segunda-feira, 19 de novembro de 2012

As impressões de um turista


Uma das cachoeiras da Fazenda Bonsucesso, em Pirenópolis (foto: Rafael)

É sempre bom fazer uma viagem curta e sair um pouco da cidade onde estamos. Dá uma sensação de férias, e é uma grande higiene mental. Eu, minha namorada e mais um casal amigo fomos a Pirenópolis, no fim de semana passado, justamente com esse objetivo. A cidade é conhecida por sua herança histórica e cultural, passeios ecológicos e boa infraestrutura de pousadas, restaurantes e bares.

Os Restaurantes

Vamos começar pelos problemas. A proximidade com Brasília (cerca de 120 km), infelizmente, tem forte influência sobre os preços praticados, que nada ficam a dever à capital federal. Até o acesso às cachoeiras é cobrado, e não é exatamente barato. Até aí, tudo bem. Afinal, elas se encontram em propriedades particulares. E se isso for uma maneira de explorar o recurso ao mesmo tempo em que estimula a preservação, tá valendo.

A "rua do lazer". Cuidado com as armadilhas para turistas (fonte)

Menos nobres são as "armadilhas para turistas", como muitos dos restaurantes "transados" da cidade. Vale pesquisar bem antes de se decidir por um. O problema não é tanto o preço em si, mas o benefício obtido. Muitas vezes paga-se caro por muito pouco. E eu, como mineiro, detesto "miserê". Cobrar caro, ok. Mas sirvam porções satisfatórias! Um bom exemplo desse problema é o restauranteCaffé Tarsia, localizado na tal "Rua do Lazer". A conta lá não foi extorsiva - foi pornográfica. O equivalente a um Porcão, basicamente por pratos de massa. O meu pedido foi uma piada (de mau gosto)... Quase 30 reais por uma lasanha de 3 cm de altura por uns 13 cm de lado. A cerveja, aquela droga de Backer, e a sete reais a garrafa! Junte a isso o couvert artístico, e a conta bate facilmente em uns 70 reais por cabeça. Devia ter ido ao Porcão! Pelo menos o show compensou. Valeu cada centavo do couvert. Minha recomendação é que você jante e coma em outro lugar, e só depois disso vá para lá, apenas para ver os shows da casa, que são realmente top de linha. Fique bebericando um refri ou uma água mineral. Afinal, nós somos turistas, mas não somos trouxas, não é mesmo?

Pirenópolis (fonte)

Outro restaurante problemático da tal rua do lazer é o tal de Trotamundus, que gaba-se da sua "pizza quadrada". O lugar não é muito agradável, e fomos bem mal atendidos. Após servir a primeira rodada de cerveja (eles têm apenas as famigeradas longuinéquis), a atendente já foi pressionando para fazermos o pedido. Diante da negativa, simplesmente esqueceu da gente. Depois de uns 20 minutos de copos vazios, desistimos de esperar e fomos embora. A impressão que tive é que era esse mesmo o objetivo. Fico pensando se todos os restaurantes da Rua do Lazer seguem a mesma cartilha, encarando os turistas apenas como uma fonte de lucro fácil. Comigo, não. Comigo tem que rebolar.

Pirenópolis (fonte)

Bem diferente desses acima é o Ô Xente, Uai, que fica depois da ponte de madeira. É um nome idiota, concordo. E a "decoração" é de empalidecer um frade de pedra. Especialmente uma certa palmeira fálica. Não que isso tenha muita importância. O que vale é que as porções são fartas (suficientes para um casal se empanturrar), há cervejas 600ml de várias marcas, e a conta é honesta. Ou seja, você paga pelo que foi servido, com justiça. A especialidade da casa é um mix de comida mineira e goiana. As atendentes são de uma simpatia e atenção ímpar. Ficamos fãs delas. O único ponto realmente negativo é a música ao vivo, alta demais e que nunca sai do que há de mais trivial na MPB. Sabe como é, o velho esquema "Chão de Giz" e afins. Pior é que tinha um cliente mala que ficava gritando "TOCA RAUL!" sem parar. Sério. "Toca Raul" o c***lho! Mas o restaurante tem mesas no quintal, na parte de trás, o que permite ficar longe do barulho, aproveitando a tranquilidade sob as árvores. Optamos por ir para lá, antes que o cantor ameaçasse atender aos pedidos.

Pirenópolis (fonte)


As Cachoeiras

Ficando apenas um final de semana, e sem conhecer muito da região, optamos por passeios menos complicados. No sábado, fomos nas cachoeiras da Fazenda Bonsucesso. Preço, dez reais por pessoa. São sete cachoeiras espalhadas ao longo de uma trilha de aproximadamente um quilômetro e meio. A trilha é moleza, mas os últimos dois trechos são mais íngremes e podem ser complicados para crianças pequenas, pessoas mais velhas ou com dificuldades de locomoção. Olhe sempre onde for pisar, pois as vacas de lá parecem ter diarréia constante. Falta de fibras, eu presumo. As sete cachoeiras são variadas, para todos os gostos, mas a proximidade da cidade atrai muito farofeiro. Recomendo chegar cedo (antes das 10:00) e picar a mula quando o movimento começar a aumentar. A fazenda conta ainda com restaurante próximo, mas não me interessei.

Uma das várias cachoeiras da Fazenda Bonsucesso (foto: Rafael)

No domingo animamos em ir mais longe, nas cachoeiras Renascer e Araras, que ficam a cerca de uns 17 km de Pirenópolis. Dé real tamém. A Araras é outro point farofa. Por ser muito próxima do local de parada do carro - apenas 200 metros - atrai a grande maioria dos nossos "atléticos" cidadãos. Depois perguntam porquê a obesidade virou epidemia! A Araras é bonita, mas bem lugar comum, e tem a vantagem de possuir uma boa infraestrutura, com banheiro, cadeiras e barraquinha de comes e bebes. Como nosso objetivo era justamente ficar longe de tudo isso, optamos por ir à Renascer. Compensou. A trilha é bem bonita, embora pareça, a princípio, não ir a lugar algum. O único senão é que é mais curta do que gostaríamos. Em cerca de meia-hora chegamos na Renascer. Apesar de curta, é bom não descuidar do calçado, pois há muitas pedras soltas e pontos escorregadios. Use sempre um bom tênis. Encontramos na volta umas patricinhas com sandalinhas de passear em shopping (douradas, com brilhantes... deu para ter uma idéia da falta de noção), iniciando a trilha. Não devem ter durado muito. As sandálias e os dedões localizados acima delas.

Renascer: Lá em cima, rapel. No meio, uma
gigantesca colmeia de abelhas.
 (foto: Rafael)

A Renascer em si é pouco mais do que uma série de tobogãs suaves. Mas é muito bonita, inclusive com piscinas cristalinas de correnteza lenta, onde é possível nadar sem preocupações. Há também um paredão onde pode-se fazer rapel. De fato, alguns bombeiros estavam lá praticando justamente essa modalidade. Mais intimidador que a altura em si era uma gigantesca colmeia que ficava justamente no caminho da corda por onde desciam os sujeitos. Mas eles não pareciam muito preocupados. Apesar da cachoeira ser bem menos frequentada do que a Araras, vale o conselho de sempre: chegar cedo. Por volta de 11:00, começa a aumentar o movimento, e lá se vai a tranquilidade.

As cercanias de Pirenópolis têm muito mais a oferecer em termos de passeios ecológicos, do que nossas tímidas tentativas. Pode acreditar. Vale pesquisar de antemão para saber o que mais lhe agrada ou se encaixa na sua janela de tempo. Os passeios acima são razoáveis para quem está com pouco tempo e não quer muita complicação. Mas da próxima vez vou querer algo mais desafiador. Qualquer outra decisão seria um desperdício de material.

A Pousada

A Pousada Walkeriana

Ficamos numa ótima pousada, a Walkeriana. Localizada em belo e amplo casarão estilo colonial, ela fica perto de tudo, inclusive dos principais pontos de lazer da cidade. Os quartos são espaçosos e ventilados. O proprietário é dono de um antiquário, e os quartos da pousada refletem isso: os móveis são antigos e charmosos, e muitos estão à venda. Há uma varanda privativa na parte de trás de cada quarto, onde é possível pendurar uma rede e relaxar. Há estacionamento próprio e piscina aquecida. O café da manhã é honesto e variado, e a diária é aceitável - R$165,00 por quarto de casal. O único ponto decepcionante foi o chuveiro, um modelo elétrico de baixo custo, que ficava falhando com alguma frequência. Pelo nível da pousada, podiam ao menos instalar um chuveiro mais potente.

Mapa das atrações da cidade


Enfim, na falta de uma Tiradentes ou de uma Parati, Pirenópolis é uma substituta digna para um final de semana divertido e relaxante. É um bom destino para ecoturistas em busca de aventura, ou casais procurando um final de semana romântico. Se estiver em Brasília, não deixe de dar um pulinho lá. Principalmente se for inverno. Não irá se arrepender.

Texto de José Guilherme Wasner Machado postado em  Depois do Trampo

6 comentários:

  1. Todo mundo que visita Pirenópolis já passou por esses constrangimentos e raivas a que se refere o autor.

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  2. Bom dia!

    Desculpe enviar assim um e-mail já que você não me conhece. Meu Nome é Leila e sou de Minas Gerais.
    Mas vim aqui pois sigo seus Blogs, e adoro o interior do nosso país, sou publicitária e resolvi conhecer Pirenópolis.
    Mas confesso que me assutei quando li em uma postagem antiga (2011) sobre o ano novo em Pirenópolis, os "novos" turistas que a cidade estava recebendo nesta data.
    Quero passar o ano novo para visitar as cachoeiras, passear pelo centro histórico, conhecer o artesanato (que é uma paixão por onde eu passo), e a noite ouvir uma boa musica (até gosto de um agito).
    Como vi que pelo seu gosto pela cidade e seu conhecimento do local resolvi te escrever para perguntar, se algo foi feito em relação aos carros com musica altas, e se eu vou me assustar no ano novo. (na verdade não espero uma cidade vazia), mas espero uma cidade com policiamento e segurança.

    Pode me dar sua opinião?

    Obrigada!

    Desculpe pelo "folga" . Mas a simpatia pelo seu blo é tanta que tomei a liberadde.

    Um grande abraço e já desejando boas festas pra você e toda sua família.

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  3. Post desatualizado, pois o 'Caffé Tarsia' (do qual fui sócio) fechou em 2010, e saiu da Rua do Lazer ainda em 2009!

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  4. A postagem não é desatualizada, Marcelo, pois retrata a impressão que o autor teve da cidade, na época em que lá esteve. Não se trata de um guia atualizado.

    Sobre o Caffé Tarsia, em especial, eu até discordo do texto. Embora fosse um lugar caro, o serviço era de primeira. Foi uma grande perda para Pirenópolis o fechamento do lugar. Era um local para se tomar um bom vinho, com música singular, enfim, uma ambiente muito agradável.

    A postagem, portanto, não reflete a minha opinião pessoal.

    Se você tiver alguma sugestão, estou à disposição.

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    Respostas
    1. Mesmo que refletisse sua opinião, vc teria direito de não gostar do CT!
      Uma pena realmente o fechamento do CT, enfim, virou história...
      abs

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    2. Eu gostava do Caffé Tarsia, ali tinha bons vinhos e um atendimento diferenciado, com garçons bem treinados para tratar a gente com educação.

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Adriano Curado