Nossa
história é contada através da visão do colonizador, com
pouquíssima referência àqueles que deram suporte para a realização
de grandes obras – os escravos.
Uma
questão que sempre me fascinou é saber aonde foram os negros
pirenopolinos. Sim, porque havia milhares deles. E mesmo depois do
declínio da mineração, ainda eram muitos no século dezenove.
O
comendador Joaquim Alves de Oliveira, por exemplo, tinha centenas de
escravos e provavelmente desenvolvia atividades de reprodução para
venda.
Ainda
assim, quase nada se sabe desses negros subjugados, que sob o chicote
dos feitores levantaram nossos templos e diversos casarões. Sua
memória restou apagada da historiografia goiana, apesar da
contribuição singular que nos legaram.
Aquela
gente, que teve seus ancestrais capturados na África, foi submetida
a uma breve vida de horrores. Trabalhavam muito, descansavam pouco,
se alimentavam mal e morriam jovens.
Se
fugiam, eram levados ao tronco e chicoteados. Se tornavam a fugir,
seus dedões eram cortados para dificultar que corressem. As mulheres
viam seus filhos levados e vendidos qual mercadoria, muitas vezes com
valores abaixo dos animais de carga.
Convertidos
ao cristianismo, nas horas de folga e com suadas contribuições,
conseguiram edificar um templo católico, que era a Igreja do Rosário
dos Pretos. Mas até ela foi demolida, numa clara tentativa de apagar
os vestígios dos negros numa sociedade branca.
É certo
que há vagas manifestações de sua cultura nas zabumbas, nos
pífanos, nos reinados e juizados. Mas isso é pouco demais diante da
grandiosidade da contribuição negra.
A
história é preconceituosa e parcial, o que exige do intérprete uma
considerável paciência para compreender a verdade real dos fatos.
A
história pirenopolina ainda não foi contada. Nossos historiadores
contemporâneos apenas esboçaram um rascunho. Uma análise
definitiva do contexto histórico da velha Meia Ponte lançará luz
sobre a escuridão dos séculos dezoito e dezenove.
Será
preciso pesquisar em arquivos estrangeiros, buscar documentação em
mãos de particulares e revirar com minúcia os órgãos públicos.
Também será preciso um permanente trabalho de arqueologia nos
sítios históricos, pesquisa que ainda não foi realizada.
Enquanto
isso, este site apenas tem condições de prestar vaga homenagem aos
negros. Pouco ou quase nada sabemos dos escravos que trabalharam sem
descanso nas minas de ouro ou nas imensas lavouras de algodão. Nem
daqueles que levantaram muros de pedra, desviaram cursos d'água,
amassaram barros para a taipa dos templos, carregaram o adobe das
paredes dos casarões.
Adriano
César Curado
É sempre assim, a história é do vencedor. Todo mundo sabe das façanhas de Napoleão Bonaparte na Europa, mas será que ele não levava consigo sequer um cozinheiro? Que foram os pretos que arrastaram os blocos de pedras dos alicerces da Matriz de Pirenópolis ou levaram nas costas a imagem de Senhor do Bonfim? Ninguém sabe e nunca saberá. Mas suas postagem é importante porque dá uma noção do que foi a escravatura em Goiás. Parabéns.
ResponderExcluirEmbora muitos não vejam, os escravos estão vivos e no meio de nós, por toda parte, independentemente de onde vieram e pra onde vão, uma coisa é certa, seu único empenho é a busca da liberdade, através do respeito e da humanidade!!!
ResponderExcluirParabéns por nos proporcionar tantos conhecimentos com tanta sapiência!
Concordo com você. Os escravos estão por toda parte, no sangue da população brasileira e merecem o nosso reconhecimento histórico.
ExcluirO mais triste é saber que essa realidade persiste até os dias atuais, principalmente em forma de preconceitos. Postagem corajosa e importante.
ResponderExcluir