Durante
séculos, os chapadões goianos se estenderam intactos para muito
além da linha do horizonte, povoados por riquíssimas fauna e flora
e visitados regularmente pelas estações das águas e da seca. Os
nativos que por aqui viviam eram inofensivos caçadores, pescadores e
coletores, sem representar qualquer risco para o meio ambiente.
No
entanto, depois de descoberto o primeiro veio aurífero, a realidade
começou a mudar. Atraída pela ganância do enriquecimento rápido,
uma incalculável massa de garimpeiros surgiu de bateia nas mãos,
ergueu arraiais, desviou cursos d’água, expulsou os nativos, ateou
fogo nas matas e matou os animais. Sorte nossa que esse ouro durou
pouco e logo a maioria dos aventureiros foi destruir outras paragens.
Depois disso, nossos planaltos e planícies puderam sossegar, embora
aqui e acolá agonizassem esqueletos de povoações em franca
decadência. No século dezenove, salvo poucas exceções, pôde
nossa natureza se recuperar, dentro possível, das mazelas humanas.
A
chegada no século vinte, no entanto, foi desastrosa para Goiás,
ambientalmente falando. Nunca perdemos tanto de nosso patrimônio
natural quanto no século passado. Poderia citar aqui muitos
exemplos, mas mencionarei apenas a compacta Mata de São Patrício.
Ali
existia uma densa vegetação composta de seculares jatobás,
angicos, aroeiras, cedros, perobas etc., que foi totalmente
derrubada, na década de 1940, para implantação da Colônia
Agrícola Nacional de Goiás, visando a integração do centro-oeste
ao restante do País.
O
engenheiro Bernardo Sayão, responsável pela implantação da
colônia, sabia da importância daquela mata e por isso criou um
plano para colonizar a região mas preservar a natureza. Na
demarcação, a área foi dividida em lotes doados aos colonos, que
em contrapartida deveriam conservar certo percentual de matas e
produzir no restante.
Desnecessário
dizer que, após a morte trágica de Sayão, derrubaram a floresta
toda. Desapareceu, com a Mata de São Patrício, uma incalculável
riqueza ambiental.
Mais
tarde veio o Distrito Federal. No início um bonito sonho de trazer o
progresso para o centro do País, com arquitetura modernista,
migração em massa e dinheiro a rodo. Na sequência, no entanto,
brotou uma dura realidade materializada em cidades-satélites com
inchaço populacional e descontrole demográfico.
Agora,
uma notícia preocupante foi divulgada pela Universidade de Brasília.
Se persistir o atual modelo de desenvolvimento do Distrito Federal,
em cinco décadas, no máximo, Brasília e Goiânia se unirão numa
gigantesca área urbana.
Imagine
o significado dessa sombria perspectiva. Além de elevadíssimos
índices de criminalidade, trânsito medonho e qualidade de vida
péssima, ainda há o preço ambiental e histórico a ser pago.
Ambiental, porque todo o cerrado “lato sensu” que cobre a área
será definitivamente destruído, fontes d’água secarão, o clima
se modificará profundamente e espécimes animais e vegetais ficarão
confinadas nas pequenas áreas das reservas.
O
preço histórico, obviamente, é a crescente perda de território
goiano para o Distrito Federal. Cidades históricas como Pirenópolis
e Corumbá de Goiás, por exemplo, serão asfixiadas pela faraônica
metrópole. Sítios arqueológicos ainda inexplorados serão
apagados, veredas secarão, morros serão destruídos para
aterramentos de mais e mais avenidas, para que nelas se construam
prédios, indústrias, shoppings etc.
Relembremos
que Goiás já doou à União parte considerável de seu território
para implantação do Distrito Federal. Nenhuma outra unidade da
Federação perdeu tanto espaço físico, mas ainda assim não bastou
para um grato reconhecimento. Volta e meia recomeça aquela velha
campanha de nos levar também as cidades do entorno. Quando não é
isso, surge o malfadado projeto de criar o tal estado do Planalto,
que igualmente nos abocanhará imenso naco de território.
Caso
se confirmem as previsões dos cientistas, o futuro das terras
goianas será uma catástrofe. Que sirva de exemplo o que ocorre
atualmente no sudoeste goiano, região assombrada pela crescente
desertificação ocasionada pelo desmatamento descontrolado.
Desertificação quer dizer terra esgotada pelo uso constante, que
não produz mais nada, e jamais voltará a ser cerrado.
Chegamos
a uma etapa crítica da história goiana e sabemos que é preciso
planejar minuciosamente o futuro. Não podemos continuar com um
crescimento tão acelerado e nem estagnar completamente. Torço para
que as novas gerações herdem uma terra melhor que a nossa.
Adriano
Curado
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