quinta-feira, 3 de maio de 2012

A Feira Literária de Pirenópolis e o autor goiano


     A literatura é uma arte difícil e trabalhosa, que requer boa técnica e disponibilidade de tempo para seu exercício. Depois do livro pronto, vem a dificuldade de publicação e distribuição. A situação fica ainda mais dificultosa quando se está fora do eixo Rio-São Paulo, porque ali estão sediadas as maiores editoras do País.

     Fazer literatura em Goiás não é tarefa das mais fáceis. Por aqui há poucos leitores e raríssimas bibliotecas bem equipadas. Sem contar na lentidão dos gestores públicos estaduais para efetivar projetos culturais.

      Então, surge a Feira Literária de Pirenópolis (Flipiri). Mas o que era para ser uma festa para a literatura produzida em Goiás, infelizmente não contempla devidamente a prata da casa. A atração maior é o escritor gaúcho Luís Fernando Veríssimo. De Goiás, temos o escritor José Mendonça Teles, a quem será prestada justíssima homenagem, e um ou outro convidado, como Bariani Ortêncio.

     Só isso. Nenhum outro goiano terá o competente destaque na Flipiri. E quando falo em “destaque”, quero dizer se tornar palestrante convidado, com direito a receber pagamento pelo trabalho produzido, e não simplesmente compor um lançamento coletivo de livro para um dúzia de assistentes. Se Pirenópolis, que é o berço da cultura goiana, não valoriza devidamente o autor goiano, creio que estamos mesmo em maus lençóis.

     Com um pouco de boa vontade, poderiam os organizadores da Flipiri distribuir vários escritores de Goiás, por exemplo, entre os alunos das escolas municipais. Ali seriam ministradas palestras sobre temas regionais, sorteados livros, numa troca sadia de conhecimentos. Ganha o escritor, que tem oportunidade de mostrar sua arte e, de quebra, pode incentivar o surgimento de novos leitores. Ganham os alunos porque interagem com alguém que é da sua terra, que fala com o mesmo sotaque, que saboreia comida semelhante.

     Mas é para convidar o escritor goiano e pagar bem pelo trabalho prestado. Dinheiro para isso acredito que haja, pois dois patrocinadores de peso darão suporte à Flipiri deste ano, que são o BNDES (Banco Nacional do Desenvolvimento) e a Petrobras.
  

Adriano César Curado

15 comentários:

  1. A secretaria de cultura cria eventos que não são voltados para o pirenopolino. A ideia é “vender” uma imagem da cidade lá fora e assim conseguir cada vez mais recursos. Se por um lado essa estratégia dá resultados, por outro expõe a cidade a risco. Com o tempo, apaga-se aquela espontaneidade cultural que tão bem marca o esplendor das manifestações artísticas locais.

    Veja o exemplo do padre Fábio de Melo. Há uma conversa circulando no facebook de que a Banda de Música foi preterida, para que o padre cantor pudesse vir à cidade apresentar-se no Cavalhódromo. Se isso for verdade, é um absurdo.

    Da mesma forma acontece com a Flipiri. Todos os escritores pirenopolinos, incluindo você, Adriano Curado, de quem sou admirador e leitor, deveriam ocupar tribuna de honra na festa. As pessoas deveriam se reunir no teatro para ouvir os causos engraçados da poetiza Dona Marieta e ela ser das mais bem pagas por isso. Não é só tapinha no ombro e deus-lhe-pague, não. É dinheiro no bolso, gratificação das boas, porque todos que fazem literatura em Goiás merecem o devido reconhecimento.

    Está errada a Prefeitura de Pirenópolis ao dar ênfase a alienígenas em detrimento do seu povo. Tem que trazer gente de fora sim, isso é salutar. Mas também tem que valorizar os filhos da terra, porque todo pirenopolino carrega em suas veias um artista nato.

    Infelizmente, os valores em Pirenópolis estão invertidos. Mas no final do ano o pirenopolino terá oportunidade de mudar isso.

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  2. Adriano, você está certo, tem que falar rasgado mesmo. Se não pagam, não vá. Você é um artista e como tal tem que receber pela exposição de sua pessoa e da sua arte. Não tem essa de convidado de faz-de-conta, não. Escrever dá trabalho e são poucos os que conseguem. Então, se você tem o dom da escrita, bota preço do produto.

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  3. É irritante essa inversão de valores que acontece no Brasil. Vai-se tão longe à procura do ouro do vizinho, porque acham que ele brilha mais e saem pisando nos diamantes raros que se espalham pelo chão do seu próprio terreiro.

    É a prefeitura local que organiza essa feirinha de fundo de quintal? Vai lá não, eles não são dignos de seu calibre literário.

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  4. Uma pena. Sem você a festa perde muito do brilho.

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  5. Senta a pua neles, escritor, deixa isso barato, não. Eles não tiram dinheiro do próprio bolso, fazem esses eventos com o nosso dinheiro, com verba pública.

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  6. Tudo mundo que protestou aqui sobre a (des)organização dessa feita literária sertaneja tem razão. Se fazem algo parecido em Brasília, há uma avalanche de escritores de nossas academias participando. Isso é de uma simplicidade tamanha, que custa crer não tenham pensado assim em Pirenópolis – ou não quiseram pensar?

    A organização quer fazer uma solenidade que dê respaldo nacional à Flipiri, mas não precisa de nada disso. Se eu quiser visitar uma feira literária de peso, com grandes estrelas internacionais da literatura, vou para a Flipi. Em Pirenópolis tem que ter menos glamour e mais romantismo, menos badalação e mais simplicidade. É isso que diferencia a cidade do restante.

    Uma equipe de governo que não consegue ver esse diferencial está fadada ao insucesso.

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  7. Para que não aconteça mais esse tipo de coisa, é preciso que o povo da cidade se reúna com o prefeito e peça a saída do secretário de cultura. Um gestor cultural que não dá valor nos intelectuais da casa não mefece permanecer no cargo. Na França do século 18, por exemplo, a revolta de intelectuais mandou muito rei e rainha para a guilhotina. Não é possível silenciar diante de um absurdo desses, porque senão as coisas nunca mudarão.

    Se o prefeito não quiser trocar o secretário, troquem de prefeito no fim do ano.

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    1. Não vão demitir o secretário de cultura, Aninha. Ele age de acordo com a diretrizes que o prefeito lhe passa. Ou você acha que a autonomia dele é assim tão grande? Uma pena ver a Flipiri sem os autores goianos.

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  8. Quem tem chance de curtir o blog "cidadedepirenopolis" não precisa de flipiri! Meu apoio, minha solidariedade e meus cumprimentos pelas excelentes biografias dos vultos que as autoridades municipais e a misteriosa equipe que "realiza" a flipiri ignoram!

    Luiz de Aquino Alves Neto (como se conclui, neto orgulhoso do maestro e c ompositor Luiz de Aquino Alves).

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  9. Se me permite, Adriano, assino com você! E a propósito, recomendo aos frequentadores deste blog uma visita ao meu - http://penaposiaporluizdeaquino.blogspot.com -, onde lavro com veemência o meu protesto a essa coisa esdrúxula a que chama de "festa literária".
    Os organizadores, bem como as autoridades pirenopolinas, deviam expor publicamente as planilhas dos quatro eventos já realizados. E os patrocinadores precisam saber que, em seu nome, artistas de valor são vilipendiados.
    Com a palavra, BNDES, Petrovras, Correios, Governo Estadual e, se tiver coragem, a Prefeitura de Pirenópolis.

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  10. Escritor Adriano César Curado, li sua postagem sobre a Flipiri (Feira Literária de Pirenópolis) versão 2012 e vou concordar e discordar de você.

    Concordo quanto à sua tristeza de não ser valorizado à altura da sua literatura, logo você, que escreve tanto sobre sua terra. Em uma Pirenópolis idealizada e perfeita, a prioridade seriam os artistas locais, que vivem em contato com as pessoas da urbe e portanto sabem falar a língua nativa. Eles é que deveriam receber melhor, serem mais bajulados, com as melhores palestras, já que do linguajar da obras, conhecido e apreciado, viria o amplo sucesso do evento.

    Discordo de você quanto a não arregaçar as mangas e preparar a sua própria festa literária. Veja bem. Se eu faço uma festa, convido as pessoas que eu quero. Pode até ficar gente amiga de fora, mas naquela festa vai quem eu quiser, pois fui eu quem convidei. No caso da Flipiri, se não querem você por lá, bem valorizado e remunerado, com amplo lugar de destaque, deixe essa gente para lá.

    Você e os demais excluídos podem fazer algo muito melhor que aquilo que foi feito. Não é necessário rodar o prefeito e os secretários, vocês não precisam deles e nem da prefeitura para fazer acontecer seus sonhos. Aliás, o poder público sempre atrapalha tudo que queremos empreender.

    Meu conselho a você é que vire essa página, não se ressinta e nem se deixe abalar, pois gente assim não merece. Para o ano que vem você já sabe que não poderá contar com a organização da Flipiri, então não aguarde um convite à altura do seu pendor intelectual. Aliás, nem vá, seja lá qual for o destaque que lhe deem. Você merece muito mais e eles não são dignos da sua presença.

    Só me entristece saber que a festa é feita com dinheiro público, mas os convidados são particulares.

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  11. Ana Maria Magalhães8 de maio de 2012 às 09:30

    Esse fiasco da Flipiri só não se repetirá quando a gestão cultural sair das mãos do poder público.

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    1. Tudo que tem a mão do poder público é fiasco, meu caro.

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