sexta-feira, 19 de julho de 2013

Uma festa perto do céu


Pintura de Sérgio Pompeo retrata com perfeição a festa


“De um grupo de pirenopolinos, chefiado por Cristóvão José de Oliveira e sob as bênçãos do inesquecível padre vigário Santiago Uchôa, partiu a iniciativa da construção de um santuário no pico mais elevado dos Pireneus.

Primeira missa no Morro dos Pireneus - 1927

"No dia 19 de julho de 1927, com a assistência de trinta e cinco pessoas, foi rezada, por aquele saudoso padre vigário, a primeira missa naquelas alturas.


Segunda Missa no Morro dos Pireneus - 1928

"No primeiro altar temporário, via-se a seguinte expressão: Christus heri, hodie et in secula. O atual está colocado sobre um maciço de pedra e cimento.

Procissão da Santíssima Trindade aos Pireneus - julho 2008

"Na ocasião da primeira missa, por sugestão de Cristóvão José de Oliveira, aceita por todos, inclusive pelo padre vigário, ficou resolvido que a festa em homenagem à SS. Trindade se realizasse no plenilúnio de julho.

Primeira Capela construída nos Pireneus
Década de 1930

"A segunda missa (que já teve caráter de romaria e com aprovação da autoridade eclesiástica) foi rezada ao pé do cruzeiro, no dia 5 de julho de 1928 (plenilúnio).

Paisagem avsitada do alto dos Pireneus - junho 2004

"No dia 6 de abril de 1929, erigiu-se, no pico do meio, o cruzeiro que lá se encontra e, no dia seguinte, levantou-se outra cruz, já agora no pico mais baixo, em homenagem às três pessoas da SS. Trindade.” (Jarbas, Esboço.. pp. 547/9).


Fotografia da Comissão Cruls

Com essas palavras de Jarbas Jayme, nosso brilhante historiador, inicia-se este artigo, que pretende contar um pouco da Festa do Morro, que já completa 86 anos de tradição. E por ser realizada em altitudes tão elevadas, tal festa sempre me pareceu muito perto do céu.

Largo do Bonfim - reunião para procissão
 até o Morro dos Pireneus julho 2008

Localizado a 20 KM de Pirenópolis, o Pico dos Pireneus tem 1.385 metros de altitude e é o ponto mais alto da região, que é divisora das águas de duas importantes bacias hidrográficas da América do Sul: a Platina e a Tocantinense. Berçário de espécimes raros, o local tornou-se Parque Estadual em 1987, com área de 2,833,26 há. Mas bem antes disso, em 1892, por lá passou a Comissão Cruls para demarcar o quadrilátero do Distrito Federal.

Meio de transporte usado
para se chegar à Festa na década de 1950

A Festa do Morro esteve muito ligada à história da minha família. Meus pais acampavam lá quando eu era criança. Tudo era improvisado, do banho à comida. Minha mãe mandava uma costureira fazer pijamas de flanela grossa, com direito a gorro e pompom na ponta, mas de tamanho exagerado para minha altura, que era para não perder: “Criança cresce rápido” – justificava. Eu ficava com vergonha daquele pijama imenso, mas de madrugada, quando a temperatura caía, agradecia o cuidado de minha mãe.

Imagem da Santíssima Trindade
a ser transportada em procissão até os Pireneus
Julho 2008.

Depois eu cresci e passei a acampar ali com os amigos. Tinha noitadas de violão ao redor duma fogueira, causos de assombração, pegadinhas. No dia seguinte, ainda cedo, alguém propunha subir nos picos mais baixos e a gente sempre se arrependia porque o caminho é difícil.

Cristóvão de Oliveira no acampamento
da Festa do Morro - década de 1960

Teve um ano que o saudoso Maurício Lopes (Maurício da Babilônia) foi festeiro e fez uma festa parecida com a do Divino. Teve foguetório, banda, catira. Ele mandou matar um boi e serviu carne assada e cerveja a noite toda para o povo. Nunca mais houve uma festa assim.

Festa do Morro - década de 1970

Não gosto de subir no pico da capelinha, tenho receio de alturas. Um ano vi um moço, acho que era o Luiz de Maura de Dona Sinhazinha, escalar aquela antena que há lá em cima e sentar-se no seu topo. A estrutura de metal balançava para lá e para cá e eu pensava: “Meu Deus, ele é louco”.

Início da procissão em direção aos Pireneus - julho 2008

 Quando anoitece, dá para ver as luzinhas de muitas cidades, inclusive Brasília. E logo vem a majestosa lua cheia impor sua soberania sobre a noite. Nesse momento, o vento geladíssimo nos confidencia que devemos descer, e então notamos que já está escuro e que as pedras traiçoeiras nos convidam ao abismo! Sinistro, mas é assim que eu sempre me senti.

Estrada percorrida para se chegar à Festa
Década de 1930

Este ano a Festa do Morro ocorrerá entre os dias 22 (lua cheia) a 26 de julho. A fiscalização no local é rigorosa, principalmente depois de um incêndio que começou num acampamento há pouco tempo e destruiu grande área do parque. Haverá proibição de fogos de artifício e som automotivo. Quem desejar acender fogueira terá que seguir regras de segurança.

Adriano César Curado

Última participação de Christóvam na
Festa do Morro - final da década de 1960

Fonte:

CURADO, Glória Grace. Pirenópolis; Uma Cidade para o Turismo. Goiânia: Oriente, 1980
JAYME, Jarbas. Esboço histórico de Pirenópolis. 2 v. Goiânia: Imprensa da UFG, 1971.
JAYME, José Sisenando. Goiás Humorismo e Folclore. Edição do autor: 1990.

A Festa do Morro – Pirenópolis/GO. Artigo de Tereza Caroline Lôbo e João Guilherme Curado, publicado em http://festaspopulares.iesa.ufg.br/pages/3741, acessado em 18.07.2013.
Minhas próprias recordações.

Fotos: sobre as imagens aqui publicadas, as antigas pertencem à família de Cristóvão José de Oliveira. As da procissão são de autoria de João Guilherme Curado.

Festa do Morro - década de 1960


Bispo Dom Emanuel Gomes de Oliveira e
frei Tobe no alto de um dos três picos dos Pireneus
Década de 1930

O bispo Dom Emanuel Gomes de Oliviera,
Pedro Ludovico Teixeira presentes na
Festa do Morro na década de 1940

Procissão da Santíssima Trindade aos Pireneus - julho 2008

Capela nos Pireneus - década de 1930

* * *

3 comentários:

  1. De tudo que você já escreveu até hoje, este foi seu melhor texto. Uma grande composição poética, uma prosa-história maravilhosa. Meus parabéns.

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  2. Eu já acampei nos Pireneus mas não foi bom. Muita bagunça, som automotivo, excessos. Fico contente de saber que este ano será diferenciado.

    Lindo seu texto, Adriano, meus parabéns.

    Você é um historiador-poeta!

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  3. Ulysses Jayme (via Facebook)22 de julho de 2013 às 12:43

    Pra quem nao sabe da história o Morro dos Pireneus fica em Pirenopolis e ha muitos anos atras essas terras eram do meu Bisavo, e religioso como ele era, decidiu construir uma Igrejinha no Pico do Morro, em mencao ao Divino Espirito Santo. Dai, quando pronta, reuniu a Familia e amigos para uma Missa de inauguracao. So que naquela epoca, sem carro e sem energia faziam a Romaria na Noite de lua Cheia. De la pra ca, virou uma tradicao e boa parte da cidade vai pra la e acampa ate a Lua cheia, quando tem a missa. É claro que é uma grande festa com muita comida, muita musica e Escaladas nos picos. Lembrando todo mundo fica acampado, em barracas, mas muito divertido. Ate hoje a minha Familia vai quase toda, irmaos, tios, primos, desde os octagenarios ate os bebes. E la esta o Igor, sozinho, por vontade própria. Muito bom!

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