Hoje,
mais uma vez, presenciei a lenda de que as telhas do tipo
“capa-canal” ou colonial eram feitas nas coxas dos escravos.
Bom,
para aqueles que continuam a perpetuar este mito, indico vivamente o
artigo do arquiteto Prof. José La Pastina Filho (superintendente do
IPHAN no Paraná), intitulado “Eram as telhas feitas nas coxas das
escravas?” (disponível em:
www.culturaespanha.org.br/download.php?codigoArquivo=40).
Segundo
La Pastina, a comparação ocorre, pois há semelhança na forma
tronco-cônica entre o formato das telhas tradicionais e a parte
superior das pernas dos humanos. Entretanto, possuindo o “know-how”
de mais de três décadas restaurando as coberturas de edifícios, o
autor expõe claramente, por meio de um estudo de caso, de que tal
associação entre coxas humanas e telhas não passa de uma lenda
histórica, sendo as telhas produzidas sobre moldes de madeira.
“Para
confirmar nossa convicção das inconsistências da assertiva popular
– telhas feitas nas coxas dos (as) escravos (as) – tomamos as
medidas das coxas de um homem de 1,80m de altura e verificamos que,
usando-a como molde, só seria possível a fabricação de uma
minúscula telha de 36cm de comprimento. Sem maiores preocupações
com aspectos de anatomia humana, se estabelecermos uma simples regra
de três, poderemos verificar que, para fabricar uma telha de 77 cm,
precisaríamos contar com um escravo de 3,95m de altura. Além disto,
em termos de otimização de força de trabalho, mesmo numa sociedade
escravocrata, teríamos uma perda substancial na força de trabalho:
um escravo imobilizado, com lâminas de barro sobre suas duas coxas,
e pelo menos dois outros para remover cada uma delas e transportá-las
ao estaleiro.” (La Pastina Filho, 2006).
Pois
então, será mesmo que os escravos possuíam mais de 3 metros de
altura ou será que a nossa sociedade sempre quis enxergar o lado
pejorativo da expressão “feito nas coxas”?
Danilo
Curado
Somente há uns poucos anos - quando eu já ultrapassara a marca de 50 e tantos anos - ouvi a relação entre "feito nas coxas" com a lenda das telhas coloniais.
ResponderExcluirNa minha adolescência, quando os palavrões e eufemismos se tornaram corriqueiros nas nossas falas de ginasiais, "feito nas coxas" remetia a outra coisa - o sexo incompleto, sem penetração. E "feito nas coxas" significa, por extensão, qualquer trabalho mal concluído ou de má referência.
Muito bem escrito esse texto, um trabalho bem elaborado com pesquisa consistente e que consegue sanar a velha questão da telhas feitas nas coxas. Parabéns ao dr. Danilo Curado.
ResponderExcluirPodem achar um exagero da minha parte, principalmente as pessoas que não conhece, mas no casarão da minha familia, os caibros são parte rolisos e partes quadrados feito no machado ou no serrotão e no lugar das ripas são reguas de até dez cm de largura, as telhas tem algumas que passam oitenta cm de comprimento, dúvida? vai lá e confere...
ResponderExcluirTem apenas um "pequeno erro" neste argumento. Não sei se o autor já teve contato com uma telha colonial de barro mas, com certeza, não mede 77 cm. Todas ficam próximas dos 37 cm. Outro detalhe é o pejorativo da situação. Não eram todas feitas assim, só as mal feitas. Por isso a expressão.
ResponderExcluir"possuindo o “know-how” de mais de três décadas restaurando as coberturas de edifícios"
Excluirestava lá no texto, amigo.
Tenho 350 telhas antigas feita nas coxas para vender
ResponderExcluirA parte de cima de algumas já observei marcas de dedos fazendo riscos sinuosos, não sei se era ornamento ou simplesmente o manuseio delas moles. Gosto muito desse modelo de telha antiga e penso que devem ser conservadas como elementos históricos, ou pelo menos reutilizadas quando possível em ornamentação de construções rústicas.
ResponderExcluirEssa lenda ,se for lenda,é internacional,pois é contada como fato em museus jesuítas na Argentina,inclusive com maquete mostrando o trabalho escravo dos índígenas.Eles tem amostras de telhas inclusive feitas por crianças.
ResponderExcluirObrigado. Talvez fosse interessante também pesquisar quando a expressão "feito nas coxas" aparece no corpus da língua portuguesa. Até onde eu tenha visto, não antes da década de 60 do século XX. Com certeza, não é coisa do século XIX !
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