A cidade de Pirenópolis comemora mais uma Festa do Divino Espírito Santo, uma tradição que teve início em 1819 e se mantém viva no espírito dos habitantes da Terra dos Pireneus. Há pouco tivemos as folias que saíram pela zona rural ou pela cidade, com cantorias e muita devoção, na busca de donativos para o festeiro.
Sorteado todos os anos pelas mãos do bispo da Diocese de Anápolis, esse festeiro, chamado de Imperador, trabalha durante um ano inteiro nos preparativos para a festa, e quando finalmente chega o Domingo do Divino, ele segue em cortejo pelas ruas da cidade, acompanhado por um cordão de crianças vestidas de branco, pela Banda de Música Fênix, Congo, Congada e por muitos populares.
O Imperador deste ano é João Geraldo Costa e Pina, um senhor humilde e trabalhador, que recebe ajuda de muitos pirenopolinos. São doações em dinheiro ou alimentos, adjutório na cozinha ou em obras no local onde se recebem os devotos. E vai precisar de muito auxílio o Imperador porque tem que soltar foguetes, dar refeições a todos os atores da festa e ainda ter tempo e disposição para as novenas e outros compromissos.
Ainda sobre o Domingo do Divino, que este ano ocorrerá dia 24 de maio, o barulho começa cedo nas alvoradas com as bandas de Couro e Fênix. Depois vem o Cortejo Imperial que levará o Imperador até a Matriz para a missa solene cantada em latim pela Orquestra e Coral Nossa Senhora do Rosário de Pirenópolis. Logo após vem o sorteio do novo festeiro e dos mordomos. Depois da missa, retorna o cortejo com o Imperador à sua residência e ali ocorre mais uma antiga tradição, que é a distribuição de verônicas de alfenins e de pãezinhos do Divino.
Mas é após o almoço que começam as Cavalhadas. É o primeiro dia da tradicional encenação que revive as velhas batalhas medievais entre mouros e cristãos na Península Ibérica. No segundo dia ocorrerá a rendição dos mouros e o batismo que os converte ao Cristianismo. E no terceiro serão realizados jogos de confraternização, como tirar máscaras e argolinhas.
Nos intervalos das carreiras coreográficas desenvolvidas pelos cavaleiros, entram em campo os tradicionais Mascarados, que são personagens barulhentos, engraçados, sempre dentro de multicoloridas roupas, montados ou a pé, e geralmente com máscaras de boi. Eles falam em falsete para que ninguém os reconheça, pois aí está a graça da encenação. Pedem dinheiro, comida ou bebida, tocam instrumentos musicais, cantam. Enfim, são a diversão do povo.
Dentro da Festa do Divino, ocorre em Pirenópolis duas outras festas herdadas dos escravos negros que por aqui viveram. Na segunda-feira pela manhã, dia 25 de maio, é o Reinado de Nossa Senhora do Rosário, que tem cortejo para conduzir o Rei e a Rainha até a Igreja Matriz, acompanhados pela Banda de Couro e pelo grupo de Congo, para a realização de uma missa solene. Na terça-feira também pela manhã, dia 26 de maio, é o Juizado de São Benedito, que tem cortejo e missa igual ao anterior, e em ambos, quando retorna o festeiro à sua casa, são distribuídos doces e salgados à vontade para o povo presente.
Esta é a 197ª Festa de Divino Espírito Santo de Pirenópolis, que foi tombada pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) como patrimônio cultural imaterial brasileiro. E ela sobrevive praticamente intacta há quase dois séculos porque dela participa, de forma espontânea, toda a população pirenopolina, independentemente de religião ou filiação partidária. Se assim não fosse, essa tradição já teria sucumbido ao tempo, como já ocorreu em tantas outras localidades goianas.
Adriano Curado
obrigada por esse trabalho
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