Fogão
velho da roça, desses de cimento queimado, encerado de vermelho, da
comidinha caseira feita na banha de porco e temperada com alho
socado. Ali o feijão borbulha noite inteirinha num caldeirão de
ferro e no outro dia tem caldo encorpado e gostoso. Ali a carne de
lata se desmancha e colore o arroz soltinho.
No forno
do fogão a lenha já está assada a broa de milho, e enquanto o café
escalda no coador de pano, já tem meninada em volta da mesa,
cotovelos na toalha xadrez e olhares de infância feliz.
No rabo
desse velho fogão, já se sentaram muitas gerações de prosadores,
conversa que fluía macia, a lembrança acordada pela aguardente do
engenho logo ali à frente.
Em dia
de festa, espalham-se doces coloridos pelo fogão, queijo fresco do
leite das curraleiras paridas, requeijão trabalhado por muitos
braços, bolo de fubá fresquinho. Mas em ocasião de luto, rondam
por ali homens sisudos, que fumam cigarros de palha e conversam em
surdina, mulheres circunspectas e vestidas com discrição.
Passam-se
as gerações e o fogão continua lá na cozinha. Vez em quando uma
reforminha boba, um reboco acolá, uma nova demão de cera. Nada que
comprometa a obra de arte. E em torno dele ficam as recordações das
tantas gentes que estiveram ali e já não estão mais.
Adriano
César Curado
Um texto que remete a gente à fazenda dos avós, quando a vida passava bem devagar e o sonho era ainda possível de ser alcançado. Lindo, perfeito, maravilhoso poema-prosa!
ResponderExcluirCaro Adriano César, me deu água na boca só de lembrar de tantas vezes comi a comidinha gostosa feita no fogão a lenha. Realmente não tem para o meu gosto comida mais gostosa.Obrigado, pois lembrar daqueles tempos.Legal mesmo.
ResponderExcluirLindo demais!!!
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