quinta-feira, 9 de agosto de 2012

Uma história preconceituosa e parcial




     Nossa história é contada através da visão do colonizador, com pouquíssima referência àqueles que deram suporte para a realização de grandes obras – os escravos.




     Uma questão que sempre me fascinou é saber aonde foram os negros pirenopolinos. Sim, porque havia milhares deles. E mesmo depois do declínio da mineração, ainda eram muitos no século dezenove.




     O comendador Joaquim Alves de Oliveira, por exemplo, tinha centenas de escravos e provavelmente desenvolvia atividades de reprodução para venda.




     Ainda assim, quase nada se sabe desses negros subjugados, que sob o chicote dos feitores levantaram nossos templos e diversos casarões. Sua memória restou apagada da historiografia goiana, apesar da contribuição singular que nos legaram.




     Aquela gente, que teve seus ancestrais capturados na África, foi submetida a uma breve vida de horrores. Trabalhavam muito, descansavam pouco, se alimentavam mal e morriam jovens.




     Se fugiam, eram levados ao tronco e chicoteados. Se tornavam a fugir, seus dedões eram cortados para dificultar que corressem. As mulheres viam seus filhos levados e vendidos qual mercadoria, muitas vezes com valores abaixo dos animais de carga.




     Convertidos ao cristianismo, nas horas de folga e com suadas contribuições, conseguiram edificar um templo católico, que era a Igreja do Rosário dos Pretos. Mas até ela foi demolida, numa clara tentativa de apagar os vestígios dos negros numa sociedade branca.




     É certo que há vagas manifestações de sua cultura nas zabumbas, nos pífanos, nos reinados e juizados. Mas isso é pouco demais diante da grandiosidade da contribuição negra.




     A história é preconceituosa e parcial, o que exige do intérprete uma considerável paciência para compreender a verdade real dos fatos.




     A história pirenopolina ainda não foi contada. Nossos historiadores contemporâneos apenas esboçaram um rascunho. Uma análise definitiva do contexto histórico da velha Meia Ponte lançará luz sobre a escuridão dos séculos dezoito e dezenove.




     Será preciso pesquisar em arquivos estrangeiros, buscar documentação em mãos de particulares e revirar com minúcia os órgãos públicos. Também será preciso um permanente trabalho de arqueologia nos sítios históricos, pesquisa que ainda não foi realizada.




     Enquanto isso, este site apenas tem condições de prestar vaga homenagem aos negros. Pouco ou quase nada sabemos dos escravos que trabalharam sem descanso nas minas de ouro ou nas imensas lavouras de algodão. Nem daqueles que levantaram muros de pedra, desviaram cursos d'água, amassaram barros para a taipa dos templos, carregaram o adobe das paredes dos casarões.


Adriano César Curado





4 comentários:

  1. É sempre assim, a história é do vencedor. Todo mundo sabe das façanhas de Napoleão Bonaparte na Europa, mas será que ele não levava consigo sequer um cozinheiro? Que foram os pretos que arrastaram os blocos de pedras dos alicerces da Matriz de Pirenópolis ou levaram nas costas a imagem de Senhor do Bonfim? Ninguém sabe e nunca saberá. Mas suas postagem é importante porque dá uma noção do que foi a escravatura em Goiás. Parabéns.

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  2. Embora muitos não vejam, os escravos estão vivos e no meio de nós, por toda parte, independentemente de onde vieram e pra onde vão, uma coisa é certa, seu único empenho é a busca da liberdade, através do respeito e da humanidade!!!

    Parabéns por nos proporcionar tantos conhecimentos com tanta sapiência!

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    1. Concordo com você. Os escravos estão por toda parte, no sangue da população brasileira e merecem o nosso reconhecimento histórico.

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  3. O mais triste é saber que essa realidade persiste até os dias atuais, principalmente em forma de preconceitos. Postagem corajosa e importante.

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