terça-feira, 26 de março de 2013

Um muro de pedras sobre a serra




     Faz tempo que ouço falar de um muro antigo sobre a serra do Funil, que fica próximo ao morro do Frota. A região é muito preservada, tem cerrado ainda intacto e fauna bem variada. Eu mesmo já vi ali o lobo-guará, cachorros-do-mato e raposas, para ficar só nos de maior porte. Mas na região há registro recente de onças, antas, harpia etc.

Casarão Serra do Ouro, ponto de partida

     Eu, José e Rodrigo resolvemos partir num dia de céu claro, bem cedinho, antes que o sol esquentasse para valer. Saímos do casarão Serra do Ouro, onde nos hospedamos no final de semana. Nesse início de ano é época propícia para subir morros, pois ainda não há carrapatos para infernizar a vida da gente.

Vista da região

     A escalada na serra do Funil não é fácil. O caminho chega a ficar bem inclinado e às vezes subimos de gatão para não cair. Eu caí. Já quase chegávamos de retorno quando escorreguei numa laje coberta de cascalho e machuquei a mão. Depois cheguei até a perder a unha.

O primeiro contato com o muro

     Mas todo esse sacrifício vale a pena. Primeiro porque a região por si só é linda e a vista lá de cima é um regalo para os olhos. Depois porque o tal muro de pedras é muito interessante. Mais tarde, em conversa com moradores velhos da região, descobri que não há registro oral de sua construção. Isso deixa claro que é uma obra bem antiga, certamente que da época da escravatura.

O encaixe interessante das pedras

     Pude analisá-lo bem de perto e notei que não é alto, deve ter aproximadamente meio metro de altura, mas sua extensão é formidável. Tanto que, por mais que andássemos, não conseguimos vislumbrar seu início ou fim. Acho que ele corre no cume de toda a serra.

Pirenópolis ficou bem distante

     Vou arriscar dizer que o muro não tinha a função de conter animais, à serventia das atuais cercas de arame. Ele provavelmente servia para demarcar divisas de fazendas antigas.

Não foi possível ver o fim do muro

     Outro fato interessante é que não vi pedras similares na região, o que me leva a arriscar outro palpite. Os idealizadores levaram para lá as rochas petras, tipo das de cavernas. O trabalho certamente consumiu muitos anos de árduo labor dos pobres escravos.

As pedreiras nas proximidades

     De qualquer forma, registrei minha pequena aventura em fotografias e agora disponibilizo para meus leitores. A emoção de conhecer uma edificação misteriosa e tão velha quanto essa é indescritível. Teve momento que fechei meus olhos e imaginei os cativos no desespero de encaixar logo as peças, antes que a chibatada cruel estalasse no ombro. O cheio do suor humano, o sangue respingado, os gritos de "acelera", tudo isso parece que ainda está por lá.

Eu, o muro e as polianas amarelas

     E para quem quiser ter acesso ao local do muro, informo que são propriedades particulares, o que requer autorização. Fica no caminho da fazenda Bonsucesso (a das cachoeiras). Logo após a travessia do córrego Funil, pode-se ver a grande serra à esquerda.

Adriano César Curado











8 comentários:

  1. Nossa, Adriano, dessa vez você arrasou mesmo. Que imagens maravilhosas são essas? Deu uma vontade danada de calçar um tênis, encaixar uma mochila das costas e ir lá conferir.

    Muito boa essa sua postagem, ela valeu o blog inteiro.

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  2. É encantador o seu texto e suas imagens. Acho que um trabalho de arqueologia pode precisar a idade da construção.

    Seu blog é importante justamente porque traz postagens inovadoras, com temas que mais ninguém pensa.

    Parabéns.

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  3. muito bom,muito bonito, posso dizer com muita saudades que acabei de fazer uma viagem com vc,conheço parte desse muro...

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  4. Adriano, eu não conheço esse muro de que você fala tão bem, mas estive várias vezes das cachoeiras do Bonsucesso e me lembro da tal serra. Deve ter sido realmente emocionante para você, que gosta de história, presenciar uma construção assim.

    Pirenópolis é mesmo uma terra encantadora. Pois veja que quanto mais o tempo passa, mais atrações turísticas surgem.

    Parabéns pela sua postagem de hoje. Sem ela eu não saberia da existência dessa peça rara da historia goiana.

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  5. Adriano, estas fotos são demais.Com este resultado são fotos que divertem e encantam,não só pela luminosidade rica e as cores vivas, mas também pela sua criatividade.Abraço no amigo

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  6. Adriano
    Concordo com a tese de divisas, também para animais. Acredito que com isso estaria se beneficiando a área de pastagem com menos pedras.
    Essas pedras são as mesmas pedras de Pirenópolis que estiveram submetidas às intempéries, acarretando fungos, líquens e erosões, que conferem o aspecto que as denomina de pedras caverna.
    abraço e parabéns pelo site
    Galeão

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    1. Galeão, quanta honra ler um comentário seu aqui neste pequeno espaço dedicado a Pirenópolis.

      Obrigado pela ilustre visita.

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  7. gostaria de poder ver , este muro pois fiquei apaixonada .adoro suas fotos parabens Adriano pela oportunidade de ver tantas coisas bonitas .

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