segunda-feira, 31 de março de 2014

O adeus a Valdemar de Carvalho


Batista Custódio, no alto de sua sabedoria, destacou no panegírico ao Professor e Deputado José Luciano no ano de 2000: “A morte não mata só quem ela mata”. De fato, o destacado jornalista tinha razão. Quando penso no desaparecimento do cidadão Valdemar de Carvalho, ocorrido nesta semana, este mesmo pensamento me povoa o cérebro. Com sua morte, morremos um pouco nós todos, também.
Ao longo do caminho vamos deixando em outras estradas desconhecidas, aqueles que guardamos acalentadoramente na ternura do coração.
A morte não levou somente Valdemar de Carvalho, o cidadão, o juiz, o causídico, o estudioso, o pai de família, o devotado amigo. Levou muito de nós que, sem ele, perdemos um pedaço bonito da vida. Perder um amigo é fazer desaparecer um mundo de significação e de sentimentos que se prendem ao irremediável nunca mais.
Sua emblemática figura de homem despachado e alegre; risonho, espirituoso e altaneiro, me vem ao pensamento agora. Conhecê-lo na intimidade de sua casa e de sua família sempre me constituiu honra e mérito. As muitas casas que teve eram cheias! Em todos os lugares que estava; todos estavam juntos. Eram irmãos, cunhados, cunhadas, filhos, netos, bisnetos, amigos, conterrâneos! Família alegre, festeira, grande, convidativa, de mesa farta, abria-se à alegria do conviver.
E foram muito felizes todos eles, até a última semana.
Fará muita falta ao nosso coração e ao nosso sentimento cristão, a figura de Valdemar de Carvalho, que era símbolo da comunhão.
Quando penso nele, sinto uma saudade que é misto de muitas coisas. O amigo que se via nas ruas de Trindade, ou de Corumbá, ou de Pirenópolis ou de Goiânia. Sempre que nos via, parava para uma prosa. O seu sorriso sempre significativo marcado por uma frase espirituosa, jocosa, ou engraçada, trazia a marca da sua ascendência pirenopolina.
Junto falávamos besteiras e coisas sérias. Tinha nele um amigo a quem confiar e admirar. Quando o visitava na linda chácara de Trindade, o via sempre sorrindo com aquela casa cheia, musical, afetiva e terna. Que saudade!

Valdemar e sua querida Ecy em 1954.
Faz falta um homem assim alegre; assim realizado e feliz, nesses tempos bicudos de agora! Valdemar de Carvalho fará muita falta no universo que construiu em torno de si e que a morte levou com ele, a alegria espontânea dos corações.
Teve por berço amado a terra das Cavalhadas. Nasceu em Pirenópolis em 1929, filho de Semíramis Mendonça de Carvalho e Emílio de Carvalho, de tradicionais famílias locais, originárias de Mogimirim e Taubaté, ambas no Estado de São Paulo e que vieram para Goiás nos idos do século XVIII.
Valdemar de Carvalho era descendente do Tenente João Floriano de Mendonça e Gouveia, que viera do Julgado de Trahyras para Meia Ponte e esposou Isabel Maria de Seixas. Dessa descendência, nasceu, em 1889, Semíramis de Mendonça, que, em 1907 casou-se com Emílio de Carvalho, filho de Joaquim da Costa Carvalho e Elvira Lopes Fogaça. Desse lar numeroso em 1929 nasceu nosso querido e lembrado Valdemar de Carvalho.
Fruto do próprio esforço, Valdemar de Carvalho muito lutou pelos estudos e pela formação humanística e intelectual. Fez com brilhantismo o curso de Direito na Faculdade de Direito de Goiás, onde aprendeu lições grandiosas com os mestres daquele tempo. Aprendeu a ser sábio e simples; arrojado e altivo, justo e direito, nas decisões do destino alheio.
Em 1954 uniria seu destino a uma extraordinária mulher – talvez a melhor pessoa que já conheci na vida – Ecy Augusta Fleury Curado, depois Carvalho, nascida em Morrinhos no ano de 1933, filha do professor, telegrafista e músico Odilon Kneipp Fleury Curado e Antonia de Moraes Fleury (Zica).
Ecy, com seu coração generoso, sua excelsa bondade e seus gestos de renovado carinho e atenção, foi a luz ao caminho de Valdemar de Carvalho.
Viveram juntos por 59 anos, quase chegando às Bodas de Diamante, que se dariam em novembro próximo. Que pena!
Alegres e expansivos, as casas que tinham em Goiânia, Trindade, Pirenópolis e Corumbá eram reduto e aconchego para muitos. Na chácara urbana em Trindade, construíram um belo sobrado, projetado pela filha Valéria, e ali fizeram suítes a mais, para receber e acomodar os cunhados e amigos, filhos e parentes, com a casa sempre cheia. Cheia mesmo, era gente demais! E Valdemar com sua fidalguia ali estava feliz com seu reino, sua vida tão plena!
Meu Deus, como dói a saudade!
Com os cunhados Emê Augusta e João Fleury de Amorim (Zico) tinham convivência cotidiana. Eram inseparáveis. Enquanto tantos maridos desfazem laços com os cunhados, Valdemar tecia longas teias de amor e afeto, bonachão e alegre, recebendo e convivendo com todos, numa casa calorosa, tépida e afetiva como em poucas vi. Havia fartura em mesas sempre posta a quem chegasse.
Era a alma pirenopolina desse grande homem que se expandia em sempre distribuir o muito que a vida lhe deu. Passou pelo sofrimento da perda de uma filha já adulta e casada. Fez da dor a doação, no auxílio da criação da neta, órfã ainda criança. Acolheu seus filhos, auxiliou-os na vida; acolheu genros e noras, amparando-os; acolheu netos, ensinando-os, acolheu bisnetos, ninando-os.
Valdemar de Carvalho foi aquele que viveu integralmente a letra da música religiosa: “Que o homem carregue nos ombros a graça de um pai”. Que falta faz um pai como este!
No longo sofrimento da enfermidade que aos poucos o assolava, Valdemar de Carvalho manteve-se sereno e confiante em Deus, em Nossa Senhora do Rosário de Pirenópolis, em Nossa Senhora da Penha de Corumbá e no Divino Pai Eterno da Trindade! Que a misericórdia de todos os santos o tenha acolhido na altura de seu grande merecimento!
É muito triste dizer adeus a um homem com Valdemar de Carvalho, meu amigo. Digo apenas até um dia, pois a fugacidade da vida tem sido tanta que, em breve, talvez, Deus permita nos encontrarmos.
E que no coração de Ecy Augusta Fleury de Carvalho haja sempre um lírio branco de paz e ternura, na saudade que perdura, infelizmente, na duração dos dias. Deus a ilumine!
(Bento Alves Araújo Jayme Fleury Curado). Professor Universitário da Faculdade Aphonsiano de Trindade. Funcionário Público. Mestre em Literatura pela UFG. Mestre em Geografia pela UFG. Doutorando em Geografia pela UFG. Pesquisador. Escritor. Poeta. bentofleury@hotmail.com

Um comentário:

  1. Muitíssimo Obrigado Bento! Não tenho palavras para agradecer tão fiel e incomensurável homenagem, que certamente emocionou a todos nós, por conhecer a veracidade das suas lindas palavras! Muito Obrigado pela publicação Adriano!
    Ecy Augusta Fleury de Carvalho e Cynthya Fleury de Carvalho

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