Após diversas mudanças
de endereço, minhas coisas ficaram guardadas em caixas empilhadas.
Esta semana, com mais folga de tempo, resolvei abrir algumas delas
para ver o que tinha dentro. Foi então que encontrei uma
preciosidade. Acondicionadas em um caixote de ferro, longe de
qualquer fonte eletromagnética, estavam anos de gravações de
entrevistas em velhas fitas cassete. São muitos os depoentes, mas a
maior quantidade de material é do João José de Oliveira, cerca de
dez horas, onde ele abre o livro da história goiana e se dedica a
comentá-lo.
Morto com quase cem anos
de idade (12.6.1907 - 19.05.2005), João José vivenciou o século XX como poucos e me doou
boa parte de sua sabedoria. Fomos muito amigos e ele frequentou minha
casa por anos. Eu tomava o cuidado de gravar seus assuntos
intermináveis, pois sabia que um dia teriam valor. Isso foi há
quase vinte anos atrás.
João José de Oliveira
era muito popular em Pirenópolis por conta de sua lucidez e também
inteligência. Nunca inventava nada. Se não sabia, não opinava.
Quando ainda criança, ele vendia quitandas na rua e gostava de ouvir
o que os antigos contavam. Com o tempo, criou um repertório
histórico de dar inveja a muita gente.
Recentemente comprei um
aparelho eletrônico que lê as fitas cassete e converte seu conteúdo
em arquivo mp3. Aos poucos eu copio as fitas e gravo num pen drive
que ouço no som do carro. Viajo com a voz forte e firme de João
José na narrativa dos causos pirenopolinos. Na gravação de hoje
ele me conduziu pela cidade na primeira metade do século XX e
comentou sobre os moradores das casas daquele época. Cada história!
Minha intenção é
digitalizar os depoimentos e transformá-los em livro. Algo simples,
apenas o registro da oralidade, para servir de fonte de pesquisa para
futuros historiadores e estudantes. Mas por enquanto eu me delicio
com essas histórias sem igual.
Adriano Curado
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