quinta-feira, 14 de fevereiro de 2013

A alma da cidade



    Toda cidade tem uma alma, principalmente as menores, aquelas que ainda guardam em seu íntimo as doces recordações do campo. E a nossa querida Pirenópolis não é diferente. Ainda há na prosa de seus moradores lembranças das antigas fazendas, onde os causos varavam noites ao borralho dum fogão a lenha.

     Mas também percebemos nas entrelinhas um certo orgulho do passado culturalmente ativo de seus ancestrais. Toda família pirenopolina tem um traço genealógico ligado à música, à literatura, ao teatro etc. Nossa história está repleta de pessoas simples e de cotidiano tranquilo, mas que deixou na gaveta uma partitura inédita ou um livro manuscrito.


     Por outro lado, a cidade vive um confronto enorme advindo da convivência cada vez maior com o turismo e as novas “culturas”. Há uma resistência natural à importação de valores, e isso pode ser avaliado, por exemplo, pelo levante unânime contra a numeração dos Mascarados das Cavalhadas.


     Também há um certo pé atrás dos pirenopolinos em relação aos que “vem de fora” e resolvem se instalar na cidade. Com o correr do tempo, obviamente, o matreiro povo dos Pireneus até cede. Mas a princípio é difícil conquistar a confiança e já ir lá na cozinha tomar café com bolinho de chuva.


     Essa restrição de alcova, chamemos assim, vem possivelmente do século 19 e princípio do 20, quando a cidade era um centro urbano bem isolado, com pouca influência dos viajantes que por aqui passavam.


     E é assim, com muita perseverança, que o tesouro cultural de Pirenópolis segue reluzente pelas gerações e através dos séculos. Pode até ser que essa proteção deixe de existir futuramente, mas isso será gradual e por força da globalização de valores.

Adriano César Curado

2 comentários:

  1. Ao ler esta sua crônica pude compreender melhor a complexidade do povo pirenopolino, que como um ser arisco não deixa a gente afagar-lhe facilmente a cabeça, mas com o correr do tempo, como você mesmo disse, essa gente se torna grande amiga. Perfeita as suas palavras.

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  2. A alma de Pirenópolis é exatamente o que você descreveu. Parabéns.

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