SÉRIE
BIOGRAFIAS
JOAQUIM
PROPÍCIO DE PINA
(Mestre
Propício)
Joaquim
Propício de Pina (Pirenópolis 23.7.1867 – 11.8.1943) foi
professor de ensino primário, secretário da Câmara Municipal,
escrivão da Coletoria Municipal, fazendeiro, comerciante, músico,
maestro e fundador da Banda Fênix de Pirenópolis.
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Família __
Mestre Propício, como era conhecido, filho do capitão Antônio Luiz
de Pina e de Ludovina Alves de Amorim, era o caçula de oito irmãos:
Brazinho, Sofia, Tonico, Natália, Maria, Zuca e Sebastião Pompeu.
Ficou
órfão de pai ao quatro anos de idade e foi criado pelo irmão mais
velho, Braz Aristófanes de Pina (Brazinho), que falava quatro
línguas estrangeiras e era um boticário, tendo ensinado as
primeiras letras ao caçula. Depois Propício foi aluno do rígido
capitão Antônio Fleury de Sousa Lobo (Totó de Inhá), que lhe
ministrou aulas de latim, desenho e música.
Casou
com Rosaura d'Abadia Mendonça (dona Lalá) em 14.4.1888 e tiveram:
Antônio (Tonico), Eufêmia, Aquiles, Joaquim Júnior, Luís (Lulu),
Carlos (Carrinho), João, Agostinho e Maria.
Casa onde viveu e morreu Joaquim Propício de Pina |
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Formação artística __
Joaquim
Propício tinha um tio chamado capitão Braz Luiz de Pina, que era um
exímio musicista e grande professor, discípulo do padre José
Joaquim Pereira da Veiga, que por sua vez estudara com grandes
mestres da música no Rio de Janeiro. Na época, segunda metade do
século 19, Pirenópolis se chamava Meia Ponte e era uma cidade
pacata, isolada, que ainda se recuperava da decadência da mineração.
Nesse
ambiente de pouco contato com estrangeiros, borbulhava cultura,
principalmente musical, e nesse contexto crescia o jovem Propício.
Na atuação da segunda orquestra de Meia Ponte, por exemplo, os
irmãos Pina Braz, Teodoro e Teodolino acompanhavam, com voz grave e
forte, a orquestra do padre Francisco Inácio da Luz, irmão de
Antônio da Costa Nascimento (Tonico do Padre).
Em
1868, Joaquim Luiz Teixeira Brandão fundou a Banda Euterpe (Deusa da
Música), aproveitando os instrumentos de uma velha banda militar,
juntando velhos manuscritos musicais de partes de missas, música
para teatro e para concertos, deixando sua direção com Tonico do
Padre. Propício de Pina, então, se matriculou como seu aluno,
tendo que suportar o gênio forte e a disciplina rígida do mestre,
porque desejava assimilar seu grande conhecimento musical. Propício
era clarinetista e tocou no coro da Matriz, como membro da Orquestra
da Banda Euterpe, de 1868 até 1897.
Local onde Propício ministrava aulas primárias |
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Professor primário __
Em
18.5.1896, aposentou-se Totó de Inhá e Joaquim Propício foi
nomeado professor primário da municipalidade. Os ensinamentos que
recebeu do seu velho mestre, Pina transmitiria aos alunos no correr
dos anos, assim como a dura disciplina que recebera. Suas aulas eram
ministradas no prédio que mais tarde se tornaria a Prefeitura
Municipal e a sala ele dividia em duas alas – na da direita, com o
“banco dos burros”, se sentavam os alunos mais atrasados; à
esquerda ficavam os que tinham o privilégio de serem chamados de
adiantados. Às quartas e sábados dava-se a temida argumentação da
tabuada, com os alunos em semicírculos em frente à mesa do mestre,
com a mão direita estendida, quem errava ganhava um “bolo” de
palmatória.
A Banda Fênix, tendo Propício ao centro |
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A Banda Fênix __
O
temperamento de Tonico do Padre era muito forte e seus alunos sempre
reclamavam entre si da difícil convivência com o mestre. Por outro
lado, Joaquim Propício já se destacava como o mais brilhante músico
da Euterpe e por isso começou a ministrar aulas particulares aos
jovens Olavo Batista, Américo Borges de Carvalho, José Ribeiro Forzani e Olegário
Herculano de Aquino, que eram alunos do Colégio Ateneu Meiapontense
e desejavam passar na disciplina musical. Essas aulas se iniciaram em
janeiro de 1892, sempre à noite, na casa de Antônio Tomás de
Aquino Correa.
Com
o fim da Banda do Padre Simeão, que se apresentava na capela da
Fazenda Babilônia, os entusiasmados alunos do agora Mestre Propício, em número já maior,
compraram uma clarineta, um cornetim, um trombone, um bombardino, um
oficleide, um bombo e um par de pratos, dando novo impulso à aulas,
que de apenas teóricas, passaram à prática.
Casarão onde nasceu a Banda Fênix |
No
dia 23.7.1893, aniversário de 26 anos de Propício, seus alunos
musicais foram cumprimentá-lo com uma apresentação surpresa e ele se surpreendeu com o
excelente desempenho. Nascia ali uma nova corporação musical, a
Fênix que ressurgia das cinzas da velha Banda da Babilônia.
Tonico
do Padre ficou muito enciumado com o aparecimento de uma nova banda
de música em Pirenópolis, considerando Propício um ingrato, mas
estava tranquilo porque a Euterpe possuía uma estrutura muito maior
e era a corporação oficial da cidade. Ocorre que, em 1898, Tonico
do Padre sofreu um atentado contra sua vida e teve que passar o posto
de maestro para Odorico de Siqueira. Um ano depois, quando Tonico
retornou, era Joaquim Propício quem ocupava o posto de Mestre Capela
do Coro da Matriz.
Mas
Tonico do Padre tinha muitos contatos e em 1901 volta ao posto de
Mestre Capela. Em 1902, diante da nova rivalidade musical, a Igreja
dividiu a música da Semana Santa da seguinte forma: quinta e
sexta-feiras santas ficaram a cargo da Banda Euterpe, porém o sábado
e o domingo eram da Banda Fênix.
No
dia 15.2.1903, morreu Tonico do Padre e sua viúva transferiu o
comando da Banda Euterpe, com todo o acervo, a Silvino Odorico de
Siqueira. Começou então uma nova fase da batalha musical entre as
bandas, cada qual de lados opostos na política partidária e
disputando terreno nas festas religiosas e profanas.
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A Orquestra Pireneus __
Em
1923, Sebastião Pompeu de Pina Júnior (Tãozico Pompeu), sobrinho
de Propício, regressa da Cidade de Goiás e funda em Pirenópolis a
Orquestra Pireneus, com os seguintes membros: Joaquim Propício de
Pina (flauta), Euler Amorim (violino), Benedito Marcos da Conceição
(baixo em si), Hilário Alves de Amorim (violão), Sebastião Brandão
(trombone), Benedito de Aquino Alves (cavaquinho), Luiz de Aquino
Alves (violão), Otacílio Ferreira (clarineta), Braz Wilson Pompeu
de Pina (flauta), Joaquim Tomás de Aquino (flauta), Osmar Tocantins
(clarineta), Hélio Amorim (violino), José d'Abadia (violoncelo) e
Tãozico Pompeu (violino).
Para
contrabalancear, Silvino Odorico, maestro da Euterpe, promovia
festivos saraus em sua casa, que ficava de portas e janelas abertas,
com participação de sua família de bons cantores e músicos da
banda.
Apresentação de As Pastorinhas |
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As Pastorinhas __
No
ano de 1922, Alonso telegrafista, ao ser transferido para
Pirenópolis, trouxe uma peça do teatro de revista, todo bailado,
chamado As Pastorinhas. Com a ajuda de Benedito Pompeu de Pina,
Alonso apresentou a peça na Festa do Divino de Joaquim Mendonça,
mas foi uma apresentação ruim porque poucas eram as moças e não
havia quase nenhuma estrutura.
Joaquim
Propício, então, foi sorteado Imperador, ficando seu irmão
Sebastião Pompeu incumbido de preparar as peças teatrais. Pompeu decidiu-se logo pela peça
Morgadinha, mas quis também repetir a apresentação de As
Pastorinhas. Como Alonso estava desanimado, por conta da experiência
anterior, deixou que os pirenopolinos tomassem a iniciativa.
Sebastião foi às casas de família pedir para que as moças se
apresentassem, sob sua responsabilidade, e logo conseguiu formar os
cordões com vinte e quatro integrantes.
Banda Euterpe, concorrente da Fênix |
Enquanto
isso, Propício orquestrava a peça e José Assuério de Siqueira
copiava as falas dos personagens. Só que Alonso não quis doar o
material para Pirenópolis, então Mestre Propício e José Assuério,
na calada da noite, fizeram para si uma cópia clandestina. Foi um
sucesso aquela apresentação da revista As Pastorinhas. Propício
acrescentou mais três personagens, cujas músicas foram por ele
compostas, que são Fé, Esperança e Caridade. Quando Alonso
Telegrafista foi transferido de Pirenópolis, levou consigo os
originais da peça, sem nunca nem desconfiar que deixava para trás
uma cópia.
Maestro Luiz de Aquino, sucessor de Propício |
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Considerações finais __
Durante
o período em que ministrou aulas do ensino primário e regeu a
Fênix, Joaquim Propício de Pina também foi grande comerciante.
Comprava a vendia mercadoria dentro e fora de Goiás, possuía
grandes lotes de mulas e uma loja na esquina da rua Nova com o Largo
da Matriz. Essa loja ele passou para os filhos, que a levaram para
Anápolis e ali se tornaram homens ricos e influentes na política
estadual, como o coronel Aquiles de Pina. Comprou também a Fazenda
Chumbado, palco de grandes acontecimentos da história pirenopolina.
A desgraça de Propício foi a mesma que vitimou Tonico do Padre: a
política partidária. Por conta do seu envolvimento com partidos
políticos, foi demitido do magistério em 1918, depois de vinte e
três anos como professor, sem aposentadoria a que fazia jus por já
haver exercido por dez anos os cargos públicos de secretário da
Câmara Municipal e escrivão da Coletoria Estadual. Foi eleito
intendente municipal (hoje prefeito) em 1927. Com a vitória da
Revolução de 1930, Getúlio Vargas depôs o presidente Washington
Luís e nomeou Pedro Ludovico Teixeira interventor federal em Goiás.
Caía a Oligarquia dos Caiado, que apoiaram Joaquim Propício na
eleição para a intendência, e ele foi deposto em 3.11.1930.
Morreu
de uma parada cardíaca no dia 11.8.1943, ao 76 anos de idade, em sua
casa na rua Nova, tendo antes passado o comando da Banda Fênix a
Luiz de Aquino Alves.
Fazenda Chumbado, que pertenceu à Propício |
Adriano Curado
Fontes:
I
– Arquivos da Banda Fênix e da Prefeitura Municipal de
Pirenópolis.
II
– Periódico: A Matutina Meiapontense e Pyreneus.
III
– Bibliografia:
CURADO, Adriano César. Biografia do Mestre Propício. Pirenópolis: 1993. Mimeogr.- CURADO, Glória Grace. Pirenópolis: Uma Cidade para o Turismo. Goiânia: Oriente, 1980.
- JAYME, Irnaldo. Furacão Histórico. Anápolis: Ed. Cristã Evangélica, 1970.
- JAYME, Jarbas. Esboço Histórico de Pirenópolis., Tomos I e II. Goiânia: UFG, 1971.
- JAYME ___. Famílias Pirenopolinas (ensaios genealógicos), Tomo I, Pirenópolis: Edição do Autor, 1973.
III
– Pessoas entrevistadas:
- Adahil Lourença dias;
- Alaor de Siqueira;
- Angélica da Silva Gouveia;
- Agostinho de Siqueira;
- Benedita Lopes de Siqueira (dona Ita);
- Benedito Pereira da Silva;
- Boanerges Pireneus de Oliveira.
- Cristóvam José de Oliveira;
- Euler de Amorim;
- José Sisenando Jayme;
- João Jacinto (João Sobé);
- João Carvalho;
- João José de Oliveira;
- Lélia de Pina Amor;
- Maria d'Abadia Pina Godói;
- Maria Vulpina da Veiga (dona Santinha);
- Maria Jayme de Siqueira Pina;
- Manoel Ignácio de Sá;
- Nadiédia de Oliveira;
- Pompeu Christóvam de Pina;
- Sebastião Pereira (Bidoro);
- Silvino Odorico de Siqueira;
- Violeta de Aquino.
Escritor a Dona Ita (Ita de Alaor)chamava-se Benedita Lopes de Siqueira!
ResponderExcluirObrigado pela observação. Já alterei o texto.
ExcluirParabéns, essa biografia estava mesmo faltando por aqui! Ilustre maestro, grandes heranças culturais!
ResponderExcluirÉ verdade, ele foi um grande homem e fazia falta aqui a sua biografia. Parabéns, escritor.
ExcluirMuito bom o seu texto sobre o maestro Propício de Pina. Pena que hoje estão trabalhando para destruir a obra que ele tão brilhantemente construiu. Preteriram o pagamento da banda, na festa do ano passado, e deram prioridade ao padre cantor. Esse é o respeito que Pirenópolis tem com seus músicos. É isso que queremos para a cultura pirenopolina? Eu apoio a iniciativa dos músicos de só tocar, neste ano de 2012, com dinheiro no bolso.
ResponderExcluirHeranças, lembranças, histórias, enfim, são tantas coisas que só PIRENÓPOLIS pode mostrar.Pena nos dias de hoje a cultura, tradição, arte etc, serem "vendidos" em troca de favores, envolvendo política, dinheiro e malandragem....Uma boa recordação, lembrança e uma história incrível para representar o que PIRENÓPOLIS teve de bom, ainda tem, mas está sendo deixado para trás....Parabéns primo, você sempre nos emocionando com suas palavras representando PIRI.abraços
ResponderExcluirCada vez que abro esta página eu deparo com uma novidade boa. Você consegue agregar história e curiosidades, o que torna a leitura leve a atraente. Isso é bom para que a juventude possa conhecer esse homem grandioso que foi o Mestre Propício, fundador da banda Fênix que tanto encanta, principalmente nas alvoradas da festa do Divino. Parabéns, Adriano, continue sempre assim.
ResponderExcluirParabéns pelo texto, com certeza esta justa homenagem estava faltando a uma pessoa tão importante para a história de Pirenópolis. Mestre Propício merece ser homenageado por todo legado deixado para a cultura pirenopolina.
ResponderExcluirFoi muito bom abrir seu blog nesta segunda-feira e ler a briografia dessa grande homem. Isso nos dá alegria e força para continuar lutando. Os exemplos que temos hoje é de gente despreparada para os cargos públicos que ocupa, desonesta e interesseira. Encontrar um senhor de virtudes como o Mestre Propício é raro nos dias atuais e por isso eu exalto sua biografia.
ResponderExcluirParabéns.
De tempos em tempos, parece que o planeta Terra brinda a humanidade com grandes gênios. Foi assim com Beethoven, Bach, Tchaikovsky, Mozart, Mozart, Villa-Lobos, Belkiss Spenzieri, Tonico do Padre e agora descubro esse Mestre Propício. Um homem com essa grandeza e tamanha façanha cultura tinha que ser mais cultuado nos templos da música. Ninguém fala nele nos circuitos internacionais e isso é uma grande injustiça, pois o homem foi um empreendedor de tanto.
ResponderExcluirEssa sua biografia tem o valor extremado de nos trazer à baila esse personagem de salutar importância para a história brasileira.
Meus parabéns.
Este blog se tornou um veículo cultural e isso é muito importante nestes dias de globalização exacerbada.
ResponderExcluirVejam só como deterioram os valores no correr do tempo. Esse Propício de Pina fez tanto por Pirenópolis, principalmente na música e na educação, mas hoje seus conterrâneos não são sequer capazes de pagar pelos servidos dos músicos da banda.
ResponderExcluirTempos difíceis esses nossos!
Um grande homem que tem exemplo a ser seguido.
ResponderExcluirGrandes nomes da música universal têm que ser cultuados para a posteridade. Linda a postagem, meus parabéns.
ResponderExcluirAinda bem que a historiografia brasileira tem gente como você, Adriano Curado, que não deixa morrer o passado e o relembra em prol do bem comum.
ResponderExcluirParabéns pelo texto bem escrito.
Gostei muito.
ResponderExcluirSou goiano, mas moro em Mato Grosso há 40 anos, mas sempre pesquiso para apenas ler a história do meu Goiás.
Orgulho enorme do meu Tataravó!
ResponderExcluirParabéns por narrar tão bela biografia.