No
largo, da esquerda para a direita: casarão de José de Pina, Pensão
Central, a barriguda, o atual Rex Hotel, o teatro e o casarão onde
nasceram os patriarcas da família Jayme e Sá.
As cidades históricas goianas geralmente cresciam em volta de um largo (área urbana espaçosa na junção de ruas), onde havia templos, repartições públicas, casas dos coronéis, e por aí vai. Ali aconteciam as festas, profanas ou religiosas, as manifestações políticas, além de servir de referencial para os recém-chegados.
A Cidade de Goiás tem ainda hoje vários largos, como o do Chafariz, que cito por ser o mais famoso. Igualmente em Corumbá de Goiás, nossa vizinha irmã, existem na atualidade largos que sobreviveram às ambições imobiliárias dos gananciosos.
Até
a década de 1960, existia em Pirenópolis um largo imenso que circundava
a igreja Matriz, ia desde o início da rua do Rosário até a rua Nova.
Por conta da grandiosidade desse largo, o grande templo se destacava
isolado e nenhuma construção lhe tirava o brilho. Era óbvio que a Matriz
ali está por conta de cálculos bem feitos, que a situaram em local de
perfeita visibilidade. Por exemplo, quem a olha do início da rua do
Rosário tem a impressão de que ela é bem maior, mas quem a vê de trás,
acredita piamente que seu telhado flutua sobre a cidade baixa.
Os antigos moradores de Meia Ponte bem que poderiam ter ali edificado, por exemplo, prédios públicos, como a velha cadeia. Mas não o fizeram. Pelo contrario, demarcaram o limite de suas construções de forma a preservar o entorno da Matriz. Eram muito sábios esses velhos habitantes herdeiros dos bandeirantes!
No
fundo da Matriz corriam-se Cavalhadas, e os camarotes eram dispostos
em torno do terreno amplo e plano, da casa de Sansa Lopes até à de José Abadia de Pina. Quem viveu naquela época conta da boa impressão que dava ver os
camarotes enfeitados de panos de chita coloridos, cobertos com folha de
buriti e emoldurado pelas torres da Matriz.
Mas
nem só para encenação das Cavalhadas servia o largo. Também ali se
deram ruidosas manifestações políticas, como bem salienta Jarbas Jayme,
ao comentar a famosa fotografia do coronel Chico de Sá cercado de
cavaleiros: “No tempo das eleições 'a bico de pena' e dos quartéis de
eleitores. A fotografia é de 19.9.1923, véspera do renhido pleito
municipal, de que saiu vitoriosa a chapa encabeçada por José Ribeiro
Forzani (Zeco totó), para intendente municipal. (…) A foto registra a
histórica entrada na cidade, às vésperas do pleito, às 15 horas, do
coronel Francisco José de Sá (cel. Chico de Sá), à frente de seu
eleitorado rural. O coronel Sá é o cavaleiro do centro, à frente. De pé,
à direita, o coronel Félix Jayme, líder político vitorioso, chefe da
corrente caiadista, então no poder e que só foi apeada pela revolução de
30.” (Famílias Pirenopolinas, vol. IV. p. 414)
Também
não foi por acaso que Sebastião Pompêo de Pina escolheu o largo para a
construção do prédio do teatro. Por ser um espaço de importantes
manifestações culturais e religiosas da cidade, ali era o sítio perfeito
para a encenação das peças teatrais.
Duas
outras peças históricas existentes no largo da Matriz eram os
centenários cajazeiro e barriguda, que serviram de sombra para muitas
gerações. Ficavam entre o casarão de José Abadia de Pina e a Pensão Central. E
quando nesta pensão havia uma rodoviária, os passageiros aguardavam os
ônibus sob suas copas frondosas. As duas árvores foram derrubadas para a construção da avenida Joaquim Alves, no mandato do prefeito Emmanuel Jayme Lopes, mas continuaram
na lembrança dos pirenopolinos mais velhos.

e ao fundo vê-se a linda imagem da
Matriz em contraste com o horizonte.
Infelizmente
não conheci o velho largo da Matriz. Nasci muitos anos depois da sua
destruição. Mas quando converso com moradores antigos sobre o lugar,
sinto uma certa nostalgia, como se algo faltasse na história de
Pirenópolis. Ele faz falta. Imagine a Cidade de Goiás sem o largo do
Chafariz!

extraído do livro Famílias Pirenopolinas, vol. II, p. 326.
Recentemente, num projeto de revitalização que infelizmente ficou pela metade, o Salão Paroquial foi demolido e construído na lateral da Matriz. Mas faltou verba para a complementação do que fora prometido. É que a praça Emmanoel Jayme Lopes, abandonada há muitos anos, enfeia o Centro Histórico de Pirenópolis.
Quando a praça Central foi construída era um bonito projeto arquitetônico. Eu me lembro do chafariz que funcionava onde hoje há um buraco que serve de banheiro público clandestino. Com o tempo e o abandono, as raízes das árvores levantaram as pedras e alguns bancos de pedra. Está um aspecto horroroso de tapera. Não arrumam porque fica naquela espera: vai demolir ou não? E ainda tem o IPHAN com seus pareceres surpresa.
No estado em que está, o ideal seria retirar o prédio dos Correios e a praça para reviver os bons tempos e criar um espaço verde, de convivência, em pleno coração de Pirenópolis.
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A praça Central |
No estado em que está, o ideal seria retirar o prédio dos Correios e a praça para reviver os bons tempos e criar um espaço verde, de convivência, em pleno coração de Pirenópolis.
Adriano Curado
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