Os casarões históricos de Pirenópolis têm muitas histórias para contar. Através de suas portas adentraram homens e mulheres que fizeram a história do Estado de Goiás. Pelas suas janelas correu o tempo em molduras de aroeira centenária. Por muitos e muitos anos os casarões permaneceram assim, intocados e conservados tal qual os deixaram nossos antepassados. Mas a cidade cresceu, o modernismo trouxe inovações e uma nova visão do belo. Então derrubaram diversas casas antigas para erigir os mais bizarros e discutíveis estilos; foi quando perdemos prédios importantíssimos para nossa história, a exemplo da bandeirante Estalagem, que ficava na rua Direita, na Baixada da Égua.
Casarão original e preservado na rua Direita
Com o tombamento do conjunto arquitetônico do Centro Histórico, essa onda de demolições foi freada, mas muita coisa já havia se perdido. Esse tombamento (lançamento do imóvel no livro de tombo) não salvou de todo nosso acervo, pois muitos acontecimentos ruins ainda ocorreram após o ato. Houve desastres acidentais, como o incêndio na igreja Matriz, e provocados pelo homem, tal qual a mutilação das fachadas para abrigar lojinhas de artesanato.
Telhado original de casarão na rua Nova
Chegamos ao absurdo de considerar casarão colonial tudo aquilo que tivesse uma porta e janelas de madeira. Paredes de adobe ou pau-a-pique vieram ao chão e foram substituídas por outras de tijolo furado (moradia de cupins), assoalho de tábuas e tijolinhos de barro trocados por cerâmicas modernas, esteios e baldrame de aroeira substituídos por vergalhão e concreto.
Mercado S. José, prédio do século 19, originalmente de adobe e aroeira, demolido e reconstruído com vergalhão de aço e tijolo de concreto
Outra moda ruim que se estabeleceu em Pirenópolis foi a de deixar desabar velhas casas. O sujeito compra um casarão, deixa virar tapera e nas primeiras chuvas tudo vem ao chão. Isso aconteceu este ano com um imóvel bem antigo no centro da cidade e que, extensão dos estragos, mereceu uma matéria neste blog (postagem dia 26.11.2010), uma das mais comentadas.
Casarão na rua Santa Cruz, esteios de aroeira e adobe originais
Aceitem os que possuem casa antiga em Pirenópolis que a aparência dos casarões é tosca, suas paredes são originalmente tortas (embora bastante seguras), sua estrutura de adobe e pau-a-pique é ideal para encaixar nos baldrames de aroeira e seu assoalho de pranchões vale mais que os modernos pisos descartáveis.
Casarão que desabou na rua Matutina é exemplo do descaso com o patrimônio histórico
Recentemente, no entanto, descobriu-se o valor da originalidade, com a valorização do adobe, da aroeira e demais características das casas dos séculos 18 e 19. Essa conscientização foi muito boa para a preservação dos casarões pirenopolinos e deu-lhes um pouco mais de sobrevida, no aguardo de que, num futuro ainda distante, seus habitantes aprendam que, não importa em que tempo vivam, a história sempre será contata através dessas velhas portas e janelas.
A presença do baldrame de aroeira é sinal de originalidade
by Adriano César Curado
Tomara que no ano que vem as coisas melhorem para Pirenópolis, acabem os buracos nas ruas asfaltadas, o centro histórico deixe de feder esgoto, o lixo seja recolhido nos feriados, os ônibus e caminhões parem de transitar pelas ruas onde são proibidos, os sons automotivos silenciem, enfim, desejo que esses velhos problemas se tornem questão do passado.
ResponderExcluirKatia Viana
Creio que no final restarão poucas casas originais em Pirenópolis. A tendência é acabarem os casarões para dar lugar à modernidade. Temos que aceitar isso. São as comodidades da vida moderna que exigem. Paola Aquino
ResponderExcluirTambém não acredito que Piri vai se safar dessa onda modernista que chegou. Paulinha Silva
ResponderExcluiré só fiscalizar as reformas e tudo fica perfeito. mas em vez disso, querem impor uma vontade unilateral, então acaba mesmo. Sílvo Câmara
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