Pintura de Sérgio Pompeo retrata com perfeição a festa |
“De um
grupo de pirenopolinos, chefiado por Cristóvão José de Oliveira e
sob as bênçãos do inesquecível padre vigário Santiago Uchôa,
partiu a iniciativa da construção de um santuário no pico mais
elevado dos Pireneus.
"No dia
19 de julho de 1927, com a assistência de trinta e cinco pessoas,
foi rezada, por aquele saudoso padre vigário, a primeira missa
naquelas alturas.
Segunda Missa no Morro dos Pireneus - 1928 |
"No primeiro altar temporário, via-se a seguinte expressão: Christus heri, hodie et in secula. O atual está colocado sobre um maciço de pedra e cimento.
Procissão da Santíssima Trindade aos Pireneus - julho 2008 |
"Na
ocasião da primeira missa, por sugestão de Cristóvão José de
Oliveira, aceita por todos, inclusive pelo padre vigário, ficou
resolvido que a festa em homenagem à SS. Trindade se realizasse no
plenilúnio de julho.
Primeira Capela construída nos Pireneus Década de 1930 |
"A
segunda missa (que já teve caráter de romaria e com aprovação da
autoridade eclesiástica) foi rezada ao pé do cruzeiro, no dia 5 de
julho de 1928 (plenilúnio).
Paisagem avsitada do alto dos Pireneus - junho 2004 |
"No
dia 6 de abril de 1929, erigiu-se, no pico do meio, o cruzeiro que lá
se encontra e, no dia seguinte, levantou-se outra cruz, já agora no
pico mais baixo, em homenagem às três pessoas da SS. Trindade.”
(Jarbas, Esboço.. pp. 547/9).
Fotografia da Comissão Cruls |
Com
essas palavras de Jarbas Jayme, nosso brilhante historiador,
inicia-se este artigo, que pretende contar um pouco da Festa do
Morro, que já completa 86 anos de tradição. E por ser realizada em
altitudes tão elevadas, tal festa sempre me pareceu muito perto do
céu.
Largo do Bonfim - reunião para procissão até o Morro dos Pireneus julho 2008 |
Localizado
a 20 KM de Pirenópolis, o Pico dos Pireneus tem 1.385 metros de
altitude e é o ponto mais alto da região, que é divisora das águas
de duas importantes bacias hidrográficas da América do Sul: a
Platina e a Tocantinense. Berçário de espécimes raros, o local
tornou-se Parque Estadual em 1987, com área de 2,833,26
há. Mas bem antes disso, em 1892, por lá passou a Comissão Cruls para
demarcar o quadrilátero do Distrito Federal.
Meio de transporte usado para se chegar à Festa na década de 1950 |
A Festa
do Morro esteve muito ligada à história da minha família. Meus
pais acampavam lá quando eu era criança. Tudo era improvisado, do
banho à comida. Minha mãe mandava uma costureira fazer pijamas de
flanela grossa, com direito a gorro e pompom na ponta, mas de tamanho exagerado para minha altura, que era para não perder: “Criança
cresce rápido” – justificava. Eu ficava com vergonha daquele pijama imenso, mas de madrugada, quando a temperatura caía,
agradecia o cuidado de minha mãe.
Imagem da Santíssima Trindade a ser transportada em procissão até os Pireneus Julho 2008. |
Depois
eu cresci e passei a acampar ali com os amigos. Tinha noitadas de
violão ao redor duma fogueira, causos de assombração, pegadinhas.
No dia seguinte, ainda cedo, alguém propunha subir nos picos mais
baixos e a gente sempre se arrependia porque o caminho é difícil.
Cristóvão de Oliveira no acampamento da Festa do Morro - década de 1960 |
Teve um ano que o
saudoso Maurício Lopes (Maurício da Babilônia) foi festeiro e fez
uma festa parecida com a do Divino. Teve foguetório, banda, catira.
Ele mandou matar um boi e serviu carne assada e cerveja a noite toda
para o povo. Nunca mais houve uma festa assim.
Festa do Morro - década de 1970 |
Não gosto de subir no pico da capelinha, tenho receio de alturas. Um ano
vi um moço, acho que era o Luiz de Maura de Dona Sinhazinha, escalar
aquela antena que há lá em cima e sentar-se no seu topo. A
estrutura de metal balançava para lá e para cá e eu pensava: “Meu
Deus, ele é louco”.
Início da procissão em direção aos Pireneus - julho 2008 |
Quando anoitece, dá para ver as luzinhas de muitas cidades, inclusive Brasília. E logo vem a majestosa lua cheia
impor sua soberania sobre a noite. Nesse momento, o vento geladíssimo
nos confidencia que devemos descer, e então notamos que já está
escuro e que as pedras traiçoeiras nos convidam ao abismo! Sinistro,
mas é assim que eu sempre me senti.
Estrada percorrida para se chegar à Festa Década de 1930 |
Este ano
a Festa do Morro ocorrerá entre os dias 22 (lua cheia) a 26 de
julho. A fiscalização no local é rigorosa, principalmente depois
de um incêndio que começou num acampamento há pouco tempo e
destruiu grande área do parque. Haverá proibição de fogos de
artifício e som automotivo. Quem desejar acender fogueira terá que
seguir regras de segurança.
Adriano
César Curado
Fonte:
CURADO, Glória Grace. Pirenópolis; Uma Cidade para o Turismo. Goiânia: Oriente, 1980
JAYME, Jarbas. Esboço histórico de Pirenópolis. 2 v. Goiânia: Imprensa da UFG, 1971.
JAYME, José Sisenando. Goiás Humorismo e Folclore. Edição do autor: 1990.
A Festa do Morro – Pirenópolis/GO. Artigo de Tereza Caroline Lôbo e João Guilherme Curado, publicado em http://festaspopulares.iesa.ufg.br/pages/3741, acessado em 18.07.2013.
Minhas próprias recordações.
Fotos: sobre as imagens aqui publicadas, as antigas pertencem à família de Cristóvão José de Oliveira. As da procissão são de autoria de João Guilherme Curado.
Fotos: sobre as imagens aqui publicadas, as antigas pertencem à família de Cristóvão José de Oliveira. As da procissão são de autoria de João Guilherme Curado.
Festa do Morro - década de 1960 |
Bispo Dom Emanuel Gomes de Oliveira e frei Tobe no alto de um dos três picos dos Pireneus Década de 1930 |
O bispo Dom Emanuel Gomes de Oliviera, Pedro Ludovico Teixeira presentes na Festa do Morro na década de 1940 |
Procissão da Santíssima Trindade aos Pireneus - julho 2008 |
Capela nos Pireneus - década de 1930 |
* * *
De tudo que você já escreveu até hoje, este foi seu melhor texto. Uma grande composição poética, uma prosa-história maravilhosa. Meus parabéns.
ResponderExcluirEu já acampei nos Pireneus mas não foi bom. Muita bagunça, som automotivo, excessos. Fico contente de saber que este ano será diferenciado.
ResponderExcluirLindo seu texto, Adriano, meus parabéns.
Você é um historiador-poeta!
Pra quem nao sabe da história o Morro dos Pireneus fica em Pirenopolis e ha muitos anos atras essas terras eram do meu Bisavo, e religioso como ele era, decidiu construir uma Igrejinha no Pico do Morro, em mencao ao Divino Espirito Santo. Dai, quando pronta, reuniu a Familia e amigos para uma Missa de inauguracao. So que naquela epoca, sem carro e sem energia faziam a Romaria na Noite de lua Cheia. De la pra ca, virou uma tradicao e boa parte da cidade vai pra la e acampa ate a Lua cheia, quando tem a missa. É claro que é uma grande festa com muita comida, muita musica e Escaladas nos picos. Lembrando todo mundo fica acampado, em barracas, mas muito divertido. Ate hoje a minha Familia vai quase toda, irmaos, tios, primos, desde os octagenarios ate os bebes. E la esta o Igor, sozinho, por vontade própria. Muito bom!
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