segunda-feira, 1 de dezembro de 2014

José Joaquim do Nascimento

SÉRIE BIOGRAFIAS

JOSÉ JOAQUIM DO NASCIMENTO


José Joaquim do Nascimento (Pirenópolis, Goiás, 23.12.1931) é músico, cantor, compositor, arranjador, calígrafo, escultor e maestro.

Filho de Vasco da Gama Siqueira e Maria Guiomar do Nascimento. O pai foi um dos maiores músicos goianos, herdeiro do tesouro musical criado pelo maestro Silvino Odorico de Siqueira, regente da Banda Euterpe. A mãe foi uma mulher humilde e trabalhadora e que tinha a meta de transformar o filho em um grande músico.

Da esquerda para direita: Durval Pereira da Silva, Sergio Pompeu de Pina (cafu), José Joaquim do Nascimento e Mley do Nascimento, foto tirada dia 07/06/2014 na porta da igreja Matriz, bado do Divino.

Aqui cabe um parêntese para falar de Maria Guiomar do Nascimento. Embora esquecida pela história pirenopolina, ela foi a primeira professora negra e particular da Terra dos Pireneus, e ensinou toda uma geração de grandes pensadores. Nunca a contemplaram em vida com um título benemérito, e após sua morte, não há qualquer logradouro público ou escola que a lembre. Foi uma mulher importantíssima para Pirenópolis e merece ter sua memória revivida. O filho de uma mulher desse quilate só poderia mesmo ser um grande e honrado homem.

Dotado de ouvido absoluto e com o incentivo da mãe, José Guiomar, como era conhecido, começou a prestar atenção nos ensaios da Banda Fênix e, sozinho, aprendeu a tocar seu primeiro instrumento: a caixa surda.

Homenageado pela Prefeitura de Pirenópolis em 2012.

Mas o talento precoce incendiava seu espírito e o induzia a aprender sempre mais sobre a arte musical. Não teve apoio de nenhum músico da época, o que sabia aprendeu por si só, autodidata, seu único incentivo vinha de sua valorosa mãe. E quando aprendeu a executar com perfeição um instrumento de sopro chamado Sax-horn (ou Saxotrompa), entrou para a Banda Fênix, onde estudou música com afinco e dedicação. Fluía cada vez mais a aptidão natural do dom artístico pulsante em seu íntimo. Passou a ser conhecedor de todos os instrumentos que compõem uma banda e possuidor do comando de liderança, e ao surgir a vaga tornou-se maestro da Fênix. Lá comprovou ser também um exímio arranjador.

Durante sua regência, ao analisar cuidadosamente os arquivos musicais que lhe vinham à mão, passou a ter contato com a obra de Antônio da Costa Nascimento (28.12.1837 – 15.02.1903), conhecido por Tonico do Padre, brilhante compositor e maestro da Banda Euterpe. Tonico do Padre compôs a suíte Concerto dos Sapos, em 1888, e ao mostrar a obra aos seus músicos, ouviu uma grande gargalhada de deboche. Ficou tão contrariado que recolheu as partituras, guardou-as e nunca mais quis apresentar a peça. Somente no início da década de 1970, mais de oitenta anos depois, foi o Concerto dos Sapos novamente interpretado, agora pela Banda Fênix, que gravou um disco lindo no coro da Matriz de Pirenópolis.

Conjunto 1950 — com Warlem, Zeco de Aquino,Nenzinho, Dito Sinhá, Nenzão, Luiz de Aquino, Inacio de Juca, José Joaquim Do Nascimento e Lindomar. 

A história do Concerto dos Sapos é interessantíssima. José Guiomar e Braz de Pina Filho encontraram a peça em velhos arquivos e estava incompleta. José então estudou o estilo e a técnica de Tonico do Padre e com muito tato conseguiu dar continuidade à composição e finalizá-la. A gravação ao vivo do 1º Recital de Compositores Goianos ocorreu numa noite de gala em Pirenópolis, com os músicos da Fênix vestidos de terno preto.

Tonico do Padre

Regida por Nascimento, a Fênix se renovou e fez história. Ele trouxe ideias inovadoras para a corporação musical, e seu bom gosto ao selecionar o repertório a ser tocado foi um sucesso. Em 24 de outubro de 1972, durante o aniversário de 39 anos de Goiânia, a Fênix participou de um acirrado concurso musical e venceu em primeiro lugar.

Capa do disco do 1° Recital de Compositores Goianos

Mas as atividades musicais de José Guiomar não estavam restritas apenas à Banda Fênix. Vale lembrar que na década de 1959 ele participava de um conjunto musical com grandes músicos da época e em 1965 ele criou o Conjunto Musical Clóves Roberto, uma homenagem ao músico Clóves Roberto Gomes, seu amigo. Esse conjunto era um sucesso nos bailes em Pirenópolis.

Ministrou aulas de música também na cidade de Goianésia, tocou muitos anos no Clube Recreativo Anápolis (C.R.A.) e em Carnavais por muitas cidades goianas. Durante as procissões e no coro da Matriz, ouvia-se sua voz grave e afinada a nos causar nostalgia e lágrimas.

José Guiomar é também compositor. Uma obra muito conhecida sua é “Vasco da Gama Siqueira”, em exaltação ao pai. Tem também um chorinho em homenagem aos seus alunos, intitulado “Filhos Adotivos”. E uma música que compôs à sua esposa Anailde chamada “Exaltação do amor”, com Letra de Paulo Ângelo Nominato.

O Conjunto Clóvis Roberto

Por fim, vale ressaltar que ele já foi escultor de santos e é um perfeito calígrafo. Quem já teve o prazer de contemplar uma partitura escrita por José Guiomar se encanta com a perfeição de sua letra. Acham até que é impressão de gráfica.

Atualmente é maestro da Banda Santa Cecília da cidade goiana de Jaraguá.

Esta biografia foi escrita para relembrar aos mais antigos o grande artista e homem que é José Joaquim do Nascimento, e também para apresentá-lo à geração mais recente, que infelizmente não tem acesso a fontes de pesquisa.

Fonte:
Site da Prefeitura Municipal de Pirenópolis
Site da Prefeitura Municipal de Jaraguá
Acervo da Banda de Música Fênix
Entrevistas com José Joaquim do Nascimento, Alexandre Luiz Pompeu de Pina e Mley Nascimento.

Adriano Curado

Um comentário:

  1. Meus cumprimentos ao presidente Adriano Curado por esta homenagem ao incansável artista que é José Joaquim do Nascimento, ou José Guiomar (acho lindo esse costume meia-pontense de agregar o nome ao da mãe) ou, mais atualmente, José Maestro, que, a par de sua obra volumosa como músico e professor, é igualmente responsável por respeitável prole, com ânfase para o seu neto Mley, nosso congrade na APLAM. Que nos nossos primeiros passos de 2015 acolhamnos o nobre maestro e compositor em nosso quadro acadêmico!


    Luiz de Aquino Alves Neto (em Pirenópolis devo sempre assinar o nome inteiro).

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