Os ciclos do ano recomeçam. Logo teremos o Carnaval, a Quaresma, a Semana Santa, a Páscoa, Pentecoste, entre outros ciclos cristãos que influenciam os acontecimentos culturais do nosso estado. A raiz da cultura goiana vem das festas religiosas. Em Pirenópolis, o primeiro semestre segue com uma agenda rica de tradições, cada uma com seus rituais e celebrações, festas religiosas e suas vertentes profanas. A quaresma e a Semana Santa na velha Meia Ponte marcam um período clássico: as janelas dos casarões são abertas e enfeitadas de toalhas com renda, castiçais, vasos de flores para esperar as procissões. Nas Ruas, as irmandades com suas insígnias levam os santos ao som de Ave Marias e do coral em latim.
Procissão das Dores, dos Passos, do Encontro, do Perdão, Via Sacra e Senhor Morto. São Celebrações lindas, com belas músicas, toques de matraca – um instrumento quase perdido no tempo; repique de sinos. É um tempo de meditação. O próximo ciclo é um alegro. Com o Domingo de Páscoa, passa-se a introspecção e se chega à comemoração. Ao meio dia, a banda de música toca na porta da Matriz. É um anúncio de que está chegando a Festa do Divino. A maior comemoração da cidade acontece daí a exatos 50 dias. A partir do domingo de Páscoa começa-se a preparação para os festejos do Divino Espírito Santo, onde acontecem a novena do Divino, o Cortejo do Imperador, as Cavalhadas, as Pastorinhas, folias, Reinados, Alvoradas e tantos outros costumes meiaponteses. São costumes que acontecem há mais ou menos 200 anos. Mas quantos ciclos como esses ainda acontecerão na Velha Meia Ponte?
Sim, é um pergunta a se fazer, pois para que isso perdure como acontece até hoje é preciso que seja passado de geração após geração. Quem faz hoje esses rituais aprendeu com os seus antepassados, mas os cidadãos de hoje não estão dispostos a levar essa herança. Ludibriados pelo mundo moderno e tudo o que ele oferece, corremos o rico de perder essas tradições que contam nossa história e nos dão identidade. E isso não é difícil de acontecer se não for passado para as novas gerações. Corre-se o risco de se perder tudo. Na Bíblia, no Antigo Testamento, vemos a História de José do Egito. O jovem, vendido pelos seus irmãos, foi parar no Egito, onde prosperou e se tornou o braço direito do Faraó. José salvou o Egito da miséria e da penúria em tempos de seca. Se não fosse ele, o Egito teria sofrido graves consequências. Ele levou seu povo para o Egito, e lá os Hebreus prosperaram e cresceram. Após a morte de José, seus feitos pelo País foram sendo esquecidos pelos egípcios e, como conseqüência, seu povo foi escravizado naquelas terras; e a gratidão por José ficou perdida no tempo.
Não podemos correr o risco de perder as obras de nossos antepassados, as raízes da nossa história. Em Pirenópolis, são poucos os que trabalham em prol da nossa cultura e tradições. Isso é algo muito grave, e que não é resolvido pelo poder público ou por quem está à frente dos acontecimentos. Esse problema só será resolvido se passarmos para nossos filhos o amor pelas coisas da cidade, se ensinarmos-lhes a participar com o nosso exemplo. Vamos ensina-los a colocar Manjerona nas ruas para a procissão passar, flores nas janelas, a sair de mascarado, a acordar para a Alvorada, assistirem aos três dias de Cavalhadas e tantos outros costumes que estão se perdendo no tempo.
Temos que aprender com os exemplos de pessoas como Ita e Alaor, Ico, Pompeu e tantos outros que, no passado, faziam as tradições acontecer. Mas nem tudo está perdido. A Irmandade do Santíssimo Sacramento, uma entidade que tanto fez por Pirenópolis, está crescendo novamente. A Academia Pirenopolina de Letras, Artes e Músicas (APLAM) voltou com tudo, e a recém-criada Comissão de Folclore está lutando por nossa cultura e tradições. Pirenópolis não pode se tornar apenas a cidade das cachoeiras, dos artesanatos e lugar de paz e amor. O futuro é bem-vindo, a modernidade também; mas é preciso respeitar o passado e preservá-lo. É necessário manter essa harmonia. Afinal, é como diz a música: “tem tantas coisas que só Pirenópolis pode mostrar.”
Ronaldo Felix Fontes - artigo publicado no Diário da Manhã no dia 03/02/2017.
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Adriano Curado