domingo, 1 de setembro de 2013

Pirenópolis redescobre tesouro

Durante a restauração da Igreja, foram encontradas pinturas decorativas,
que estavam há tempos ocultas

Ao restaurar a Igreja de Nosso Senhor do Bonfim, o Iphan encontrou, sob a tinta branca do interior do templo, pinturas decorativas há décadas ocultas. Desconhecidas dos historiadores, as obras têm ao menos 200 anos.

Vista geral da Igreja do Bonfim: 
restauração revelou detalhes de outros tempos

Pirenópolis ganhou mais uma atração. Após três anos de restauração, a Igreja de Nosso Senhor do Bonfim será reaberta às celebrações religiosas e ao turismo em uma semana. Além de toda a estrutura reformada e pintada, a edificação de quase 260 anos, construída por escravos, teve os mais singelos e belos detalhes totalmente recuperados. Entre eles, pinturas decorativas nas paredes laterais do altar-mor e em grande parte do forro de madeira, cobertas ao longo de décadas por massa e tinta brancas.

O lugar tem quatro sinos, sendo o mais velho de 1726

Com a restauração, a Igreja do Bonfim passa a ser o mais rico templo de Goiás, do ponto de vista artístico. Desde o incêndio da Igreja Matriz de Pirenópolis, em 2002, o município distante 140km de Brasília não tinha mais templo com todas as características originais. Em Goiás Velho, a outra cidade histórica do estado, também não há igreja com tantos adornos como a do Bonfim.


Os outros sinos datam de 1803 e 1886
Essa foi a primeira reforma completa da Igreja de Nosso Senhor do Bonfim. Em 2005, ela passou por obras estruturais, que incluíram a recuperação da fachada e a pintura em seu interior. Por falta de dinheiro, o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) não restaurou os elementos de arte. Ao custo de R$ 600 mil, a obra teve início em 2010. Logo no começo, raspando o reboco e a tinta branca do interior do edifício, técnicos contratados pelo Iphan tiveram a grata surpresa.

Algumas pinturas ainda estavam bem-conservadas
Os restauradores encontraram três camadas de desenhos com traços diferentes. Eram diversas pinturas barrocas de extremo requinte em cores de ocre, marrom, verde e branco, escondidas sob tinta e reboco no forro da capela-mor e nas paredes do altar principal. Todas desconhecidas por historiadores, técnicos do Iphan e até pelos mais antigos frequentadores do templo. Os restauradores decidiram manter e recuperar a última obra, a mais antiga.

Toda a estrutura dourada foi restaurada na Igreja do Bonfim, em Pirenópolis

Valor inestimável

Os técnicos não conseguiram identificar o responsável pelos trabalhos, pois o autor não deixou assinatura. Mas sabem que as obras têm ao menos 200 anos e marcam a transição do barroco para o atual estilo da igreja, o rococó. "A descoberta dessa obra ultrapassa os valores financeiro, artístico, histórico e cultural. Ela ainda acrescenta novos valores de rememoração à comunidade de Pirenópolis", destaca o arquiteto Sílvio Cavalcante, do Iphan, que supervisionou os trabalhos na Igreja do Bonfim.

Afrescos retratam a religiosidade local
Provavelmente, as pinturas foram cobertas por tinta branca a mando de algum padre. Cavalcante explica que, até meados do século passado, era comum cada pároco mandar pintar a igreja a seu modo, seguindo o estilo predominante. "Restaurar pinturas antigas era muito difícil e caro, pois os artistas moravam no Rio de Janeiro, em São Paulo ou na Europa", conta. Os restauradores mantiveram e recuperaram a pintura mais antiga por a considerarem mais harmônica com o teto e o altar.

A cruz estava em uma das paredes da igreja, em Pirenópolis

Os técnicos recuperaram também o brilho das cores das tintas e do ouro dos ornamentos do altar principal e do púlpito, elemento marcante desse templo. O púlpito era muito comum nas igrejas católicas coloniais, mas a maioria acabou destruída após perder a função nas missas. Uma espécie de minipalco, todo suspenso e trabalhado, o púlpito servia para o padre fazer a leitura do Evangelho e um sermão na língua nativa, pois, naquela época, as celebrações eram em latim.
A imagem de Cristo também sofreu restauração
Janelão e sinos

Construída entre 1750 e 1754 por escravos vindos da Bahia, sob ordens de um português, a Igreja do Bonfim tem outra particularidade, na parte superior do altar principal: um janelão, com pintura sacra, que pode esconder a imagem mais ao fundo. "Esse elemento é muito raro em qualquer região do país", destaca Sílvio Cavalcante. A imagem que fica no retábulo-mor, de Jesus crucificado, em talha de madeira e tamanho natural, também foi restaurada.

A Igreja do Bonfim conserva ainda quatro sinos centenários. O mais velho, fabricado em 1756. Dois são de 1803. Outro é de 1886, de excelente sonoridade, premiado com selo do imperador D. Pedro II. Tombado pelo Iphan em 1990, o edifício fica em uma colina por onde passa a maior parte dos turistas rumo às disputadas cachoeiras de Pirenópolis. Além de ponto de parada para pedidos de bênção ao Senhor do Bonfim, o templo é palco de algumas das manifestações folclórico-religiosas do município, hoje com 22 mil habitantes e quase 300 anos.




Fonte site Correio Braziliense
Autor do texto, das fotos e das legendas: Renato Alves
Correio Braziliense - 01/09/2013  

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Adriano Curado