"Ainda é viva na memória dos pirenopolinos a manifestação dos mascarados em 2011 contra a numeração, provando com isso o valor do patrimônio cultural e o motivo pelo qual a Festa do Divino Espírito Santo de Pirenópolis foi tombada como Patrimônio Imaterial Brasileiro. Motivo este de tombamento de ser tal festa promovida pelo singular e original caráter popular, onde o povo faz a festa, mesmo sem influência ou patrocínio institucional, seja público ou privado. Não que não seja importante o apoio institucional, até mesmo sob forma monetária. Ora! sem dinheiro ninguém faz nada. Mas, por se tratar de festividade popular, que é definida como popular por ser promovida pelo povo, quanto menos interferência de instituições, mais popular a festa é. E esse é o verdadeiro valor da festa e o motivo primordial de seu tombamento.
No momento em que políticos e empresários tentam se apossar da festa com interesses diferentes daqueles festejados, esta primordial característica enfraquece. Como é o caso do cavalhódromo. É vidente que quem o projetou não tinha a mínima noção do que é uma cavalhada. Acho que este engenheiro ou arquiteto pensou que a cavalhada era como um futebol ou um teatro de arena onde a platéia passiva assiste os atores ativos no campo ou no palco. Desconhecia este que numa festa popular o ator ativo é o povo. Quem faz a festa é o povo e o povo é a festa. E a festa acontece tanto fora do campo como no campo. Ou será que não faz parte da festa o assédio dos mascarados nos camarotes? O vai e vem da população, do ranchão para o campo e do campo para a rua? Quem, anos após anos, frequenta os camarotes sabe que a maior parte do tempo a atenção está fora do campo e da batalha. Até mesmo porque esta é repetitiva e enfadonha. O divertido mesmo é o relacionamento popular. Os docinhos de coco e os guaranás. O "me dá um dinheirinho aí" dos mascarados.
Neste projeto que aí está não consideraram os projetistas esta faceta da festa e o volume de pessoas que circulam pelas arquibancadas e camarotes. Tanto que o espaço de circulação é muito aquém daquele necessário. Neste esfacelado projeto, perdeu-se um desenho importantíssimo que retratava as divisões sociais e a integração entre elas: que eram os camarotes próximo ao campo, erguidos do chão em um nível superior, ocupados pelas famílias tradicionais, reservados, particulares e hereditários. Abaixo destes, os vãos inferiores no nível do piso, por onde circulavam o povo e os mascarados e eram vendidos churrasquinhos e bebidas. Esse tipo de hierarquização refletia a sociedade e suas relações. Todo esse sistema circundava o campo, o centro de tudo, onde é disputado a eterna luta do bem contra o mal, a dramatização da dualidade cósmica e aparente. Oriente X ocidente. Vermelho X azul. O eu X o outro. Na antiga forma ninguém se distanciava deste embate. Mascarados circulavam livremente a poucos metros dos cavaleiros e os cavaleiros tinham acesso direto aos camarotes. Aí sim víamos o verdadeiro espírito da festa, o Divino Espírito Santo, que apesar de haver diferenças estávamos todos juntos num mesmo ambiente de confraternização.
Destarte hoje com este cavalhódromo substituíram o espírito por cercas, muros e distâncias. A afirmação da soberania tornou mais evidente e cruel. Lá no alto, a quase não mais se enxergar fizeram os camarotes das autoridades. Longe do povo e impondo uma pesada sombra sobre o campo, apagando as cores e o brilho da festa. Afastaram o povo do campo e impediram sua circulação e seu trânsito aos camarotes. Se antes a estratificação social, simbolizada pelos diferentes níveis dos pisos do campo e camarotes, era em praticamente dois níveis, hoje esta estratificação ficou mais evidente, maior e mais distante.
Mas de fato, pergunto: Será isso apenas uma ignorante falta de conhecimento dos projetistas ou uma deliberada nova forma de dominação, que afasta o povo do palco da festa e levanta um totem majestoso à glória do governador? Será este um novo símbolo de dominação, mais cruel e imponente? Porque o povo de Pirenópolis não se manifesta contra, como fez com a numeração dos mascarados? Será, então, que há uma anuência implícita a esta nova forma de poder e hierarquização? Se for assim, é certo que os tempos mudaram, mais forte que a tradição é o poder de dominação, que, de todo modo, faz parte de nossa tradição."
Texto de Mauro Cruz, publicado em pirenópolis.tur.br, acesso em 20.3.2012.
É aquela velha história - fazem a coisa mas não consultam o povo.
ResponderExcluirSe o governo fizer uma pesquisa entre os pirenopolinos, verá que o descontentamento com o Cavalhõdromo é imenso.
A obra está inacabada e atenta contra o patrimônio histórico de Pirenópolis. Os problemas que o Mauro Cruz apontou no texto são reais e devem ser considerados com seriedade.
Ninguém quer esse Cavalhódromo. Nem aos turistas ele agrada, pois não há espaço para todos, e as arquibancadas são apertadas demais.
Um ELEFANTE BRANCO DO CERRADO.
O Governo do Estado pode até ter se vestido com o manto da boa intenção, ao construir o Cavalhódromo no antigo campo de futebol Dr. Ulisses Jayme. Mas pecou ao deixar de consultar a população pirenopolina. O resultado é um descontentamento geral com o projeto arquitetônico, para o qual muita gente torce o nariz.
ResponderExcluirEsse Cavalhódromo não agrada ninguém. Para os turistas é horrível porque os camarotes tampam a visão e as arquibancadas não comportam todo mundo. Para os pirenopolinos é pior ainda, por conta do atentado contra a cultura, descrita no excelente texto do Mauro Cruz.
Para mim, que cresci assistindo as Cavalhadas no velho campo, é com dor no coração que compareço anualmente à antiga arena dos combates teatrais – uma caixote inacabado de concreto, que já consumiu considerável soma de dinheiro público.
O espaço até que é bom, serve para comportar shows musicais, como vimos no Canto da Primavera e pode sediar partidas futebolísticas. Mas é imprestável para as Cavalhadas porque atenta contra a tradição secular do pirenopolino.
Na minha modesta opinião, temos que abandonar o Cavalhódromo, pois não convém desperdiçar mais dinheiro público com demolição, e escolher outra praça para a encenação das Cavalhadas.
Por muito pouco não tivemos o Largo da Matriz totalmente desocupado, e ali novamente poderiam correr Cavalhadas. Mas estão construindo outro elefante branco no lugar e o prédio dos Correios teima em ficar. Outra opção seria no fundo da Aldeia da Paz, mas ali será plenamente arborizado dentro dum grande projeto de reestruturação das margens do rio das Almas.
Não é bom que o Campo das Cavalhadas saia das proximidades do Centro Histórico, para não descaracterizar ainda mais a Festa do Divino. Mas ainda restam grandes pastos, que não foram loteados, no entorno da cidade, e essa é uma ideia que pode ser pensada, desde que a população aprove, obviamente.
De qualquer forma, o texto do Mauro Cruz serve como um pontapé inicial, uma reação à aculturação que querem nos impor. Se quiserem começar uma campanha, eu seguro a bandeira e ajudo a restaurar esse parte importante da nossa história.
Eu acho que, agora, nessas alturas do campeonato, não tem mais alternativa. Não deviam é ter deixado construir esse mausoleu faraônico, agora vai ser difícil mudar a situação.
ExcluirTodo governante público quer deixar sua marca administrativa. Uns fazem viadutos, outros constroem monumentos. No caso do Cavalhódromo de Pirenópolis, foi a forma que Marconi Perilo encontrou de se perpetuar na história.
ExcluirA cidade é ponto turístico nacional e está inserida na historiografia como anexo de pesquisa do ciclo do ouro. É importante para um político ter seu nome ligado a um grande avanço, ainda que seja um erro ainda não notado.
Concordo que a intenção de Perilo era boa, mas faltou uma pesquisa histórica dos arquitetos envolvidos no empreendimento. Fizeram algo grande demais, faraônico ao extremo, sem que o lugar tivesse suporte para isso. Basta ver que, de vários lugares da cidade, as torres da arena surgem agressivas na paisagem. É tão desproporcional em relação àquilo a que se destina, que até hoje não houve meios de terminá-lo.
Fizessem algo menor, mais adequado aos padrões da Festa do Divino local, com pesquisa junto à população. Empurraram um pacotão lacrado goela abaixo no pirenopolino e a coisa entalou no bucho.
E agora?!
A aculturação é a morte por asfixia das tradições de um povo. E ela é a mesma, quer na construção dum Cavalhódromo horroroso, quer na distribuição de óculos escuros aos índios, quer na introdução de elementos estranhos ao folclore local.
ExcluirNão sei se estou enganada, mas aquele cavaleiro com a trombeta do apocalipse que anuncia a entrada dos cavaleiros não existia. É uma inovação que veio com o pacote do tal Cavalhódromo. Esses elementos novos são um perigo para a cultura nativa, pois abrem precedentes venenosos que podem contaminar a árvore como um todo.
A questão do Cavalhódromo é complexa porque se trata de um pacotão fechado, sem povo e sem imprensa. Um governante cismou que o campo antigo não era suficiente e então mandou um arquiteto desenhar uma arena gigantesca, do tamanho da sua vaidade. O arquiteto, sabedor das aspirações faraônicas do governador, mas desconhecedor da cultura local, riscou na prancheta um monstro de concreto. A obra é tão grande, que até hoje, passados tantos anos e três governos, ainda não foi concluída. E nem será tão cedo.
ResponderExcluirQue pode o povo fazer? Acho que pode muito. Foi o povo que elegeu os políticos que afora estão no poder e esse mesmo povo tem o direito de exigir ser respeitado, ser considerado o real detentor do poder, como ente coletivo que é. Se o arquiteto do governador está se lixando para a cultura nativa, querendo nos impor um enlatado alienígena, podemos responder com o repúdio ao caixote horroroso, de nome diabólico – o famigerado Cavalhódromo.
Paulinha, você está apoiada... os políticos querem acabar com a festa e com o povo.
ExcluirPolítico tem a mão podre, onde toca, destrói.
ExcluirQuando o governante não nota nas aspirações do seu povo, é porque deixou de ser um gestor público e passou apenas a polir a própria vaidade.
ResponderExcluirE como tem dinheiro público mal empregado neste país...!
ResponderExcluirUma realidade triste. Nem mesmo os respingos de água caem mais dos camarotes sobre nossas cabeças, não dá pra descer rapidinho do camarote e comprar um churrasquinho. E quando eu saia de mascarado, rolava na pequena rampa de grama fazendo palhaçada em frente aos camarotes. E quantos sorrisos estão apagados por isso. Ficou moderno, mascarado agora tem que subir escada, pedir as autoridades permissão pra brincar, e hierarquia estampada até mesmo nas faixas em volta do campo, como se fossem os donos das festas, os patrocinadores. O nome já diz, PATROCÍNIO, é uma ajuda, e não um mandamento. Não podemos mais bater os pés nas madeiras dos camarotes e dançar a catira da apresentação. .Até mesmo para os cavaleiros ficou insuportável pegar dinheiro da doação das argolinhas, eles agora precisam fazer contorcionismo em cima do cavalo para entregar sua lança e assim receber a ajuda. Os vendedores ambulantes, que antes vendiam sua cervejinha e seu churrasquinho debaixo do sombreiro do camarotes rústicos, agora ficam debaixo do sol escaldante, ou qualquer sombra que ainda acharem. Sem dizer que numa parte do Cavalhódromo colocaram um piso de "latão" que quase afundou com as pessoas. Então, vamos gritar: DEMOLIÇÃOOOOOOOOOOOOOOOOO DO CAVALHÓDROMO, volta de nossos camarotes tradicionais! Se continuar assim, daqui a uns dias teremos elevador para chegar no camarote. Estão querendo acabar com nossa tradição e estão conseguindo. Fui a favor da numeração dos Mascarados só pelo simples fato de que acho que PIRENÓPOLIS precisa de união para brigar pelo que quer e não se desunir como vem acontecendo. O CAVALHÓDROMO está ai, e ninguém berrou, ou bateu o pé, aconteceu, daqui uns dias colocarão músicas sincronizadas no TABLET para as Pastorinhas se apresentarem. Ah, e também escadas rolantes no Cavalhódromo. VAMOS UNIR, MINHA GENTE, ACORDAR A POPULAÇÃO, FAZER ACONTECER, se ficarmos parados vão até cobrar ingresso para assistirmos as Cavalhadas!!!!ACORDEMMMMMMMMMMMMMMM.
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