sexta-feira, 21 de abril de 2017

História de tio Zico


João Gonçalves Lopes (1898 – 1978) era conhecido como Zico, filho de Absalão Gonçalves Lopes (Seu Biça) e de Maria Jayme Lopes (Sinhá), neto do padre Simeão. Era um homem muito rico e esbanjador. Lavava a mula com cerveja numa época em que essa bebida valia o que hoje vale uísque. Depois que enviuvou de Adelaide Borges de Carvalho e ficou pobre, foi morar de favor na casa da irmã, minha bisavó Inácia, casada com Luiz Abadia de Pina (Lulu). Depois disso, entrou para o folclore da família. Até hoje, quando alguém fala demais, dizemos: “Você está parecendo tio Zico”. Quando pegava um desavisado para contar um caso, eram horas de repetições e detalhes angustiantes, e ele mesmo ria das piadas e respondia aos próprios comentários. Ficava dia e noite de paletó preto e óculos escuros. Às quatro da tarde, pontualmente, tomava banho e já se preparava para dormir. Certa feita, tio Mauro o levou ao cinema e comprou para ele uma porção de pururuca. Filme de cenas silenciosas, os espectadores concentrados e tio Zico ali, na primeira fila, de óculos escuros e croc croc croc na pururuca. Para descansar minha bisa Inácia, às vezes tio Mauro o levava para o posto de gasolina que tinha. Numa dessas alguém perguntou ao tio Zico se ele era advogado do posto e foi o quanto bastou. Tio Mauro lhe deu uma pasta de executivo, espetou-lhe um broche da OAB no paletó (sempre o mesmo) e ele ficava lá sentado fazendo pose. Não caberia aqui as histórias do tio Zico, então foi finalizar com uma clássica. Almoço da família de domingo, todo mundo em volta da mesa, tio Zico falando e comendo, e tando fez que conseguiu pescar uma mandioca frita com a manga do ensebado paletó. Detalhe: não percebeu.

Adriano Curado

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