quinta-feira, 25 de fevereiro de 2016

“Manifestações culturais e a identidade de um povo.” Parte I: “Festa do Divino do Estado de Goiás.” Patrimônio Imaterial Brasileiro/Patrimônio Cultural da Humanidade

Um Folguedo capaz de movimentar o real e o imaginário das comunidades


Aproxima-se a realização dos festejos do Divino Espírito Santo com os complementos que compõem essa tradicional festa. Um Folguedo capaz de movimentar o real e o imaginário das comunidades, impulsionar a economia, unir pensamentos. Contagia, por si só!

Iniciamos essa matéria com um apelo, uma petição pública ao Iphan/Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, na pessoa da senhora superintendente Salma Saddi, seguindo o exemplo do Estado do Pará que Registrou o “Carimbó” como Patrimônio Imaterial Brasileiro. Registre a “Festa do Divino”: todas as festas do Divino Espírito Santo, com seus complementos, realizadas no estado de Goiás, como Patrimônio Imaterial Brasileiro/ Patrimônio Cultural da Humanidade.

Sugerimos a ampliação do “Registro da Festa de Pirenópolis” a todas as demais. Acredito que todos os lugares que mantêm essa tradição se desdobrarão na elaboração do INRC. Estado e municípios firmarão parcerias, concretas, na manutenção e na vitalidade dos saberes de cada um.

A Associação dos Amigos de Santa Cruz está com o Projeto/INRC elaborado; pronto a ser executado, bastando buscar a parceria de uma Instituição de ensino superior; apoio logístico da prefeitura municipal com recursos para execução.

Iniciamos essa matéria apresentando o Posfácio do livro da professora drª Maria Cristina Bonetti. Uma das inúmeras referências sobre a importância dos saberes como identificação de um povo. Há vários livros a serem consultados; várias teses, dissertações…

Recebi o convite da professora, drª Maria Cristina Bonetti para fazer o posfácio de seu livro como uma honra e, ao mesmo tempo, como um imenso desafio, pois, tecer comentários pertinentes à obra, de extraordinária amplitude, constitui uma tarefa importante.



Um livro, cujo eixo teórico e desenvolvimento versam sobre o papel da contradança no ritual de Pentecostes nas cidades de Pirenópolis e Santa Cruz de Goiás. Em uma linguagem singular e, ao mesmo tempo acadêmica, nos leva a uma viagem ao mundo das manifestações culturais, com recorte sobre as danças sagradas.

Apresenta, poeticamente, a mobilidade das manifestações culturais que por diversas vezes entram em estado de divergência entre o vivido e o pensado; entre o real e o ideal pela visível preocupação de alguns atores e/ou grupos em modificar, incluir ou destituir símbolos, ritos, ritmos com o intuito de “sair da mesmice” e “modernizar” para atender a demanda da “sociedade líquida” com seus valores efêmeros que transita em busca do novo, do espetacular, do exótico.

Uma profunda leitura sobre as potencialidades e fragilidades sociais e as mudanças decorrentes das interferências internas e/ou externas. Pirenópolis e Santa Cruz de Goiás, duas cidades históricas, do período aurífero: municípios importantes dentro da historiografia goiana!



Apesar da aculturação que busca homogeneizar as culturas, a fim de controlar as nações do mundo com as doutrinas capitalistas; apesar do “relógio mercador” controlador da sociedade atual; apesar da tentativa de feudalização da cultura (um bem que é de todos) estas cidades e outras relacionadas no estudo da autora, mantêm viva a memória que garante a vida das expressões culturais locais, capazes de construir, reconstruir, constituir e reconstituir a Identidade de um povo que se define na exaltação das diferenças; nas particularidades e singularidades de cada grupo/comunidade. Uma confirmação recorrente.

Quando se ouve falar em uma determinada manifestação cultural, imediatamente, desfila no imaginário o espaço que a detém; é esse o mote do magnifico trabalho apresentado pela professora drª Maria Cristina Bonetti.

Um livro que mostra as nuances da economia, da sociedade e da Identidade Cultural dos municípios de Pirenópolis e Santa Cruz de Goiás, por intermédio de suas culturas, principalmente, a contradança com seus mitos, símbolos, ritmos, conjunto de conhecimentos e comportamentos.

Segundo a autora, Pirenópolis acompanhou a modernidade e se deixou conduzir pela maré que chegou e incidiu diretamente na economia do município, tendo na cultura a inspiração para fomentar o turismo, gerar emprego e renda. Uma mobilidade identitária que caminha ao lado do progresso e desenvolvimento do município. Nessa nova estrutura foi abolida a contradança, que em tempos de antanho era desenvolvida com “aproximações” aos “sotaques” das contradanças de Santa Cruz de Goiás e Poconé/MT. Tudo dependia das possibilidades do Imperador que era a pessoa responsável pela organização da Festa do Divino, ocasião em que se apresentava a contradança.


Em Santa Cruz de Goiás, de acordo com pessoas entrevistadas pela autora, ainda, acontece a contradança, de forma singela, embora não mais “como antigamente” quando a comunidade se desdobrava para organizar, reunir vestimentas (roupas e acessórios). A partir do momento que o poder público se tornou “dono”, provedor da cultura, tudo mudou e os indivíduos que compõem os grupos culturais não mais carregam aquela simbologia. Apenas, participam; embora, ainda haja quem tenha realmente interesse na continuidade. Nunca houve um espaço adequado às apresentações. Mesmo assim, a contradança permanece e encanta juntamente à cavalhada, em Santa Cruz, desde 1816.

Drª Maria Cristina Bonetti esboça, brevemente, a História de Goiás com as nuances da cultura popular, da cultura das elites, o modo de ver o passado. Expande os resultados de seus estudos para conhecimento de todos. Ao fazer o trabalho de campo penetrou o cotidiano das cidades estudadas e percebeu como é conduzida cada realidade relacionada à cultura de cada grupo/comunidade.

Nesse intercâmbio de estudos dentro do misterioso e fascinante mundo da dança sagrada, a autora, partícipe do Movimento Cultural Brasileiro, numa linguagem enigmática, aflorando as ideias singulares, registra em seu livro “Contradança: Ritual e Festa de um Povo” o desvairado vai e vem da cultura com problemas recorrentes a serem resolvidos e os murmúrios leves de ícones das culturas locais que clamam pela salvaguarda e permanência dos saberes.

Por intermédio deste e de tantos outros tantos outros trabalhos, acadêmicos ou não, relacionados ao campo dos saberes, buscamos o “Reconhecimento” das manifestações culturais e religiosas aglutinadas aos festejos do “Divino Espírito Santo” em Goiás.

Iniciamos desde já a Campanha para Registro da “Festa do Divino do Estado de Goiás/Patrimônio Cultural da Humanidade” / “Patrimônio Imaterial Brasileiro”. Ou quiçá o Registro das festejos do Divino do Centro-Oeste.

Aparecida Teixeira de Fátima Paraguassú, historiadora, pós-graduada em Docência Universitária; poetisa, musicista, escritora… Titular/Representante, região Centro-Oeste, no Colegiado Nacional de Culturas Populares/ Conselho Nacional de Política Cultural; ex-presidente e atual secretária da Associação dos Amigos de Santa Cruz; acadêmica/Academia Aparecidense de Letras; acadêmica/membro/ fundador da Academia de Letras do Brasil/Seccional DF e Seccional Santa Cruz de Goiás; idealizadora da Iniciativa “Viver e Reviver Santa Cruz de Goiás”; “Viva e Reviva Santa Cruz”. Mantenedora do portal www.santacruzdegoias.net; correio eletrônico: paraguassu.fatima@gmail.com e fatipar@hotmail.com

Matéria publicada no jornal Diário da Manhã do dia 25/02/2016, Caderno Opinião Pública, p. 3.


Um comentário:

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Adriano Curado