terça-feira, 28 de fevereiro de 2012

No coração do Centro-Oeste existe um mercado persa


         “Quanto tempo faz, não me lembro. Só sei que já se passaram muitos anos desde que, a mando do jornalista Batista Custódio, lá pelos idos do Cinco de Março, fui com o meu amigo jornalista Carlos Alberto Santa Cruz Serradourada fazer uma reportagem e acompanhar a histórica carreira da cinematografia em Goiás, quando o saudoso e extindo João Bennio filmava, lá em Pirenópolis, Semeão, o boêmio, onde ele era o ator principal, secundado por uma plêiade de amigos, jornalistas, escritores, atores de teatro, todos transformados em artistas de cinema para a produção da saga de Semeão, o boêmio. Nesse particular, toda a turma era composta de boêmios.

     Ao que me consta, fora a primeira vez que visitava Pirenópolis, apesar de que já a conhecia bem pelas narrativas históricas e dos registros existentes na Nobiliarquia Histórica, Geográfica e Genealógica de Pedro Taques de Almeida Pais Leme. Na verdade, o Districto de Meia-Ponte (sic).

     Durante as filmagens, subíamos e descíamos aquelas ruas com as suas casas vetustas, com seu povo nas janelas.

     Difícil uma daquelas moradias em que não se ouvia os sons de algum violino ou piano, em dolentes baladas das coisas do meu Goiás, q'nem era a Vila Boa dos Goiases, minha terra.
Só que lá tudo isso acabou. Quase não existe mais povo antigo da velha Goiás de Bartolomeu Bueno da Silva, de Goiandira do Couto e tantos outros artistas que já se foram.
 
     Filmava-se Semeão, o boêmio e, nas horas de intervalo, vivia-se o clima amigável e respeitável das famílias pirenopolinas, com sinceros convites para algum regabofes qualquer ou bebericar os licores da terra e alguma aguardente.

     Depois, nunca mais voltei naquela cidade, a não ser agora, neste mês de fevereiro, pelas mãos de minha sobrinha querida Eliane Póvoa e seu esposo, José Francisco Lobo, empresários que assentaram mansão nas bandas novas da cidade, como está acontecendo profusamente.

     Foi então que vi o progresso que levaram para lá. Pirenópolis é um autêntico mercado persa, com ruas inteiras só de loja, casas de repasto, bares e centros de artesanatos e uma verdadeira meca de gentes de todas as bandas deste país e doutros também. Injetaram sangue novo lá, mas respeitaram a solenidade das casas dos tempos históricos que fazem das ruas um espetáculo de cores, que só se encontram nas asas das borboletas.

     Foi aí que indaguei dos meus sobrinhos, Eliane e José Francisco, o porquê não fizeram assim com a Cidade de Goiás, a Vila Boa dos Goiases, venerável conjunto arquitetônico colonial do século XVIII, e rica em reposteiros de banhos e passeios pela Serra Dourada. Não conseguiram transformar a Cidade de Goiás em centro turístico como fizeram em Pirenópolis, ficando restrita às comemorações da Semana Santa e algum turismo pseudocultural que não leva nem gera riquezas para a cidade.

     Pirenópolis, a sua parte antiga ou cidade velha, está cercada de um extraordinário canteiro de obras, de onde surgem privês elegantíssimos e soberbas mansões, deixando o centro histórico intocado, funcionando, na verdade, como um verdadeiro mercado persa, tal a diversidade dos estabelecimentos comerciais.

     Falei sobre isso com o jornalista Santa Cruz Serradourada e ele não soube me explicar. Apenas ficou perplexo e decidimos, qualquer dia desses, apesar de não estarmos mais em nenhuma filmagem, dar uma volta por lá em busca de uma boa cerveja e da tradicional comida das casas do Distrito de Meia-Ponte”.


Texto do jornalista Sebastião Póvoa publicado no Diário da Manhã do dia 27.2.2012, página 8.

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Adriano Curado