SÉRIE BIOGRAFIAS
CÉSAR ROQUETE DE AMORIM
César
Roquete de Amorim (Pirenópolis 19.01.1867 – 09.08.1925) foi um
homem do campo, de hábitos simples, que sabia levar a vida com alegria e
entusiasmo.
Casou em
08.10.1900 com sua prima Maria das Dores de Pina (filha de Francisco
Herculano de Pina e de Bárbara Generosa da Veiga). Ficou viúvo e
casou pela segunda vez, em 28.09.1912, com Hosana de Siqueira (filha
de Manuel José de Siqueira e Rosa Gomes da Silva), com tem teve as
filhas: Hosanny, Belisária e Rosa.
Sobre
ele encontramos o seguinte relato no livro Terra Branca Terra
Vermelha, de Maria Adélia Mendonça Arantes:
“Quem
visse o tio César perto dos irmãos pensaria que eram estranhos. Ele
era um verdadeiro homem do campo. Madrugador, trabalhador sem se
importar com a saúde. Era paciente, tinha a fala mansa e gostava da
gente por causa de minha mãe, que ele adorava.
Eu cresci de uma vez, era magra e pelo drama da morte de minha mãe e pela gripe espanhola que tive, sofria um fastio horrível. Eu também não conseguia dormir. Revia o sofrimento de minha mãe, ela suplicando a Dr. Olavo para não deixá-la morrer. Vivia tudo de novo. Comecei a ter batedeira, tristeza, vontade de chorar sem motivo. Cheguei a pensar que estava sofrendo do coração. Papai levou-me ao médico e ele disse que era da idade. Tio César foi lá em casa um dia e falou para meu pai que eu precisava tomar ar puro; que me deixasse passar uma semana na sua chácara; que ele me levaria e que papai poderia buscar-me depois. Fui contente com ele. Ele tirava leite cedo e levava para mim, na cama, uma caneca de leite espumoso com canela, açúcar e um pouquinho de conhaque. Nos primeiros dias fiquei meio tonta, depois me acostumei. Ele me falava:
—
Levanta, preguiçosa, vai até p'ra lá da casa do carro tornar sol.
Eu
sentia uma dor nas pernas que me dava desânimo de andar. Dava uma
voltinha e quando chegava, estava pondo a alma pela boca. No começo
não tinha apetite. A tia Hosana, que era boa demais, fazia uma
comidinha gostosa, fazia um mexidinho na panela e dava capitão (dava
com a mão pra gente comer) para mim e para as filhas dela. Eu
comecei a alimentar-me melhor, a ter mais apetite. Meu pai esteve lá
e levou-me um preparado com ferro. Tio César dizia-me:
— Você
estava parecendo uma estaca, feia e magra, mas agora já tem uma
corzinha,
Se eu
pudesse ter ficado lá mais uns dez dias teria voltado melhor. Com o
remédio, a dor das pernas acabou e tive mais apetite. Tio César
queria que eu ficasse mais tempo, mas não podia. Minha avó estava
sozinha com as meninas e precisava de mim. Quando eu era menor, meu
tio falava:
—
Maria, vamos pra chácara, os pés de amendoim estão grandes e os
amendoins sequinhos. Quando bate o vento faz um barulhinho assim:
chuím, chuím, chuím.
E eu,
bobinha, acreditava.
Pouco
tempo depois, tio César começou a ficar doente, a passar mal, sem
nunca procurar um médico. Vovó Bili, preocupadíssima, contou para
tio Lulu, que o levou para Araguari e deixou-o aos cuidados de Dr.
Adalcindo e Dr. Odilom. Quando voltou, ninguém o reconhecia: daquele
velho doente, voltou um César alegre, contador de piadas, que
gostava de agradar as crianças com frutas madurinhas, cana já
cortada em gomos e doces. Voltou sadio, com novas ideias, pensando em
contratar pessoas para ajudá-lo na tiragem do leite, na plantação
de horta e preparação dos queijos. Durante dois anos tio César
passou bem. Mas os médicos já haviam avisado aos seus irmãos que,
quando voltasse a crise, poderia ser fatal. E foi o que aconteceu.
Ele aproveitou bem o tempo, fez o que queria, deu muito gosto para a
família.”
Depois de sua morte, a viúva, Hosana, morou certo tempo sozinha com as filhas na chácara, onde chegou a matar uma onça quase dentro de casa. Após isso, achou prudente mudar-se para a Pirenópolis. Inexperiente, confiou seu patrimônio a quem não devia e acabou sem nada. Ao falecer morava de favores na casa da filha Hosanny.
Eu a conheci já bem idosa, pois ela morreu quase centenária. Adorava seus causos antigos e também seus docinhos, que ela chamava de caramelos.
Depois de sua morte, a viúva, Hosana, morou certo tempo sozinha com as filhas na chácara, onde chegou a matar uma onça quase dentro de casa. Após isso, achou prudente mudar-se para a Pirenópolis. Inexperiente, confiou seu patrimônio a quem não devia e acabou sem nada. Ao falecer morava de favores na casa da filha Hosanny.
Eu a conheci já bem idosa, pois ela morreu quase centenária. Adorava seus causos antigos e também seus docinhos, que ela chamava de caramelos.
Adriano
César Curado
Fonte:
JAYME, Jarbas. Famílias Pirenopolinas (Ensaios Genealógicos).
Goiânia, Editora Rio Bonito, 1973. Vol. 1.
ARANTES, Maria Adélia Mendonça. Terra branca, terra vermelha. Rio
de Janeiro: Editora Galo Branco, 2007.
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Adriano Curado