Pintura de Sérgio Pompeo |
Como toda família
pirenopolina, a minha também sempre esteve presente na Festa da
Capela do Rio do Peixe. A mãe de minha avó Maria, bisavó Adelaide
Jayme, acampava lá todos os anos. Na verdade, dona Adelaide era uma
devota fervorosa de Senhora Santana e por isso fazia questão de
comparecer todos os anos à festança à beira do corgo Caxiri.
E por
ir lá todos os anos, minha bisa fez muitas amizades, foi madrinha de
casamentos da roceirada que ia à Capela com suas mulas de carga ou
carros de bois. Por final das contas, ela tinha mais de cem afilhados
de batismo.
Adelaide Jayme Siqueira |
Há inclusive uma
história interessante envolvendo dona Adelaide. Contam que ela
batizou uma criança, que nunca mais viu. Passado o tempo, eis que
bate palmas à porta de sua casa em Pirenópolis, lá na rua Aurora,
uma moça feia e desengonçada. Era uma das afilhadas lá da Capela.
Conversa vai, conversa vem, dona Adelaida diz:
―
Minha filha, como sua madrinha nunca lhe deu presente algum,
quando você se casar, lhe darei o enxoval completo.
―
Não precisa, madrinha.
―
Faço questão. Uma moça bonita e formosa como você merece
um enxoval bonito.
Quando a moça se foi,
minha tia Inácia, que morava com a mãe, disse:
―
Que é isso, mãe. Ficou doida? Um enxoval completo fica muito
caro.
―
Não se preocupe, minha filha, essa mulher horrorosa jamais
vai encontrar um noivo.
Estava enganada. No ano
seguinte, lá na festa da Capela, dona Adelaide se encontra com a
afilhada de mãos dadas. Uma interrogação na testa, olhares
trocados com Inácia, e eis que vem a bomba:
―
Bença, madrinha.
―
Bençoi – respondeu seca.
―
Esse é o meio noivo, vamos nos casar pro ano que vem. A
senhora está lembrada da promessa?
Córrego Caxiri |
Dona Adelaide faleceu em
1980, mas minha avó Maria continuou a peregrinação da mãe, de
modos que nós, seus netos, íamos todos os anos acampar aos pés de
Santana. Eram umas barracas coletivas, de tecido claro que encardia
aos poucos naquela poeira vermelha e que não conseguiam conter a
ventania gelada da madrugada.
Naquela época, não havia banheiro na Capela, os banhos eram
improvisados e a comida nunca saía na hora certa. Mas ainda assim
era maravilhoso acampar ali.
Adriano César Curado
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