A tristeza imensurável do Arraial do Ouro Fino se diluindo. Apenas uma casa e a igreja a ruir no desespero das horas finais. Só os passarinhos assistindo a tristeza do fim; o clamor dos santos nos altares. Pouco a pouco o silente desabar da antiga igreja dos idos dos setecentos, Nossa Senhora do Pilar a se despedir da paisagem tão evocativa, com a sombra dos morros distantes; o sertão perdido onde tudo começou na saga bandeirante. Eu vejo o mesmo arraial nos tempos áureos, os escravos, as sinhazinhas, as pequenas ruas, as chaminés das casas no calor dos fogões, o seminário com seus estudantes, a água fria dos rios. Ouço o grito do passado e as angústias dos que desapareceram naqueles recantos. Tudo tem alma, impregnada nos morros, nas árvores, nos escombros. Pulsações telúricas de um povo-chão. Por que não surgiu, ali, uma alma piedosa que ajudasse a sustentar a igreja? Como não doeu no coração dos goianos daquele tempo o apagar silencioso de um lugar tão importante? Como foi possível desaparecer do cenário de Vila Boa, o aprazível recanto, sem que a ninguém doesse fundo? Qual foi o último que saiu de lá, deixando atrás de si os escombros? Ah, meu Ouro Fino querido, eu te vejo no cenário dos meus olhos e te reconstruo inteiro no meu pensamento. Sua igreja, o cruzeiro, as velhas casas, o grande seminário, a estrada vermelha a se perder entre os alcantilados tão íngremes da Serra Dourada. Tens algo de épico, de imaginário, no agreste da paisagem calada e impressionante. Das tristezas dos goiazes você é, recanto amado, a dor maior. Ouro Fino, adeus!
Bento Fleury
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