirenópolis – Coletânea 1727-2000, História, Turismo e Curiosidades. Goiânia: Kelps, 2000, p. 29). Também segundo Adelmo de Carvalho, o prédio do Correio foi construído em 1959, no largo da Matriz (p. 86).



Salão Paroquial


A vontade de construir no largo chegou a tal ponto, que até a antiga Telegoiás resolveu ali instalar um posto telefônico. Assim, sem se importar com a presença da Matriz ali do lado, levantaram de repente um caixote de tijolo de frente para o teatro.



Casarão do Rex Hotel, entre o Salão Paroquial e a praça.


O resultado dessas intervenções sem planejamento foi desastroso. A cidade perdeu uma linda vista, que era possível usufruir a partir do velho largo, deixou-se, obviamente, de se apresentarem ali as Cavalhadas, e a presença do prédio retangular do Salão Paroquial abafou o lugar ao impedir a boa circulação de ar.



O Salão Paroquial não deixa mais ver a Matriz


Mesmo quem nunca esteve em Pirenópolis, ao apear no centro da cidade percebe que a arquitetura das construções modernas destoa do restante. E isso é agravado pelo fato de a municipalidade, animada pela onda modernista que chegava, haver decidido construir uma praça (das mais horrorosas) sobre o que restou do largo.



Escadaria de pedra da praça, e ao fundo o casarão de Solon Fleury.


Segundo conta minha avó, uma das mais antigas moradoras do largo da Matriz, quando as máquinas começaram a revirar a terra para a construção da praça, encontraram um cemitério velho e muitos objetos antigos. Os ossos anônimos, provavelmente da época dos bandeirantes, foram levados para o Cemitério São Miguel, e o restante queimado. E eu penso cá com meus botões: que perda arqueológica sofreu Pirenópolis!



Banheiro público na praça central, uma triste imagem.


A municipalidade, se tinha a intenção de edificar uma praça no já mutilado largo, deveria ao menos ter elaborado um projeto arquitetônico afinado com a arquitetura do entorno. Mas não. Construíram uma praça com aproveitamento de lages de quartzito, um coreto quadrado e um muro-painel de retalhos de pedras.

Prédio do posto telefônico da Telegoiás ao lado da Matriz


Será que a intenção foi parecer com a arquitetura modernista de Brasília, tão à moda na época?! Seja lá quem idealizou o projeto, não deu certo. Ficou horroroso, embora persista já por meio século e exista ainda nos dias de hoje.





Um efeito tão negativo quanto a quebra de estética da região foi a obstrução da visão dos prédios históricos. Casarões centenários, como o da velha pensão Central, ou de larga história, como o do teatro, ficaram em segundo plano ante os gigantes caixotes modernos. O prédio dos Correios, por exemplo, é duma infelicidade arquitetônica!



Casarão de José de Pina e a Pensão Central têm a visão obstruída pela praça.


A presença desses edifícios modernos fora do traçado original da cidade, entre os tantos motivos acima descritos, também contribuiu para o distanciamento entre pessoas. Ainda nos dias atuais, o pirenopolino cultiva o hábito de colocar cadeiras nas calçadas para uma conversa informal ou mesmo rápida visita aos vizinhos, ali mesmo, na porta das casas. Antigamente, da casa de Sansa Lopes se avistava a de José de Pina, e da de Solon Fleury se via o Rex Hotel. Tudo isso agora é impossível.



Placa da inauguração da praça Central


by Adriano César Curado

Um comentário:

  1. Adriano César,

    Por sorte, é relativamente fácil exterminar a saudade de quase tudo e de quase todos,
    ou daquele lugar que ficou na memória: uma cidade, uma antiga casa. Podemos eliminar muitas saudades, enquanto outras vão surgindo. A saudade do gosto de uma comida, de um cheiro do passado, saudade não tem nada de trivial.

    Interfere em nossa vida de um modo às vezes sereno, às vezes não. É um sentimento bem-vindo, pois confirma o valor de que é ou foi importante para nós, e é ao mesmo tempo um sentimento incômodo, porque acusa a ausência, e as coisas ausentes sempre nos doem.

    Continue nos trazendo mais histórias de Pirenópolis,OK!
    Parabéns pela matéria.
    Até mais.

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