quinta-feira, 5 de setembro de 2013

De volta aos pirenopolinos


A cidade de Pirenópolis reinaugura amanhã a Igreja Nosso Senhor do Bonfim Após anos de revitalização, amanhã, o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional em Goiás (Iphan-GO) entrega à população e turistas de Pirenópolis a restauração arquitetônica e artística da Igreja Nosso Senhor do Bonfim e seus acervos. A inauguração acontece às 18h30, com celebração de novena e missa solene.

A arquiteta e coordenadora técnica da Superintendência do Iphan, Beatriz Otto, contou que a execução dos serviços teve início em 2010, incluindo o altar principal e altares colaterais, arco cruzeiro, medalhão e púlpito de cruz. “A obra foi executada em três etapas. Durante os primeiros procedimentos, técnicos do instituto descobriram diversas pinturas barrocas de extremo requinte escondidas debaixo de camadas de tinta e reboco no forro da capela mor e, ainda, nas paredes do altar principal”. A importância desta descoberta ultrapassa os valores artístico, histórico e cultural e acrescenta novos valores de rememoração à comunidade.

Na segunda etapa, foram feitas drenagem do solo “tanto da água proveniente de enxurradas quanto do lençol freático”, explicou. Esse procedimento de drenagem foi feito para evitar que as paredes da igreja recebessem tanta umidade vinda direto do solo, uma vez que as estruturas são feitas de madeira e barro.

A restauração buscou revelar toda a pintura descoberta e realizar um diagnóstico de seu estado de conservação e preservação para, em seguida, serem executados os procedimentos restaurativos. Com o resgate da pintura parietal foi possível compreender que esta possui integridade perfeita com as pinturas do nicho do altar principal.

Descobriu-se, ainda, uma rachadura acima do arco cruzeiro, iniciando assim a terceira etapa da obra que apreciou a recuperação estrutural geral do edifício, dos pés e esteios, além de iluminação interna e externa. 

Parte técnica

Mais de dez especialistas em restauração trabalharam na recuperação da igreja e o arquiteto Silvio Cavalcante integrou essa equipe como o técnico-fiscal. O arquiteto contou que há três anos, quando as obras começaram, foram retiradas cuidadosamente três camadas de reboco e pintura até chegarem na pintura original.

Minuciosamente foi feita a restauração das duas imagens barrocas que adornam a igreja - uma de Nosso Senhor do Bonfim (Cristo crucificado) e outra de Nosso Senhor dos Passos, ambas em madeira policromada em tamanho natural -, um arcaz (arca com gavetões) do século XVIII, peça de grande beleza e único mobiliário religioso remanescente do período. Estas são peças que compõem originalmente a decoração interna da igreja.

Segundo Silvio, parte da igreja e monumentos tinha uma cor dourada, mas já se encontravam em tons pretejados, que foram todos devolvidos a sua cor original. Além das minuciosas restaurações, um tratamento geral foi feito em todo o prédio, como pisos, troca do telhado e a pintura externa e interna.

Dedicação

A obra de restauração arquitetônica e artística da Igreja Nosso Senhor do Bonfim foi minuciosamente realizada por mãos dedicadas e marca uma significativa conquista no processo de preservação do patrimônio cultural. A obra fora concretizada com vistas à preservação e salvaguarda do bem, garantindo assim condições seguras de utilização por moradores e visitantes.

Segundo o arquiteto, que também é morador da cidade, a obra veio para resgatar valores, lembranças e manter a história de Pirenópolis viva na memória da atualidade. “A igreja vai estar aberta a partir de amanhã, para suas atividades normais, sendo que no período de restauração ficou fechada e só era liberada para visitações em acordo com a empresa, igreja e população”, disse Silvio.

História da Igreja

A Igreja Nosso Senhor do Bonfim está localizada em um ponto privilegiado na paisagem da cidade e forma, com as demais igrejas, um conjunto ímpar da arquitetura religiosa goiana do período colonial.

Segundo a historiografia, a Igreja Nosso Senhor do Bonfim tem 260 anos e foi construída por escravos durante o Brasil Colônia, sendo erguida entre 1750 e 1754, de modo a ter a sua fachada voltada para a Igreja de Nossa Senhora do Rosário (Matriz). Seu benfeitor foi o sargento-mor Antônio José, que adquiriu em Salvador (BA) uma imagem de tamanho natural de Nosso Senhor do Bonfim crucificado e que chegou à Meia Ponte trazida por um comboio de mais de 200 escravos.

A construção se encontra em sua forma original. Em seu interior possui três altares e mesma simetria de distribuição da Igreja Matriz de Pirenópolis, com nave, coro, arco cruzeiro e capela-mor. Encontra-se na parede do lado do evangelho (lado direito) um púlpito de tábuas lisas enfeitado com ornamentos de talha. No altar-mor (principal), a presença de uma porta no nicho principal, que pode ser aberta e fechada sendo possível ver pintado em suas folhas o Cristo Crucificado, com a paisagem de Jerusalém ao fundo.

A Igreja está inserida no conjunto arquitetônico, urbanístico, paisagístico e histórico da vida de Pirenópolis, tombado pelo Iphan através do Processo nº 1181-T-85, com inscrição nº 105 no Livro do Tombo Arqueológico, Etnográfico e Paisagístico e nº 530 no Livro Histórico, em 10 de janeiro de 1990.

Quanto custou?

Etapa 1: 2010-2011
Valor descentralizado: R$300.000,00

Valor contratado: R$299.999,97

Etapa 2: 2011-2012
Valor descentralizado: R$320.000,00

Valor contratado: R$291.214,62

Etapa 3: 2012-2013
Valor descentralizado: R$320.000,00

Valor contratado: R$311.500,00

Valor Total da Obra (Etapas 1, 2 e 3): R$902.714,59

Matéria publicada no jornal DIÁRIO DA MANHÃ do dia 5.9.2013, no Caderno DM Revista, de autoria do jornalista JOHNY CÂNDIDO

Um comentário:

  1. Parabéns por nos trazer estas informações, realmente o restauro do Bonfim ficou bonito. Pena ter pecado em várias partes como por exemplo a imcopetência de alguém da obra que manchou os sinos daquela igreja com verniz, os belos sinos agora tem manchas, ocasionadas pela desatenção de quem pintou a madeira, assim como pingos de tinta na balustrada do coro. Como pirenopolino e sineiro fiquei triste ao saber que o velho sino do Senhor do Bonfim estava sendo transportado para o Carmo, e ao constatar isto na inauguração bateu um vazio ao ver apenas dois sinos na torre que dá acesso ao coro, em vez de três, ai veio a dúvida: qual repique fazer se o sino que seria repicado não mais estava la? Já não temos incentivo quanto a linguagem dos sinos e nos retiram o dedicado ao dono da Igreja. Ele estava rachado é claro, mas pelo menos deveria refundir outro para manter o som tradicional do toque Senhor dos Passos na Semana Santa, que ultimamente o fazemos no sino da Igreja do Rosário dos Pretos (torre oposta a que dá acesso ao coro). Agora uma coisa intrigante que devemos investigar: Onde foram parar as velhas telhas da Igreja? Pelo menos a maioria é nova!!! E uma atenção a todos: A bela imagem do Senhor do Bonfim está há muito tempo na Igreja do Bonfim, ela foi restaurada ano passado e após a Festa do Bonfim foi transportada para Matriz para a torre do batistério e la permaneceu até voltar ao seu trono. Ao chegar aos pés da velha imagem percebi uma rachadura no peito esquerdo da velha imagem, e conversando com um dos restauradores percebera o mesmo. Creio que deva ter ocorrido pela mudança da temperatura e local, (depois de permacer mais de 250 anos no mesmo local ser transportado para outro deva ter havido um choque na madeira). Fato que devemos ter mais atenção para com aquela imagem e se não restaurá-la urgentemente pode ser que a fenda aumente. Quem subir aos pés do Senhor do Bonfim pode constatar. No demais parabéns aos artístas que a fizeram, parabéns aos artístas que nos msotraram o que estava escondido, e parabéns Pirenópolis por esta surpresa!!!

    Pirenopolino que ama sua cidade!

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Adriano Curado