Faz tempo
que ouço falar de um muro antigo sobre a serra do Funil, que fica
próximo ao morro do Frota. A região é muito preservada, tem
cerrado ainda intacto e fauna bem variada. Eu mesmo já vi ali o
lobo-guará, cachorros-do-mato e raposas, para ficar só nos de maior
porte. Mas na região há registro recente de onças, antas, harpia
etc.
Casarão Serra do Ouro, ponto de partida |
Eu, José
e Rodrigo resolvemos partir num dia de céu claro, bem cedinho, antes
que o sol esquentasse para valer. Saímos do casarão Serra do Ouro,
onde nos hospedamos no final de semana. Nesse início de ano é época
propícia para subir morros, pois ainda não há carrapatos para
infernizar a vida da gente.
Vista da região |
A
escalada na serra do Funil não é fácil. O caminho chega a ficar
bem inclinado e às vezes subimos de gatão para não cair. Eu caí.
Já quase chegávamos de retorno quando escorreguei numa laje coberta
de cascalho e machuquei a mão. Depois cheguei até a perder a unha.
O primeiro contato com o muro |
Mas todo
esse sacrifício vale a pena. Primeiro porque a região por si só é
linda e a vista lá de cima é um regalo para os olhos. Depois porque
o tal muro de pedras é muito interessante. Mais tarde, em conversa
com moradores velhos da região, descobri que não há registro oral
de sua construção. Isso deixa claro que é uma obra bem antiga,
certamente que da época da escravatura.
O encaixe interessante das pedras |
Pude
analisá-lo bem de perto e notei que não é alto, deve ter
aproximadamente meio metro de altura, mas sua extensão é
formidável. Tanto que, por mais que andássemos, não conseguimos
vislumbrar seu início ou fim. Acho que ele corre no cume de toda a
serra.
Pirenópolis ficou bem distante |
Vou
arriscar dizer que o muro não tinha a função de conter animais, à
serventia das atuais cercas de arame. Ele provavelmente servia para
demarcar divisas de fazendas antigas.
Não foi possível ver o fim do muro |
Outro
fato interessante é que não vi pedras similares na região, o que
me leva a arriscar outro palpite. Os idealizadores levaram para lá
as rochas petras, tipo das de cavernas. O trabalho certamente consumiu
muitos anos de árduo labor dos pobres escravos.
As pedreiras nas proximidades |
De
qualquer forma, registrei minha pequena aventura em fotografias e
agora disponibilizo para meus leitores. A emoção de conhecer uma
edificação misteriosa e tão velha quanto essa é indescritível.
Teve momento que fechei meus olhos e imaginei os cativos no desespero
de encaixar logo as peças, antes que a chibatada cruel estalasse no
ombro. O cheio do suor humano, o sangue respingado, os gritos de "acelera", tudo isso parece que ainda está por lá.
Eu, o muro e as polianas amarelas |
E para
quem quiser ter acesso ao local do muro, informo que são
propriedades particulares, o que requer autorização. Fica no
caminho da fazenda Bonsucesso (a das cachoeiras). Logo após a
travessia do córrego Funil, pode-se ver a grande serra à esquerda.
Adriano
César Curado
Nossa, Adriano, dessa vez você arrasou mesmo. Que imagens maravilhosas são essas? Deu uma vontade danada de calçar um tênis, encaixar uma mochila das costas e ir lá conferir.
ResponderExcluirMuito boa essa sua postagem, ela valeu o blog inteiro.
É encantador o seu texto e suas imagens. Acho que um trabalho de arqueologia pode precisar a idade da construção.
ResponderExcluirSeu blog é importante justamente porque traz postagens inovadoras, com temas que mais ninguém pensa.
Parabéns.
muito bom,muito bonito, posso dizer com muita saudades que acabei de fazer uma viagem com vc,conheço parte desse muro...
ResponderExcluirAdriano, eu não conheço esse muro de que você fala tão bem, mas estive várias vezes das cachoeiras do Bonsucesso e me lembro da tal serra. Deve ter sido realmente emocionante para você, que gosta de história, presenciar uma construção assim.
ResponderExcluirPirenópolis é mesmo uma terra encantadora. Pois veja que quanto mais o tempo passa, mais atrações turísticas surgem.
Parabéns pela sua postagem de hoje. Sem ela eu não saberia da existência dessa peça rara da historia goiana.
Adriano, estas fotos são demais.Com este resultado são fotos que divertem e encantam,não só pela luminosidade rica e as cores vivas, mas também pela sua criatividade.Abraço no amigo
ResponderExcluirAdriano
ResponderExcluirConcordo com a tese de divisas, também para animais. Acredito que com isso estaria se beneficiando a área de pastagem com menos pedras.
Essas pedras são as mesmas pedras de Pirenópolis que estiveram submetidas às intempéries, acarretando fungos, líquens e erosões, que conferem o aspecto que as denomina de pedras caverna.
abraço e parabéns pelo site
Galeão
Galeão, quanta honra ler um comentário seu aqui neste pequeno espaço dedicado a Pirenópolis.
ExcluirObrigado pela ilustre visita.
gostaria de poder ver , este muro pois fiquei apaixonada .adoro suas fotos parabens Adriano pela oportunidade de ver tantas coisas bonitas .
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