Durante a restauração da Igreja, foram encontradas pinturas decorativas, que estavam há tempos ocultas |
Ao restaurar a Igreja de
Nosso Senhor do Bonfim, o Iphan encontrou, sob a tinta branca do
interior do templo, pinturas decorativas há décadas ocultas.
Desconhecidas dos historiadores, as obras têm ao menos 200 anos.
Vista geral da Igreja do Bonfim: restauração revelou detalhes de outros tempos |
Pirenópolis ganhou mais
uma atração. Após três anos de restauração, a Igreja de Nosso
Senhor do Bonfim será reaberta às celebrações religiosas e ao
turismo em uma semana. Além de toda a estrutura reformada e pintada,
a edificação de quase 260 anos, construída por escravos, teve os
mais singelos e belos detalhes totalmente recuperados. Entre eles,
pinturas decorativas nas paredes laterais do altar-mor e em grande
parte do forro de madeira, cobertas ao longo de décadas por massa e
tinta brancas.
O lugar tem quatro sinos, sendo o mais velho de 1726 |
Com a restauração, a
Igreja do Bonfim passa a ser o mais rico templo de Goiás, do ponto
de vista artístico. Desde o incêndio da Igreja Matriz de
Pirenópolis, em 2002, o município distante 140km de Brasília não
tinha mais templo com todas as características originais. Em Goiás
Velho, a outra cidade histórica do estado, também não há igreja
com tantos adornos como a do Bonfim.
Os outros sinos datam de 1803 e 1886 |
Essa foi a primeira
reforma completa da Igreja de Nosso Senhor do Bonfim. Em 2005, ela
passou por obras estruturais, que incluíram a recuperação da
fachada e a pintura em seu interior. Por falta de dinheiro, o
Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) não
restaurou os elementos de arte. Ao custo de R$ 600 mil, a obra teve
início em 2010. Logo no começo, raspando o reboco e a tinta branca
do interior do edifício, técnicos contratados pelo Iphan tiveram a
grata surpresa.
Algumas pinturas ainda estavam bem-conservadas |
Os restauradores
encontraram três camadas de desenhos com traços diferentes. Eram
diversas pinturas barrocas de extremo requinte em cores de ocre,
marrom, verde e branco, escondidas sob tinta e reboco no forro da
capela-mor e nas paredes do altar principal. Todas desconhecidas por
historiadores, técnicos do Iphan e até pelos mais antigos
frequentadores do templo. Os restauradores decidiram manter e
recuperar a última obra, a mais antiga.
Toda a estrutura dourada foi restaurada | na Igreja do Bonfim, em Pirenópolis |
Valor inestimável
Os técnicos não
conseguiram identificar o responsável pelos trabalhos, pois o autor
não deixou assinatura. Mas sabem que as obras têm ao menos 200 anos
e marcam a transição do barroco para o atual estilo da igreja, o
rococó. "A descoberta dessa obra ultrapassa os valores
financeiro, artístico, histórico e cultural. Ela ainda acrescenta
novos valores de rememoração à comunidade de Pirenópolis",
destaca o arquiteto Sílvio Cavalcante, do Iphan, que supervisionou
os trabalhos na Igreja do Bonfim.
Afrescos retratam a religiosidade local |
Provavelmente, as
pinturas foram cobertas por tinta branca a mando de algum padre.
Cavalcante explica que, até meados do século passado, era comum
cada pároco mandar pintar a igreja a seu modo, seguindo o estilo
predominante. "Restaurar pinturas antigas era muito difícil e
caro, pois os artistas moravam no Rio de Janeiro, em São Paulo ou na
Europa", conta. Os restauradores mantiveram e recuperaram a
pintura mais antiga por a considerarem mais harmônica com o teto e o
altar.
A cruz estava em uma das paredes da igreja, em Pirenópolis |
Os técnicos recuperaram
também o brilho das cores das tintas e do ouro dos ornamentos do
altar principal e do púlpito, elemento marcante desse templo. O
púlpito era muito comum nas igrejas católicas coloniais, mas a
maioria acabou destruída após perder a função nas missas. Uma
espécie de minipalco, todo suspenso e trabalhado, o púlpito servia
para o padre fazer a leitura do Evangelho e um sermão na língua
nativa, pois, naquela época, as celebrações eram em latim.
A imagem de Cristo também sofreu restauração |
Janelão e sinos
Construída entre 1750 e
1754 por escravos vindos da Bahia, sob ordens de um português, a
Igreja do Bonfim tem outra particularidade, na parte superior do
altar principal: um janelão, com pintura sacra, que pode esconder a
imagem mais ao fundo. "Esse elemento é muito raro em qualquer
região do país", destaca Sílvio Cavalcante. A imagem que fica
no retábulo-mor, de Jesus crucificado, em talha de madeira e tamanho
natural, também foi restaurada.
A Igreja do Bonfim
conserva ainda quatro sinos centenários. O mais velho, fabricado em
1756. Dois são de 1803. Outro é de 1886, de excelente sonoridade,
premiado com selo do imperador D. Pedro II. Tombado pelo Iphan em
1990, o edifício fica em uma colina por onde passa a maior parte dos
turistas rumo às disputadas cachoeiras de Pirenópolis. Além de
ponto de parada para pedidos de bênção ao Senhor do Bonfim, o
templo é palco de algumas das manifestações folclórico-religiosas
do município, hoje com 22 mil habitantes e quase 300 anos.
Fonte site Correio
Braziliense
Autor do texto, das fotos e das legendas: Renato Alves
Correio Braziliense - 01/09/2013
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Adriano Curado