sexta-feira, 12 de julho de 2013

O Revoltosos


Luís Carlos Prestes à época da Coluna

Luís Carlos Prestes (Porto Alegre, 3 de janeiro de 1898 — Rio de Janeiro, 7 de março de 1990) foi um militar e político brasileiro. Prestes estudou engenharia na Escola Militar do Realengo, no Rio de Janeiro, atual Academia Militar das Agulhas Negras (AMAN).


Em outubro de 1924, já como capitão, Prestes liderou a revolta tenentista na região das Missões, em Santo Ângelo, no Rio Grande do Sul. Lutando contra o governo de Arthur Bernardes, os jovens oficiais do Exército, os "tenentes", pretendiam levantar a população contra o poder da oligarquia governante e, por meio da revolução, exigir reformas políticas e sociais, como a renúncia de Bernardes, a convocação de uma Assembléia Constituinte e o voto secreto.


Cortando as linhas do cerco militar do governo, Prestes se dirigiu para Foz do Iguaçu, onde se uniu aos paulistas, formando o contingente rebelde denominado Coluna Prestes, que percorreu, com 1.500 homens, durante dois anos e cinco meses, cerca de 25.000 km do Brasil. A marcha terminou em 1927, quando os revoltosos se exilaram na Bolívia e na Argentina. (Dicionário Histórico-Biográfico Brasileiro - Fundação Getúlio Vargas)


A Coluna

Em seu brilhante livro “A Coluna Prestes”, a historiadora Anita Leocádia Prestes nos conta do efeito da propaganda oficial sobre a população que estava no trajeto da marcha. Falavam que os “Revoltosos”, como eram conhecidos os seguidores de Luís Carlos Prestes, violentavam mulheres, saqueavam as casas, furtavam bebês etc.


“A Coluna Prestes foi um movimento político-militar brasileiro existente entre 1925 e 1927, ligado ao tenentismo, de insatisfação com a República Velha, exigência do voto secreto, defesa do ensino público e a obrigatoriedade do ensino primário para toda população” (Wikipédia). Suas pretensões eram legítimas e são ainda até atuais, mas os “coronéis” detentores do poder, obviamente, se opunham a mudanças. Então a arma principal era espalhar o terror na população.



Conflitos e abusos é certo que existiram. E não poderia ser diferente, pois na sua maioria eram homens rudes, sem muita instrução, diferente dos líderes do movimento. João José de Oliveira, que faleceu quase centenário e com impecável memória, contou-me que os fazendeiros de Pirenópolis mandaram vir seus camaradas das fazendas, armaram-nos de carabinas e mosquetões remanescentes da Guerra do Paraguai, e foram todos para trincheiras defender a cidade.

Maria Jayme de Pina Siqueira, hoje com 90 anos de idade e excelente memória, era uma criança à época, mas nesta entrevista nos conta o que ouviu de seus pais e parentes:

“Quando o Revoltosos chegaram na Babilônia, foram apeando e falaram para dona Mariquinha, mulher do sô Biça e irmã de dona Semírames, que era para ela matar vaca para eles fazerem churrasco. Sô Biça já estava doente e não pôde intervir. Era aquela homaiada montada a cavalo!




Dona Mariquinha falou que não fazia. Era muito valente e disse que quem mandava lá era ela. Eles responderam: “Cala a boca, velha. Aqui agora quem manda somos nós. Entra lá e derruba três vacas dela para fazer churrasco”. E assaram carne a noite inteira.

Quando saíram da Babilônia, no trajeto quem eles encontraram a cavalo fizeram acompanhar a Marcha. O grupo matou gente aqui perto da Babilônia. Pegaram Antônio Jayme, irmão da minha mãe (Adelaide), na estrada e fizeram ele montar a cavalo e seguir o bando. Mas ele fugiu deles. Procuraram ele demais para matar, porque ele fugiu da ternada que ele estava nela. Ele entrou num pasto e ficou escondido até eles irem embora.


Aí, eles estavam no Mar e Guerra e falaram que vinham para Pirenópolis. A notícia correu! Eu me lembro que minha mãe tinha uma latinha de moedas de prata e enterrou debaixo de uma limeira. Eu era pequena, mas nós ficamos na nossa casa. O povo todo ficou esperando eles aqui. Mãe com filho pequeno chorando. Foi onde Sá Bindita de Balduíno falou para Maria de Eufêmia: “Vamos pro mato. É o único jeito de safar”. Maria de Eufêmia falou: “Deus é grande!”. E Bindita respondeu: “Qual! O mato é maior!”

Daí o comando deles falou assim: “Sabe que nós não vamos entrar lá!” (em Pirenópolis). Dizem que empinaram os cavalos na Cruz das Almas (entrada da cidade), mas voltaram para trás. O Senhor do Bonfim não deixou eles entrarem aqui”.


Lá em Palmeiras eles entraram praquelas lojas tudo, mas Ranulfo Jayme pôs um pano na cabela e falou: “Estamos todos com bexiga”. Aí eles fugiram, como medo de pegar a doença neles.

Essas manifestações aí na televisão agora, se brincar vira revoltoso de novo.”

A Irmã Luzia Curado, filha de Luiz Augusto Curado e Lina Valle, concedeu-me uma entrevista em que conta uma história inusitada sobre a Coluna Prestes. Apesar das trincheiras armadas na cidade para combatê-los, um médico dos militares se dispôs a entrar em Pirenópolis para tratar o menino José:


“Por ocasião dos revoltosos, foram todos fazer barricadas, trincheiras, para evitar deles entrarem em Pirenópolis. Passavam a noite toda nas trincheiras. José pegou um resfriado muito forte, tomou tanta aspirina que quando ele começou a suar não parava mais. Foi preciso chamar o médico dos Revoltosos. Eu me lembro do médico entrar lá em casa fardado, com uma maletinha. Eles não chegaram a entrar em conflito, apenas atacaram as fazendas, carregaram as coisas e roubaram cavalos.”


Adriano César Curado

Fonte:
CARONE, Edgard. O tenentismo. São Paulo: Ed. Difel, 1975.
MOREIRA LIMA, Lourenço. A Coluna Prestes – marchas e combates. 3ª ed. São Paulo: Ed. Alfa-Omega, 1979.
PRESTES, Anita Leocádia. Uma epopeia brasileira: a Coluna Prestes. São Paulo:Ed.Moderna, 1995.
PRESTES, Anita Leocádia. A Coluna Prestes. 4ª ed. São Paulo: Ed. Paz e Terra, 1997.

TELES, José Mendonça. A Coluna Prestes em Goiás. Goiânia: Kelps, 2008.


Entrevista:
Braz Mendonça
João José de Oliveira
José Mendonça Teles
Luzia Curado

Maria Jayme de Siqueira Pina
Maria Jayme de Siqueira Pina


* * *

10 comentários:

  1. Interessante esse seu texto porque eu sempre ouvi dizer que eles eram bandidos sanguinários, que faziam bem isso mesmo: estupravam, saqueavam e matavam. Agora vem uma visão diferenciada da coluna. Super legal sua postagem, parabéns.

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Esse texto aí não corresponde à verdade. Meu avô tinha fazenda no município de Goias velho … esses guerrilheiros simplesmente entravam para a sede da fazenda, matava as criações, comiam tudo que tinham na dispensa, a família teve que se esconderem na mata, com crianças pequenas.
      Eles botavam terror sim, -estuprava, matava, judiava, roubavam tudo, eram guerrilheiros sim, treinados pela guerrilha comunista de Luiz Carlos Prestes.

      Excluir
  2. Minha avó conta que todo mundo ficou morrendo de medo, mas que o Senhor do Bonfim não deixou eles entrarem aqui. A história é igual a essa que você contou.

    ResponderExcluir
  3. E o povo, como sempre se ferrando. Primeiro, o governo que quer se manter no poder e para isso usa da propaganda para tocar pânico no sertão. Depois vêm o tais "revoltosos" que aumentam ainda mais esse pânico e saqueiam os pobres roceiros, tirando-lhes o pouco que possuem para o sustento.

    ResponderExcluir
  4. Maria Carmo Maroca Freire Queiroz16 de julho de 2013 às 12:34

    A figura do Capitão Luís Carlos Prestes impressiona pelo seu idealismo em mostrar para o povo as mazelas de desmandos do país (hoje é diferente, muito diferente!!! rsrsrs) mas há controvérsias, por onde eles passavam deixavam rastros de prejuízos, arruaças, causando pavor nos humildes proprietários de terras e rebanhos, verdadeiros assaltos!!!. Ouvi muitas histórias contadas por meu pai a respeito desses revoltosos. A história nos conta de outra forma, mas na realidade, para os incultos da época, era um terrorismo!!!

    ResponderExcluir
  5. DOUGLAS MARQUES DE ALMEIDA SILVA17 de julho de 2013 às 09:47

    O povo pobre, de pés no chão, que morava no sertãozão, é que padeceu realmente com essa Coluna. Isso porque os homens chegavam, tomavam o que ele tinham de mais precioso (uma leitoa, um capado, uma égua) e iam embora opor-se ao governo. Ou seja, desde aqueles tempos, quem se ferrava era mesmo o povo brasileiro. Para mim, não são heróis.

    ResponderExcluir
  6. Ademar de Mendonça Filho17 de julho de 2013 às 20:17

    Uma passagem interessante, é que a tia Mariquinha estava cozinhando feijões bichados p alimentar os porcos, mas, quem comeu os ditos feijões, foram os revoltosos e juntamente c o comandante, Luis Carlos Prestes. No final, agradeceram e partiram.

    ResponderExcluir
  7. Eu tambem ouvi de minha mãe , muitas historias dos revoltosos, eles apeavam na casa de minha avó Santinha(Dona Ana), pediam biju, sequilhos, cafe fresco, só não levaram minha mãe por que ela era deficiente visual,mas muito bonita.

    ResponderExcluir
  8. COMO SEMPRE OS POBRES SÃO OS Q MAIS SOFREM, ATÉ NUMA REVOLTA Q DIZIAM Q ERA P O BEM D TODOS.

    ResponderExcluir
  9. Gostaria de conversar com o mantenedor da página a respeito desse registro. Pois a familia da minha avó sofreu uma chacina na passagem deles pela região, e isso não pode ser esquecido. Minha avó perdeu a mãe gravida, irmãos, cunhadas e sobrinhos na chacina. Só sobreviveu porque a mãe escondeu ela e os outros pequenos no mato antes de ser assassinada.

    ResponderExcluir

Minhas leitoras e meus leitores, ao comentarem as postagens, por favor assinem. Isso é importante para mim. Se não tiver conta no Google, selecione Nome/URL (que está acima de Anônimo), escreva seu nome e clique em "continuar".

Todas as postagens passarão por minha avaliação, antes de serem publicadas.

Obrigado pela visita a este blog e volte sempre.

Adriano Curado