Foto: Ubirajara Galli - Altar da capela da Fazenda Babilônia |
“Situada
na zona rural de Pirenópolis, exatamente a 23 quilômetros do então
arraial de Meia-Ponte, fica a Fazenda Babilônia, uma autêntica
preciosidade nascida com o nome batismal de Engenho São Joaquim, no
período colonial (1798), pelas mãos do Comendador Joaquim Alves de
Oliveira.
Padre Simeão |
O
Engenho São Joaquim tornou-se por décadas o maior produtor de
algodão e derivados da cana de açúcar em toda terra goiana. Para
se ter ideia da grandiosidade operacional do Engenho nada menos que
200 escravos lá trabalhavam.
Foto: Ubirajara Galli - Detalhe da fachada da fazenda Babilônia |
Natural
de Pilar de Goiás (1770), o então futuro Comendador recebeu esse
título honroso, diga-se merecido, por sua atuação filantrópica e
cultural. Órfão desde cedo foi criado pelos padres jesuítas que o
levaram para cidade do Rio de Janeiro onde iniciou a carreira sacra
como seminarista. Sem vocação para vestir batina deixou o seminário
para se envolver com muito talento no mundo dos negócios com
empresas comerciais de exportação que operavam no Rio de Janeiro.
Varanda na entrada da fazenda Babilônia |
A
trajetória cultural do Comendador foi marcada, principalmente, por
ter sido o financiador do jornal A Matutina Meiapontense - um dos
primeiros do país- que circulou em Pirenópolis, entre 1830 a 1834,
também por ter criado a primeira biblioteca da província, por ter
financiado a maior reforma da igreja do Rosário e ainda ter sido
merecedor dos primeiros versos do primeiro poeta goiano Florêncio
Antônio da Fonseca Grostom, por causa da sua atuação contra a
epidemia de sarampo que em 1811 assolou o arraial de Meia-Ponte.
Foto:
Famílias Pirenopolinas, de Jarbas Jayme -
Padre Simeão Estelita
Lopes Zedes,
além dos altares, bom de grana,
adquiriu o Engenho São
Joaquim,
atual Fazenda Babilônia
|
No
entanto, a vida do Comendador Joaquim Alves de Oliveira que recebeu
em seu Engenho os mais importantes viajantes, naturalistas europeus,
entre os quais: William John Burchell, August de Saint-Hilaire e
Johann Emanuel Pohl, de todos recebeu elogios pela sua arrojada
atividade econômica e padrão arquitetônico diferenciado da sede,
respectivamente, maior casa de fazenda e maior engenho de cana de
toda capitania, foi palco de uma tragédia familiar que mudou a sua
vida. Ana Joaquina Alves de Oliveira, filha do Comendador, casada com
Joaquim da Costa Teixeira foi flagrada por sua mãe, Ana Maria
Moreira, na noite de 1º de maio de 1833, em pleno ato de adultério
e morta pelo amante de sua filha, chamado Justiniano, feitor no
Engenho, com um tiro de pistola.
Fundo da sede da Fazenda Babilônia |
Em
1864, decorridos 13 anos da morte do Comendador, uma parte de terras
do Engenho que pertencia ao coronel Joaquim da Costa Teixeira, genro
Comendador foi vendida ao Padre Simeão Estelita Lopes Zedes.
Novamente em 1875, a outra parte de terras do Engenho que abrigava a
sede da fazenda foi também adquirida pelo Padre Simeão Estelita que
mudou o nome do Engenho São Joaquim para Fazenda Babilônia.
Padre
Simeão além de possuir um bom capital para adquirir o valorizado
Engenho São Joaquim era também possuidor de uma farta prole de
filhos gerada com Margarida Gonçalves do Amor Divino (sua
conterrânea de Santa Luzia, atual Luziânia) com quem teve nove
filhos. Dessa geração descende a sua simpática bisneta Telma Lopes
que desde 1997 recebe na Fazenda Babilônia turistas para
degustarem um farto café colonial e interessados na historiografia
na rural para uma saborosa viagem no tempo.
A
senzala que abrigava os duzentos escravos do Comendador e a igreja
dos pretos desapareceram. Porém, a capela construída por ele está
lá e bela, como também a estrutura principal da casa-sede (cenário
de novela global e do filme O Tronco, do cineasta João Batista de
Andrade) e vários utensílios da sua época.
Fachada da Fazenda Babilônia da década de 1980 |
Ao
fundo da casa-sede descendo as escadas que deixam a cozinha a uns 40
metros de distância está montado um bucólico cenário da
engenharia rural para fabricação de melado, pinga, farinha, máquina
de tear e além de outras engenhocas, um sonoro monjolo.
Visitar
o Engenho São Joaquim nos livros é muito interessante. Porém,
visitar a hoje fazenda Babilônia é um passeio imperdível para os
amantes gastroculturais.”
Texto
do escritor Ubirajara
Galli publicado no Cardeno DM Revista do Jornal Diário da Manhã,
16.9.2012.
Foto:
Ubirajara Galli - Telma Lopes,
guardiã dedicada de uma bela herança
familiar
|
Estive na Fazenda Babilônia no feriado de Carnaval e adorei tudo que há lá. Desde as histórias da simpática Telma Lopes até os farto café da manhã. O casão é mesmo de tirar o fôlego. Parece que a gente está dentro de uma história antiga e que a qualquer momento vão aparecer escravos.
ResponderExcluirAs história da Babilônia merecem mesmo ser contadas, para que todo mundo saiba da grandiosidade desses empreendedores do passado.
ResponderExcluirMuito bonita a história desse Joaquim Alves de Oliveira. Mas eu penso cá com meus botões: e a história dos negros que levantaram aqueles muros de pedras e até mesmo o velho engenho, essa ninguém quer saber?!
ResponderExcluirFiquei muito maravilhada com o texto sobre a Fazenda Babilônia e encantada com as fotografias também.
ResponderExcluirO autor soube bem captar a alma do lugar e trazer à luz sua essência e romantismo.
Parabéns.
Já fui a essa fazenda e eu achei o lugar linda. Que tamanho daquela casa! Fiquei pensando nos bailes memoráveis que devem ter acontecido nos seus salões. Tem também também o outro lado, que é o do sofrimento dos escravos. Mas tudo isso ficou no passado e a fazenda sobreviveu para contar histórias para a gente.
ResponderExcluirFicou muito boa a postagem. Parabéns, ao dois, historiador que escreveu o texto e ao poeta que soube captar a sensibilidade dessas palavras.
Até eu que nunca fui à Babilônia tive vontade de conhecer.
ResponderExcluirMe deu vontade de voltar à Fazenda Babilônia depois desse texto gostoso de ler.
ResponderExcluirUma simpatia de pessoa (Telma) e de lugar.
ResponderExcluirDeu água na boca de relembrar o café da manhã da Babilônia. Quero voltar logo lá.
ResponderExcluirO texto é uma poesia em forma de prosa e as fotografias compõem uma simetria perfeita, algo capaz de atiçar nosso imaginário. Parabéns.
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