A Academia Pirenopolina de Letras, Artes e Música prestou aos negros de Pirenópolis uma homenagem, ao introduzir o professor Manoel Hermano da Conceição entre os seus patronos. Hermano era filho da Luzia, uma ex-escrava muito pobre que morava na rua Direita.
No meu tempo de menino aqui em Pirenópolis, toda casa tinha presépio, e no Natal todo mundo pintava a frente da casa, capinava as calçadas – eu mesmo capinei muita calçada para ganhar um mil reis e juntar um cobrinho para a noite de Natal. Havia presépios chiques, como o de dona Sinhá de Félix, de Sinhazinha de coronel Luiz Augusto, de dona Sinhá de Quim Gomes, de dona Lalá de Propício, Chico de Sá, Cristóvam de Oliveira – um presépio de Odilon de Pina tinha um monjolinho trabalhando o tempo todo, jogando água pelo calabouço.
Montagem da árvore de Natal em frente à Matriz
E havia o presépio das pessoas pobres, que não podiam comprar animais de celuloide. Luzia, mãe de Hermano, era uma dessas coitadas, mas que montava seu presépio todo ano. Era um ranchinho com o menino Jesus, Nossa Senhora, São José e o jumentinho. Como ela não podia comprar bichos, enchia o vazio com latas de marmelada Peixe e Colombo, plantadas com arroz semeado de véspera. Era aquele verde belíssimo, com Jesus lá no meio do arrozal, deixado na manjedoura.
Luzia espalhava pelo presépio maracujá, espiga de milho, algum doce raro, uma fruta temporã. Sabe para quê? Vender para a gente. Mas ela nunca falava vender, sempre trocar por dinheiro. E esse dinheiro era para comprar o azeite dos candeeiros que iam iluminar o presépio do dia 25 de dezembro a 6 de janeiro, dia de Reis e data de desmontar presépio. Toda noite havia reza do presépio de Luzia.
Este texto foi baseado numa parte do discurso do professor José Sisenando Jayme, de saudosa memória, pronunciado na fundação da Aplam, no dia 16.4.1994. Naquela memorável noite no Hotel Quinta Santa Bárbara, José Jayme narrou de improviso a biografia de todos os patronos da Academia. Como eu tinha em mãos um gravador, aproveitei para registrar o histórico evento. Quem quiser uma cópia de seu discurso, é só entrar em contato comigo.
Caríssimo escritor, gostei da sua mensagem de final de ano, com texto do professor José Jayme, filho do inesquecível Jarbas. E com base na matéria quero sugerir que, no ano que vem, vc publique algo sobre a vida e a obra do professor Hermano da Conceição, citado acima. Feliz Natal.
ResponderExcluirLinda mensagem de Natal, mistura de tradição, cultura e desejo de paz e harmonia. Pâmella F. Sena
ResponderExcluirAdorei a mensagem de paz no Natal. Fernanda Pires.
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