sexta-feira, 1 de novembro de 2013

Maria Eunice Pereira e Pina



SÉRIE BIOGRAFIAS
MARIA EUNICE PEREIRA E PINA




Maria Eunice Pereira e Pina (Pirenópolis 16.06.1930 – 24.11.2005) foi escritora, poetiza, grande incentivadora da cultura pirenopolina, fundadora do Museu das Cavalhadas, do Jornal Nova Era e da Academia Pirenopolina de Letras, Artes e Música.


Os filhos Luiz Armando e João Luiz.
Foto: acervo do Museu das Cavalhadas
Era filha de João Luiz Pereira e Sílvia Leite. Estudou no Colégio Padre Gonzaga e na Escola Normal Nossa Senhora do Carmo, ambos em sua terra natal. Casou-se com Sebastião Pompeu de Pina (Tãozico) em 26.6.1946, e tiveram: Eduardo Pompeu de Pina; João Luiz Pompeu de Pina; Maria do Carmo de Pina Mendonça; Luiz Armando Pompeu de Pina; Sílvia Conceição de Pina; Célia Fátima de Pina (Jayme, p. 260).


Interior do Museu das Cavalhadas

O Jornal Nova Era
Maria Eunice e José Reis fundaram em 1989 o jornal Nova Era, que circulou em Pirenópolis de outubro de 1989 a abril de 1998, quando encerrou suas atividades no número 35. Sua finalidade era puramente cultural. Não possuía caráter político-partidário e nem visava qual tipo de lucro. Sua arrecadação com patrocínio era ínfima e mal dava para as despesas. O jornalista José Reis foi o idealizador do projeto, e com ele colaborou de forma decisiva Maria Eunice Pereira e Pina.


Interior do Museu das Cavalhadas

A Academia Pirenopolina de Letras, Artes e Música
No dia 26 de março de 1994, na casa de Maria Eunice, foram traçados os planos iniciais para a concretização do projeto da Academia, e ela, com uma pequena aposentadoria, arcava sozinha com as despesas e ainda achava tempo para tocar o Museu das Cavalhadas, selecionar artigos para o Jornal Nova Era e dar atenção para a família. E no dia 16 de abril de 1994, depois de alguns ajustes, Arnaldo Setti, José Jayme e José Mendonça Teles concluíram a lista de patronos e acadêmicos. Precisamente às 17h00, no Museu das Cavalhadas, foi declarada fundada a Aplam. Maria Eunice ocupava a Cadeira n° 04, Patrono José Joaquim da Veiga Valle; e é a Presidente de Honra da entidade.


Maria Eunice no Museu.
Foto: Acervo do Museu das Cavalhadas

O Museu das Cavalhadas
Na casa onde morou Maria Eunice, localizada na Rua Direita, n° 39, no Centro Histórico de Pirenópolis, está localizado o fabuloso Museu das Cavalhadas, que foi aberto ao público em 1976. Podemos dizer que a Festa do Divino entrou na vida de Maria Eunice aos poucos, quando seus filhos Luiz Armando e João Luiz, ainda jovens, decidiram participar das Cavalhadas e aprontavam no quintal de onde hoje é o museu. A mãe os ajudava na custosa arrumação dos cavalos, no cuidado com a roupa engalanada, no trato com os ajustes finais aqui ou acolá.


Exemplar do Jornal Nova Era

O portão aberto, a localização central daquele quintal, a simpatia dos membros daquela família, tudo isso atraiu público. Primeiramente os pirenopolinos, e atrás deles os turistas. Maria Eunice tinha que dividir a atenção com a aprontação e os insistentes pedidos para tirar fotos, fornecer dados sobre a festa, emprestar material de pesquisa. Notou ela, então, que a cidade estava carente de um local voltado para a memória das Cavalhadas. Neste instante, o museu invadia sua casa, sua vida, sua intimidade, e passaria em breve a fazer parte de sua própria existência.

Interior do Museu das Cavalhadas

Tudo começou com a exposição das roupas dos filhos numa salinha na entrada da casa, mas com pouco tempo começaram as doações e o museu não parou mais de crescer. Invadiu casa adentro, diminuiu os espaços da família, e aquela simples residência passou a ser uma casa de cultura.

Luiz Armando e João Luiz participaram das Cavalhadas por duas décadas e isso estabeleceu laços fortes entre aquela família e a Festa do Divino Espírito Santo. Tanto que, após deixar de ser cavaleiro, João Luiz decidiu investir no futuro da festa e criou assim as Cavalhadas Mirins. O museu conserva hoje significativa parcela da memória das Cavalhadas de Pirenópolis e da Festa do Divino como um todo, o que compõe o contexto cultural da cidade. Se tivesse mais espaço e alguma ajuda financeira fora da família, preservaria ainda mais a riqueza cultural goiana, pois seu acervo poderia ser muito maior. Seu público hoje é composto de turistas nacionais e estrangeiros, e não é raro ver grandes concentrações de excursões de estudantes e pesquisadores na porta da casa.


Entrada do Museu das Cavalhadas

Com a morte de Maria Eunice em 2005, a família se cobriu com o mesmo manto de altruísmo que sempre a orientou. Resolveram entre si preservar a casa e todo o acervo do museu. Lá mora hoje sua filha Célia, uma pessoa fabulosa e entusiasmada, que contagia a gente com aquele mesmo carisma que sempre foi a marca de sua mãe. Sozinha, sem ajuda, resiste bravamente aos obstáculos que a vida lhe impõe. Célia cursa turismo, quer ver o acervo ampliado e sonha com a casa transformada toda em museu.

O Museu das Cavalhadas se inseriu nos cadastros do Instituto Brasileiro de Museus (Ibram) em 2009 e desde então participa de programas nacionais de museus, o que amplia bastante o alcance do compartilhamento de informações e experiências.


Interior do Museu das Cavalhadas 

Produção literária:

Participação em antologias:
1. Poemas, trovas e crônicas no Anuário dos Poetas do Brasil, Organização de Aparício Fernandes, Rio de Janeiro: Folha Carioca Editora Ltda., 1979 e 1982.
2. Colheita (A voz dos inéditos), Organização Gabriel Nascente. Goiânia: Inigraf, 1979.
3. Corumbá (Episódios e Comentários), Organização Renato Báez. Org. Renato Báez, São Paulo: Resenha Tributária, 1979.
4. Genealogia e Opiniões, Org. Renato Báez, São Paulo: Resenha Tributária, 1983.
5. Primavera em Trovas - Arthur F. Batista - São Paulo - 1981.
6. Saudade em Trovas - Arthur Francisco Batista - SP - 1983.
7. Luz nas Trevas (4° Vol. da Coleção Arnês), Org. José Pinheiro Fernandes, Rio de Janeiro: Editora Valença, 1985.
8. Ficções de Hoje... Realidade de Amanhã (10° Vol. da Coleção Arnês), Org. José Pinheiro Fernandes, Rio de Janeiro: Editora Valença, 1991.

Obra publicada:
PINA. Maria Eunice Pereira e. Devaneios de uma pirenopolina. Goiânia: Kelps, 1993. (poesia)

Considerações finais:

Convivi muitos anos com Maria Eunice e posso testemunhar seu desprendimento pessoal em prol da cultura. Eu a considero a Cora Coralina de Pirenópolis. Nossa cidade deve bastante a ela e à sua família. Seu filho Luiz Armando foi duas vezes prefeito, e como cavaleiro das Cavalhadas ajudou a modernizá-la, foi rei mouro por muitos anos. João Luiz também foi cavaleiro e depois criou e organiza até hoje as Cavalhadas Mirins. Célia mantém vivo o sonho da mãe e idealiza melhorias no Museu das Cavalhadas. Por tudo isso, Maria Eunice merece figurar entre nossos biografados.

Adriano Curado

Fonte:
Arquivo da Academia Pirenopolina de Letras, Artes e Música
Arquivo da Biblioteca Piraí, em Pirenópolis.
Acervo do Museu das Cavalhadas.
CARVALHO, Adelmo. Pirenópolis – Coletânea 1727-2000, História, Turismo e Curiosidades. Goiânia: Kelps, 2000.
JAYME, Jarbas. Famílias Pirenopolinas, Vol. I, Goiânia: Editora UFG, 1971.

Entrevista:
Maria Eunice Pereira e Pina (em 2000)
João José de Oliveira (em 2000)
Célia Fátima de Pina (em 2013)


Agradecimentos: Pollyana Pina, Célia Fátima de Pina, Luiz Armando Pompeu de Pina, João Luiz Pompeu de Pina e João Guilherme Curado.

2 comentários:

  1. Não faço comparação entre Cora e Dona Eunice, Dona Eunice é única e produziu para Pirenópolis o encontro de refinados literatos, os melhores do estado de Goiás, que de suas reflexões a cada dia aprendemos mais.

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  2. Minha avó linda e feliz em seu museu.. a pessoa mais nobre, culta e amorosa que conheci.. amava Pirenópolis e tinha idéias pioneiras, a frente de seu tempo ...uma verdadeira revolucionária.. faz muita falta!! obrigada, Adriano Curado.. a APLAM está em muito boas mãos!, não tem dúvida..

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