O furto
de quase todos os instrumentos da Banda de Música Fênix, na
histórica Pirenópolis, ocorrido na madrugada do dia 21 de setembro
passado, expõe dois problemas graves e urgentes.
O
primeiro se refere à segurança pública na cidade, que padece com a
falta de uma cadeia há muitos anos, o que dá uma sensação de
impunidade ao infratores da lei. A cadeia pública que ali existia
foi transformada no Museu do Divino, com a promessa de breve
construção de um pequeno presídio na imediações da cidade, ainda
na administração estadual passada. A promessa nunca se converteu em
realidade, e os presos locais, provisórios ou com condenação
definitiva, são instalados em celas noutras comarcas da vizinhança.
O outro
grande problema da cidade é tão sério quanto o anterior, pois diz
respeito à falta de apoio aos músicos e carência de atenção para
com a própria Banda Fênix. Cito o exemplo da ameaça de “greve”
da corporação musical, por ocasião da Festa do Divino deste ano,
porque seus integrantes não haviam ainda recebido o pagamento pela
participação na festa do ano passado. O músico tem família para
cuidar, dedica-se com afinco aos ensaios, deixa de se divertir nos
festejos, tudo para que a tradição pirenopolina seja levada
adiante, mas no momento combinado de receber, fica de mãos vazias.
Esse
furto ocorreu porque a Banda Fênix, infelizmente, não tem uma sede
própria moderna e segura. Sobrevive da boa vontade do dr. Pompeu
Christóvam de Pina, seu diretor, que altruisticamente cede vários
cômodos do seu casarão colonial para os ensaios e guarda dos
instrumentos, sem receber sequer o pagamento de um aluguel. Esse
prédio está localizado no centro histórico, em uma das ruas de
maior valorização imobiliária, mas ainda assim ele não cobra pelo
enorme espaço ocupado.
Dr.
Pompeu faz isso porque é um pirenopolino que ama sua terra acima dos
interesses mundanos e quer ver a história continuar com seus filhos
e netos. Ocorre que o já centenário casarão é inseguro para os
padrões atuais, não tem sistema de alarme e nem segurança noturna.
Ainda assim, se não fosse a benevolência alheia, a Fênix não
teria sequer onde ensaiar.
Há mais
de dez anos, entretanto, a banda conseguiu a doação de uma área
pública e criou-se um projeto arquitetônico moderno para a
construção da nova sede. Mas a falta de verba impossibilitou o
início das obras e os ensaios continuaram no casarão antigo. Não
houve um patrocinador interessado em melhorar as condições físicas
da velha banda, nem sequer um gestor público com visão de
estadista.
A cidade
de Pirenópolis, tão afamada pela quantidade de turistas que atrai e
sendo palco de tantas manifestações culturais goianas, clama mais
atenção para com a Banda Fênix, corporação fundada em 23 de
julho de 1893 pelo esforço individual do maestro Joaquim Propício
de Pina. Abrilhantadora de tantas festas e comemorações, a Fênix
sempre teve o poder de hipnotizar sua assistência e fazê-la subir e
descer ladeiras pelas ruas históricas, através das tantas alvoradas
pulverizadas na memória coletiva.
O ladrão
não furtou apenas os instrumentos musicais, levou também a
oportunidade de os alunos adolescentes da escolinha de música,
talentos do amanhã, ocuparem o tempo com estudos valorosos que
poderão lhes dar uma profissão.
Agora
será preciso uma campanha para conseguir comprar novos instrumentos
para a Banda Fênix. Mas só isso não basta. É preciso também
alterar a maneira como toda a corporação é vista e tratada.
Que esse
triste acontecimento acenda um alerta e seja um marco de renovação
para Pirenópolis. Precisamos de uma cidade mais segura, com uma
política a longo prazo voltada para os empreendimentos turísticos e
uma gestão cultural que valorize o pirenopolino e sua arte.
Adriano César Curado
Matéria publicada no jornal Diário da Manhã do dia 23.9.2012, encarte Opinião Pública, p 7.
Escritor Adriano Curado, você soube bem sintetizar os problemas da cidade, ousando abordar apenas dois tópicos - a segurança pública deficiente e a má política de gestão cultural.
ResponderExcluirEsses dois parâmetros devem ser vistos como o reflexo da deficiência na aplicação do dinheiro público. Isso não rende votos. Nem segurança público nem cultura estão nos planos dos governantes. É melhor inaugurar praças floridas, por exemplo, que construir presídios.
Esses problemas refletem, sedo ou tarde, na qualidade de vida da população. E no caso de Pirenópolis, a Banda de Música, uma de suas melhores atrações, sofreu o revez.
Parabéns pela corajosa matéria.
A cidade para o preço da proximidade com o Distrito Federal excessivamente populoso, e isso é uma realidade que tem de ser enfrentada logo. Uma reforma na segurança pública de Pirenópolis é medida de urgência e não pode mais ser adiada. Eles não conseguem nem freias o som automotivo...!
ResponderExcluirEu não sabia que Pirenópolis não tem cadeia pública. Quer dizer que se prenderem um bêbado fazendo arruaças, não têm onde deixar? E um bandido perigoso que for flagrado com crimes na cidade? Vão ter que transportá-lo para uma cadeia vizinha e correr o risco de uma emboscada na estrado? Quem constrói presídios é o governo federal ou estadual?
ResponderExcluirÉ muito triste ler sobre o furto dos instrumentos da banda de Pirenópolis, a mais afinada que conheci. E não conseguiram pegar os ladrões? Depois desse episódio vão finalmente arranjar uma sede seguro para a banda?
ResponderExcluirÉ o diabo! Uma cidade turística, localizada tão próximo do DF, e não tem segurança suficiente. Isso é uma bomba pronta pra estourar a qualquer momento. Se a bandidagem descobrir a vulnerabilidade da cidade, o barulho será feio. Cadê as autoridades públicas que não resolvem esse problema?
ResponderExcluirTão linda...
ResponderExcluirTão fascinante...
Tão desprotegida...
Caro Adriano Curado, lembro-me muito bem o então candidato Nivaldo Melo, hoje o prefeito quando ele disse textualmente na campanha(2008) que ganhando as eleições iria implantar a Guarda Municipal em Pirenópolis. CADÊ? Podia ser que tivesse ajudado. No entanto, já se passaram 04 anos.Infelizmente, toda cidade precisa de uma cadeia pública.É brincadeira esta noticia que em Pirenópolis não tem cadeia para os larápios, bandidos e ladrões.Como você mesmo disse, (o) os ladrão(ladrões)não roubou só os instrumentos, mais sim junto tirou a oportunidade do pessoal da banda. Absurdo!!! Me permita citar Henri Wallon: "O indivíduo é social não como resultado de circunstâncias externas, mas em virtude de uma necessidade interna." Prezado Adriano, sou solidário e quero me colocar à disposição para qualquer campanha que queira desenvolver pela recuperação dos instrumentos, ou mesmo que seja para adquiri-los. Abraço a todos.
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