Quando eu
era criança, Pirenópolis vivia numa quietude imensa, dessas que
chegavam a irritar. Turistas só eram vistos em festas grandes, como
a do Divino ou a Semana Santa. Raramente alguém aparecia por aqui em
final de semana comum, e se viesse não tinha lá muitas opções.
A hoje
movimentada rua do Lazer não existia, o local era de residências e
alguns comércios de secos e molhados – as famosas “vendas”. As
cachoeiras e outras riquezas naturais não eram exploradas
comercialmente, e somente se chegava a elas por amizade com os
proprietários. Restava a opção dos acampamentos à beira rio, e a
areia perto do poção da ponte ficava cheia de barracas e imundices.
Hoje
tudo está muito diferente. A cidade voltou-se para a exploração
turística e é conhecida internacionalmente por isso. A festa do
Divino, por exemplo, que antes representava o auge das visitações,
agora não tem um impacto tão expressivo na economia municipal.
Após
essas transformações graduais, Pirenópolis se tornou aos poucos um
lugar que atrai visitantes o ano todo. Não há mais um dia na semana
sem hóspedes nos hotéis, sem cachoeiras movimentadas ou
restaurantes cheios.
Só que
esse sucesso todo tem um preço, e ele é caro. Os imóveis se
supervalorizaram e inflacionaram o mercado imobiliário, o que
provocou a cobiça dos proprietários de casarões, que preferiram
desfazer-se das relíquias de famílias e morar na periferia.
Boa
parte do Centro Histórico está fechada, suas histórias apagadas,
são casas de temporada. Os quintais imensos, povoados por galos
seresteiros, macaquinhos soin, mangueiras copudas, agora são
fatiados para a construção de novas casas. A paisagem urbanística
comprometeu-se pelo crescimento desordenado, constroem-se casas nos
morros sem obedecer limites do plano diretor. E que dizer da rede de
esgoto que nunca sai?
Além
das cercanias, condomínios fechados são aprovados e logo se enchem
de moradores novos. Isso significa que a cidade não para de crescer.
Quem conhece nossa terra quer morar aqui, aproveitar a vida ainda
tranquila do interior, longe da correria dos grandes centros.
Mas é
urgente reinventar uma nova infraestrutura municipal. O trânsito já
é ruim, as águas urbanas estão poluídas, o comércio avança sem
controle sobre as residências, segurança e saúde públicas são
deficientes. E por aí vai.
A
qualidade de vida pirenopolina clama urgente por uma política
pública – em parceria com o empreendedor privado – voltada para
o agora e o futuro, numa antevisão dos desafios que rondam as velhas
Minas de Nossa Senhora do Rosário de Meia Ponte.
Adriano
César Curado
Linda, perfeita e realista essa usa crônica sobre a histórica cidade de Pirenópolis. E ela serve para orientar os novos governantes municipais, gestores que assumem agora o leme da administração pública. De fato, a cidade está um caos imenso. Não dá para transitar de carro sem encontrar um engarrafamento. Os córregos que cortam a região fedem esgoto puro.
ResponderExcluirAdriano, ainda bem que temos um intelectual do seu porte para enfrentar os desafios da modernidade.
Meus parabéns.
A cidade cresce e aos poucos deixa de ser um lugar tranquilo, daqueles sossegados pra gente criar filhos despreocupadamente. Com o aumento da população, surgem também em Pirenópolis os velhos problemas das grandes cidades e isso é péssimo.
ResponderExcluirA evolução social de um núcleo populacional não pode ser retido, mas é preciso um acompanhamento efetivo pelos gestores públicos, ou do contrário perde-se em qualidade de vida. No caso de Pirenópolis, vejo que essa política pública de planejamento está atrasada em décadas, ou do contrário, não estaríamos enfrentando esses problemas que você tão bem aponta.
ResponderExcluirPerfeito o seu texto. Recebe o meu 100 com louvor.
Linda a sua Crônicas de Pirenópolis volume 1. Me deu até vontade de pegar o carro agora mesmo e ir para lá, olhando os lugares com seu olhos de bom escritor. Parabéns.
ResponderExcluirEsse negócio aí de crescimento eu acho até bom, mas ás vezes me assusta! O crescimento traz novas oportunidades, mas se não for bem planejado, vai-se embora o sossego da cidade. Só espero que Pirenópolis não se torne uma dessas capitais cheias de marginais, assassinatos todos os dias, aquela correria do cotidiano, prédios e mais prédios (só de imaginar isso me dá uma sensação de pânico).
ResponderExcluirExatamente!
ExcluirNa íntegra, esse é o grande problema que enfrentam os moradores de todas as cidades consideradas turisticas. Os turistas tem a visão preliminar do que convém a administração local, o morador tem a visão total do que vive no seu dia a dia. E ai o que convém, são os lucros, não qualidade de vida.
ResponderExcluirUm abraço.