sexta-feira, 12 de dezembro de 2014

Uma vida por Pirenópolis

Em clima de comoção, tristeza e agradecimento, mais de mil pessoas entre autoridades, familiares e amigos se despediram, em Pirenópolis – cidade localizada há 123 km de Goiânia – de um homem quase incansável: o advogado Pompeu Cristóvão de Pina. Ele, que ajudou as resguardar as tradições, religiosidade e cultura da cidade, faleceu aos 80 anos, em sua casa, na noite da última quarta-feira,10, em consequência de uma falência múltipla de órgãos. Seu corpo foi sepultado, ontem, no final da tarde no Cemitério São Miguel, do município.

Pompeu, que era diabético e possuía problemas cardíacos, estava com a saúde frágil nos últimos meses. A situação piorou depois que sua mulher Maria Luíza faleceu – há exatamente 10 meses, completados ontem. No entanto, mesmo debilitado ele preferiu receber tratamento médico em casa, junto aos familiares.
Em seu lar, e de forma serena, conforme sua sobrinha Helena de Pina, se passaram as últimas horas de vida. Homem conhecido por sua fé, ele escolheu um local especial de sua casa para partir: “Ele pediu para o colocarmos em sua cadeira de rodas e levá-lo para perto do presépio. Estas foram as suas últimas palavras”, relembra emocionada, Helena.

Para dar um último adeus àquele que foi defensor da música, teatro, esportes, educação e tradições da cidade histórica, amigos e familiares velaram seu corpo na casa em que ele nasceu e morreu. Sua residência, no município, com varanda na Rua Matutina foi aos poucos sendo tomada por grande parte da história do advogado. As lembranças iam se espremendo na pequena sala da residência, onde ele jazia no caixão.

No local, estavam para homenageá-lo os Cavaleiros das Cavalhadas. E juntos, Mouros e Cristãos rezaram o terço, esquecendo-se da tradicional “rivalidade” histórica. Logo também chegaram membros da Banda de Música Phoênix, da qual ele foi diretor durante mais de 30 anos. Em gratidão por Pompeu ter impedido que o grupo acabasse na década de 1960, eles entoaram o Hino do Divino Espírito Santo. “Se não fosse por ele, a banda não existiria mais. Ele cedeu inclusive o Museu da Família Pompeu para ser a sede da banda”, disse o maestro do grupo Aurélio Afonso da Silva.

Cortejo

Foi em volta da bandeira do Divino Espírito Santo e ao som da Banda Phoênix, que o caixão do advogado seguiu em cortejo fúnebre para a Igreja Matriz de Nossa Senhora do Rosário da cidade. A missa foi celebrada pelo padre Adevair, pároco da congregação. “Ele cuidou das coisas da igreja, é difícil relembrar tudo que fez para esta cidade. Vai deixar um legado às gerações”, disse o religioso na homilia.

Na celebração, um dos participantes emocionados era o governador Marconi Perillo, que estava acompanhado da primeira-dama Valéria Perillo. Amigo próximo do advogado, no final da missa, o político pediu a palavra e revelou ter perdido um de seus grandes conselheiros.

“Ele era um ícone da cultura de Pirenópolis. Tive o privilégio de conviver com ele, que tinha amor às tradições e religiosidades da cidade. Foi a síntese de tudo que temos na cultura da cidade. Não só a cidade, como Goiás e o Brasil perde Pompeu”, disse e ao final do discurso leu um poema criado por Nars Chaul, a seu pedido, em homenagem ao amigo.

Em entrevista ao Diário da Manhã Marconi ressaltou a relação próxima e de confiança que tinha com Pompeu de Pina. “Tínhamos uma relação de pai e filho, nos conhecíamos há mais de 30 anos. Era um dos maiores estimuladores que eu tive. Trabalhávamos em conjunto nas festas culturais da cidade”, revelou.

A primeira-dama Valéria Perillo, que é pirenopolina, também demonstrou emoção, ao falar do amigo, que também era seu vizinho quando morava na cidade. “Ele se dedicou com carinho às nossas tradições”, disse ela e foi complementada pelo marido, dizendo que a esposa praticamente cresceu no quintal da casa de Pompeu.

O prefeito de Pirenópolis Nivaldo Melo também estava presente na missa de corpo presente e disse guardar várias e boas recordações de Pompeu. “Sou nativo, então desde criança admiro o jeito simples e singelo, mas que conseguia defender com garra a cultura da cidade. Ele foi um grande exemplo e incentivador de minha carreira política”, expressou o prefeito, declarando três dias de luto oficial.

Enterro

Após a celebração aconteceu um cortejo fúnebre, que passou pelas ruas que separam a matriz do Cemitério São Miguel. Entre os presentes, Marconi Perillo fez ainda questão de carregar o caixão por alguns trechos do caminho. Segundo dados da Polícia Militar cerca de 1.500 pessoas seguiram atrás do caixão.

Com uma multidão comovida, o corpo de Pompeu foi enterrado por volta das 18h. Sempre presente na despedida do líder, a Banda Phoênix entoava canções como o Hino dos Pirineus e do Divino Espírito Santo, que os presentes cantavam junto emocionados. No último adeus iluminava o céu ainda claro, o brilho dos foguetes e um arco-íris entremeava o horizonte.

Além de suas conquistas na cultura, Pompeu de Pina deixou sete filhos. Entre eles Sefola Pina, que tentava organizar a fala para contar sobre o pai: “Aprendemos sua determinação, sua religiosidade e fé. Ele era um guardião da história da cidade”, relembra.

Vida e legado

Nascido em Pirenópolis, o advogado Pompeu Cristóvão de Pina se envolveu em várias atividades culturais pirenopolinas. Ele chegou a montar um museu particular em um casarão centenário pertencente à sua família.

Pompeu de Pina teve importante papel na contribuição com entidades como o Iphan nos processos de tombamento das igrejas e de outros prédios e monumentos seculares do município. Por isso, na primeira gestão do governo do presidente Luís Inácio Lula da Silva (PT), ganhou o título de comendador cultural.


O advogado atuou ainda como diretor de teatro e dirigiu, durante décadas, a tradicional Cavalhada de Pirenópolis. Como político, exerceu o cargo de vereador do município no início da década de 1970. Também presidiu a Conferência de Nossa Senhora do Rosário da Sociedade São Vicente de Paulo e era membro da Academia de Letras Pirenopolina.

Era conhecido por encenar o auto de Natal  As Pastorinhas e é lembrado com carinho por gostar de futebol, mas não ter uma atuação tão boa: “Ele era ótimo para organizar partidas, mas bom de futebol nunca foi”, revelou com carinho seu amigo Tassiano Brandão.

Matéria publicada no jornal Diário da Manhã do dia 12.12.2014, p. 3.

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Adriano Curado